sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Amanhã.




O amanhã chegará,

Tecido ao entardecer

No sonoro chiado das cigarras.

Se não for hoje,

Será outro dia.

Quando esta chuva

Desembrulhar o sol,

Permitindo assim

O passeio da luz

Sobre todas as almas

Que aguardam este abraço.

Não haverá temores.

Não haverá rancores.

Apenas uma esperança,

Dança agora nos nossos corações...

Gerson F. Filho.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sai dessa.





Melancolia vê se desvia,

Me erra! suma do cenário.

Vê se acha outra vitima,

Cansei de ser teu otário.


Ingratidão, meu prêmio.

Não vai ficar assim,

Mesmo no erro sistêmico,

Esqueço-te no botequim.


Não pense que acabei.

Meu fim não será teu riso,

Antes do sorriso já voltei.


Sou muito duro na queda.

Se a fórmula não se adéqua,

Peso? Não ajudo a carregar.


Gerson F. Filho.


Mais textos no Recanto das Letras.




segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tempos.






Insensatez me permita dizer-te:

Conclui teu tempo agora.

Fui estrofe na aba do bilhete,

Saia com dignidade vá embora.


Não me acompanhe nestes dias.

Estes são tempos de espera,

O destino vaga por ruas vazias,

Não temo o que desespera.


Mato a tempestade com tempo.

Na hora certa ela vai parar,

O céu ainda há de ficar limpo.


Sou o rio sinuoso que abraça.

Este que engana o obstáculo,

Na curva o desejo a lembrança.


Gerson F. Filho.



domingo, 12 de dezembro de 2010

Lábios de infinito.





Não importa amor, abraços podem ser,

Um sinal de chegada ou um gesto de partida,

E se nele couber uma dor, ou momentos de alegria,

Só o vento incerto do destino nos dirá.


Não fui eu que escrevi o corpo desta peça.

Se começar, não sei bem como termina,

Apenas peço que sendo assim então haja coração.

Sejamos tudo e o tanto que faltar para o total.


Não faz mal se meu e teu enredo não combina,

Há coisas que dão certo ou errado por pura cisma,

Um contexto que favoreceu a fome da opinião.

Agora amor vê se me consome, sou tua vítima.


Enquanto meu interesse ainda lhe favoreça,

Porque sou cafajeste, mas este é o melhor detalhe.

Aquilo que te instiga mesmo que te maltrate,

Pois no intimo teu lado meigo gosta desta dor.


Vai acabar um dia e isso você sabe.

Mas o perfume e a sensação irão além do detalhe,

Trará ternura como a tez da recordação.

Beije-me agora então com estes lábios de infinito.


Gerson F. Filho.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Contemporâneos 7.






A insensatez sempre me seduz.

No rígido perfil da noite

Busco mentiras encontro quimeras.

O silêncio da madrugada

Forra meus sentidos com os odores

De tanto vazio.

Meu compromisso mora em frente,

Sempre após o próximo passo.

Inalcançável desejo.

Minha vontade já morreu de sede,

Minha paciência: sepultei ontem.

Bem atrás do horizonte,

Enquanto minha determinação

Ainda uivava como cão vadio.

Agora; meus passos me levam

Ao âmago do anonimato.

Somente aquele garçom

Colocando as cadeiras sobre a mesa,

Teve a impressão de me ver passar...


Gerson F. Filho.


Outros ensaios contemporâneos no Usina de letras.





sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Contemporâneos 6.





O ontem foi embora: nem sequer me sorriu.

Deixou-me largado aqui

Neste agora de cara para o amanhã.

Os acontecimentos zombam da minha inércia,

A ocasião me abraça sarcasticamente.

Seria eu tão débil

E meu coração tão indigente,

Que serviria apenas para escárnio da multidão.

Jamais venci derrotas nunca derrotei vitórias,

Vivi vivo e viverei

Desafiando as certezas submissas.

Inquietude a única que nunca me abandonou.

Não me mostre o caminho

Alije-me da lógica.

Adoto controvérsias

Apenas para me divertir.

Não se preocupe

Eu sempre encontro a solidão.


Gerson F. Filho.



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Contextos da usura. Parte oito.





Cuide do seu naco, não feche os olhos.


O cheiro de vinhoto pairava na noite quente. Cheiro morno que induzia e conduzia o pensamento às latrinas cheias. Jaconildo fazendo suas obscuras previsões trouxe seu filho Beraldo, aquele abandonado pela esposa que o sustentava, para morar na casa de Leogácia. A justificativa era prestar alguma ajuda, pois Leogácia já não podia ficar sem companhia. Mas como uma coisa chama outra a realidade era que ele esperava a morte dela, e com isso haveria uma reivindicação da família pela casa, e neste caso ele assim estaria com o filho lá para sustentar a posse do imóvel e rechaçar qualquer um que viesse tentar dizer que a casa não lhe pertencia.


