sábado, 12 de março de 2011

Contemporâneos 11.




O sol do meio dia

Vaza por entre nuvens espessas.

Umedecida de suor

A ocasião pressente o caos

De mais uma tarde urbana.

Reflexos gritantes

Ferem a paisagem aguda das edificações,

Onde corpos assimétricos trafegam

Ignorando o seu reflexo tosco

Que sombreia um encardido chão.

Uma alma por um argumento!

Uma vida desperdiçada.

A troca diária de sensações por valores.

E o contraditório aplicado nas sombras

Onde fingem e se enganam por acreditar

Na própria armadilha.

O som aziago do transito,

Motores que assim como os ruminantes

Engrossam o ar com seus alívios.

Uma acácia, por favor!

Onde foi parar minha sibipiruna

Que me protegia de tanto cinza?

Meu sangue não é gasolina!

Preciso de natureza,

Para ter certeza

Que essa brisa que me afaga,

Não é a descarga de um caminhão.

Será que ainda estou vivo?



Gerson F. Filho.


sexta-feira, 11 de março de 2011

Duelo.








Então o clamor se desnudou.

E o sorriso assim se perdeu,

Como antagônico naufragou.

Mesmo opondo-se morreu.


Paradoxo não me abrace!

Odeio amando essa agonia,

Que sempre surge no dia,

Na luz da noite o disfarce.


Prumo! Dê o seu momento.

E se for por um argumento?

Que me abrace a solidão.


Amei toda a controvérsia.

Para fugir da dependência,

Esqueci por aí meu coração.



Gerson F. Filho.




quinta-feira, 10 de março de 2011

Gestos.





Ausência sou eu em mim.

Letargia que se faz,

Gotas de algo fugaz,

Inquietude do algo sem fim.


Fui à base do momento.

Indiquei a fase da lua,

Virei à via total e nua,

Quando havia sofrimento.


Só e ser só além do aqui.

Beber a sinfonia translúcida,

Ouvir do sol o tom em si.


Pois se não sou serei um dia.

A pantomima das letras,

Estética cênica, porém tardia.


Gerson F. Filho.



terça-feira, 8 de março de 2011

Uma homenagem ao dia internacional da mulher.





De Cecília Meireles:


LUA ADVERSA

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Perímetro do momento.




O fim do desassossego,

Significa morte resumida.

Paz silenciosa da partida,

Os últimos aís do enredo.


Tragam-me a inquietação!

Que me perturbe a hora,

Que me incomode o agora!

Dêem-me a tátil emoção.


Não dê destaque ao medo.

Diga ao perigo que fui cedo,

Deixe-me furtar a ocasião.


Para ser o frio da queda.

A agonia que reverbera,

Uma pancada no coração.



Gerson F. Filho.


Recanto das Letras.