Tão certo como a chuva de fuligem que caia diariamente, na temporada da colheita da safra de cana sobre a cidade, ele ficaria com aquele imóvel. Afinal de contas ele casou por causa disso, de olho nas posses de Leogácia. Este era o objetivo real, e como abutre vigiava sua futura refeição que ainda possuía um sopro de vida. Ele bem sabia que ela faria o mesmo se a situação fosse invertida, os olhos cobiçosos de Leogácia sempre pousaram naquelas barracas do mercado. Mas aparentemente nesta disputa o destino tomou partido de Jaconildo. Sempre que o galo esquálido do vizinho cantava pela manhã, ele sentia esperança de encontrar o fato consumado no quarto.


Não ainda não. Não foi desta vez ainda. Pacientemente pedia para que o filho Beraldo vigiasse enquanto ele iria ao mercado. Na brisa da manhã, aquela que daria sobrevida a vegetação quando o sol devastador estivesse a pino, Jaconildo foi com sua bicicleta para o mercado verificar os negócios. Enquanto isso Leogácia, mesmo no fundo da sua condição, tramava mais um evento de discórdia. Natureza essa força indomável! A morte espera na esquina, mas ainda há tempo para mais alguma travessura. Aquele ressentimento rançoso, aquela sensação de derrota na disputa com Jaconildo era o que mais incomodava.


Alguma coisa precisava ser planejada, ela não iria deixar seu amado patrimônio para um estranho. Se pudesse levava tudo junto para a cova, porém isso era impossível então a partilha entre os filhos precisava ser estabelecida, mas aí morava outro grande problema: os filhos preferidos eram os mais problemáticos, os que possuíam mais identificação com a personalidade de Leogácia. Desonestidade congênita aquilo que iria tocar fogo no relacionamento entre irmãos. Não seria um jogo limpo, então o produto de anos de artimanhas agora acabaria sendo tratado como butim. Aquilo que na verdade era.



Gerson F. Filho.


Contextos da Usura anteriores ver aqui no Usina de Letras.




domingo, 5 de dezembro de 2010

Contextos da usura parte sete.



Sorria e dance com o encardido no mormaço.


Sublima na hora o suor que cai a terra naqueles dias de verão. Telúricas ondas são vistas dançando sobre a paisagem, que parece evaporar sob o sol impiedoso. Seria seu efeito aquilo que concentra o doce da cana, aquilo que faz do homem tão fervoroso ser no controle das suas posses? Faltava ali o frescor do equilíbrio, aquela aragem a refrescar o raciocínio. Leogácia viveu ali a maior parte da sua vida. No chão ressecado e poeirento plantou e colheu. Chorou e sorriu, e também viu o tempo ser consumido entre trapaças astutas que lhe trouxeram dinheiro, mas tornou seu corpo inconsistente. Para ela o limite teria ficado a quilômetros para trás.


Certa vez, ela, Leogácia fez negócio com um rapaz. Ele possuía um terreno, e ela uma moenda de cana. Acreditem ou não, ela conseguiu trocar a moenda pelo terreno. Bem; não sabia ela que o terreno provavelmente valia menos do que a moenda. Quando soube ficou enfurecida. O tal terreno ficava lá nos lados de Deus me livre, sem nenhuma estrutura, seu preço poderia ser comparado talvez nos dias de hoje a quatro cestas básicas. Não pensem que ela iria ficar com o prejuízo. O tempo passaria, mas dívida para Leogácia não envelhecia.


Para ela trapo e prego são sempre amigos. Sua filha mais nova Ludimila, aquela que fazia o trabalho pesado, a mesma que era surrada constantemente sem nenhuma razão aparente - somente aparente - porque Leogácia sabia muito bem porque fazia isso. Foi presenteada com o dito terreno. Presentão! Não valia nada, mas servia para jogo de cena. Afinal aquela era a filha mais dedicada, à custa dela Leogácia tinha economizado muito dinheiro que pagaria a pedreiro, servente pintor etc. Por que não fazer uma média utilizando nada? Para ela filhos só tinham valor se representassem lucro ou vantagem, como Ludimila havia casado e se mudado bastava por momento o engodo.


Mais de uma década se passou e Deus se lembrou de Deus me livre aquele lugar remoto na beira do nunca vi. Aquele lugar que valia o mesmo que político passou a ter importância. Tornou-se finalmente alguma coisa possível de ser transformado em um bom dinheiro. Ludimila nunca passou o terreno para o seu nome, a escritura, o serviço de cartório e mais o custo do deslocamento valiam mais do que o objeto em questão. Adivinhem o que Fez Leogácia? Tomou o terreno da filha alegando ter que ajudar a um neto um tanto destrambelhado que não conseguia manter o prumo na vida. Não venha sorrir para o demônio porque ele vai devolver o sorriso e se interessar por você.


A desgraça procura quem clama por sua companhia. Ludimila sabia que tudo aquilo não passava de outro jogo sórdido de sua mãe, portanto não esquentou a cabeça, quer ajudar quem não merece, então que ajude, afinal de contas, como prêmio, Leogácia vivia cercada de aproveitadores, e mesmo sendo muito esperta ninguém vence sempre. Quanto mais armações ela fazia, mais apareciam problemas para comer o dinheiro amealhado de forma maldita. Uma vida infame ela já levava. O jeito era deixar o destino cumprir seu curso, se meter nisso só atrairia coisa ruim. Distância da escuridão seria o melhor a ser feito. Apenas prontidão nas proximidades em caso da mãe precisar de ajuda, e mesmo assim se ela aceitasse.



Gerson F. Filho.


Contextos da usura. Sexto episódio.










Salgue sua vida com o açúcar da planície.


As sarjetas ao redor do mercado exalavam o cheiro característico de final do dia no mercado de peixes. A fragrância do entardecer naquele dia de calor sufocante era cortada com rispidez pelo corpo suarento de Jaconildo. Andar elétrico voltava para casa após conferir o andamento dos negócios no mercado. Um momento de prazer quando as vendas iam bem, o momento de ranger os dentes quando o movimento era fraco.


Então lá ia ele na sua bicicleta velha costurando os obstáculos e as armadilhas das ruas que a prefeitura insistia em não resolver. Sabem como é: cidade sem recursos, petróleo não dá lucro. Tinha que ser rápido porque na sua casa Leogácia o aguardava. Depois de anos passando ao puro café ralo e pão para guardar dinheiro, ela já não possuía massa muscular e estrutura óssea para sustentar pequenos passeios pelo interior da casa. Isso era preocupante.


Não seria a primeira vez que encontraria a velha Leogácia esparramada no chão sem poder se levantar, entre o quarto e o banheiro, nadando nas necessidades que não podiam esperar para encontrar a saída. Poderiam pagar alguém para cuidar dela? Claro! Mas imagina se iam fazer isso, nem ele e muito menos ela desejariam isso. Desperdício de dinheiro. A água lava tudo pensavam. Mexer nas economias dói muito mais do que um tombo de vez em quando.


De tanto fazer corpo mole e, vistas grossas, Jaconildo conseguiu que o filho mais novo de Leogácia iniciasse uma ajuda. Ela já estava se tornando muito cara para seus parâmetros, tinha que dividir essa carga com alguém. Olivário era o nome do caçula, aquele que segurou o rojão. Não pensem que era má vontade da família, se dessem dinheiro eles juntavam, se contratassem alguém para ajudar eles dispensavam porque consideravam desperdício. Qualquer moeda que caísse do bolso naquele lugar não chegava ao chão.


No final Olivário apenas colhia alguns frutos plantados no passado. Afinal ele tinha o sangue de Leogácia, não ia ficar sem passar a perna na própria mãe algumas vezes. Retorno agridoce, um pouco de sal no melaço grudento daquela relação. Negócios são negócios a mãe a parte. Na relação custo benefício talvez até estivesse ainda levando vantagem. Vida errática gostos exóticos preços corrosivos. Naquele calor insano da região, misericórdia seria a morte antes da ação.


Gerson F. Filho.


Ver também: Contextos da Usura / Contextos da Usura Parte 2 / Contextos da usura O peso do suor. / Contextos da Usura O ágio da Maldição / Contextos da Usura Parte 5.




sábado, 4 de dezembro de 2010

O espectador.






Reconheço sou estranho;
Não comungo com unanimidades,
Diferenças somam não subtraem.

Bisonho agora é o raciocínio.
Ser pasteurizado o objetivo da hora,
Não discorde somente aceite.

Então se a concordância for ríspida,
Passe azeite alienado de torniquete.
Sinta-se preso e ao tempo leve e desatado.

Pense: seja sozinho na solidão ética.
Ou se torne mais um membro da manada.
Decida agora antes de qualquer coisa.

Fingir fugir não é opção,
Fustigar o frêmito dos favores, falácia!
Grite! Se o sobressalto for vertigem.

Brinque na fuligem do impoluto.
Brinde ao passado galhofeiro,
Seria melhor ser inerte.

Um paquiderme no caminho.
Será que notariam o detalhe?
Manobras manipulam as massas.

Sou o espectador.
O cenário se deteriora veloz.
Está na hora de partir...


Gerson F. Filho.