domingo, 28 de fevereiro de 2010

Admoestação.





Não interprete o óbvio entenda-o.
A verdade pode ser tão pura,
Que teus olhos em clausura,
Não vêm a vergasta que aguarda-o.

Fatal o nome de um engano.
Lágrimas não trazem o passado.
A esperança um pote derramado,
Quando o destino desce o pano.

Não venha, pois me dizer agruras.
Alhures adverti contra os dissabores.
Preferis-te a vilania da ocasião.

Então curta a dor do seu momento.
A ti e ao teu corpo o látego,
O juízo reveste a alma da razão.

Gerson F. Filho.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Perplexa congruência.








Pendura minha alegoria no teu conceito.
Vê se faz do agora assim desse jeito,
Minha esquina dobra sempre depois da sertralina.
Não me aguarde após o fim.

Minha perspectiva vem do escuro.
Moro corro e morro sempre atrás do muro,
A incógnita sempre me sorri!
Vida essa me abraça sempre no ponto futuro.

Pressão; só se tiver apoio.
Não me leve a mal, do trigo sempre fui o joio.
Meu contexto nuca foi normal,
Sempre acreditei no amor e não no mal.

Enquanto isso a hipocrisia dança a luz da lua.
O sol não consegue esterilizar a pele nua,
Prefiro a loucura a essa razão!
Por isso meu caminho é a contra mão.

Prosaico ser prolixo na beira da concisão.

Gerson F. Filho.

Contextos da usura.






Amigos, este é o primeiro de uma série de contos que talvez vire um livro.



Baseado em fato real. Os nomes foram trocados, os lugares são fictícios. A simples semelhança com a realidade de muita gente não será mera coincidência.

Jaconildo, sujeito trabalhador! Levava sua vida sofrida de feirante na zona norte do Rio de Janeiro. Caixotes de tomate para lá, caixa de cebolas para cá, mulher e três filhos na casa humilde.

Beraldo, Odílio e Antúrio seus filhos, de trabalho, nem queriam saber. Assim foram criados por sua mulher Otília. Criados sob a norma de que: trabalho faz mal. Então neste contexto correu a vida. Jaconildo era um sujeito controlado. Para ele dinheiro sempre teve muito valor; não deve ser desperdiçado, nunca!


Dinheiro no cofre, felicidade garantida. Para conseguir dar alimento para seus filhos, certa vez Otília vendeu um botijão de gás. Aí sim! Jaconildo comprava outro, não tinha como ficar sem o gás. Alimentação; que desperdício pensava Jaconildo iria tudo para o vaso sanitário depois!


Por isso o resto da feira sempre participou do cardápio da família. Os anos passaram; seus filhos se tornaram a carga para a qual foram preparados um peso só. Sua mulher Otília adoeceu. Algum problema congênito, somado aos anos de vida sofrida drenaram a saúde daquela mulher.


Na porta da igreja, Antúrio pedia suas esmolas. Assim ele preferia, trabalho não era com ele. Odílio encontrou um deficiente físico para ajudar, e assim conseguia dinheiro para o cigarro empurrando a cadeira de rodas. Beraldo? Bem esse arrumou uma mulher para trabalhar para ele.


Sem estudo, sem preparo, sem perspectiva, não havia nada melhor para ser feito na vida daqueles três homens criados nas restrições de recursos. Educados na ausência total de limites no que diz respeito ao acumulo de bens. Sua mãe? Agora padecia as restrições de assistência, remédio custa caro! Não demorou muito, faleceu, que Deus a tenha.


Escorreu na hora mais um tanto de tempo, e como iguais se atraem, Jaconildo se casou novamente, só que agora com uma mulher tão controlada quanto ele. Se prosperidade acompanhasse economia, estes deveriam se tornar o casal mais rico do país. Leogácia, sua nova esposa fazia cesta básica durar três meses!


Café? Em um tanto de pó se fazia três dias de café. Não tenha dó porque se o feijão azedar, bicarbonato nele! O que vier depois no trato intestinal não será problema, lembre-se! O destino final justifica os meios. A dor de barriga é sempre menor do que a dor do desperdício.


Leogácia! Essa dava pernada em sombra e nó em fumaça. Como dois abutres agourentos, eles se estudavam, um esperando a morte do outro, contando com o possível lucro a ser auferido com a fatalidade. Certa vez bateu a porta um mendigo pedindo esmola. De fora ele gritou! Uma esmola pelo amor de Deus! Lá de dentro Jaconildo respondeu: Põe debaixo da porta, por favor!


E agora com o tempo escapando da hora, seu filho Odílio adoeceu. Provavelmente herança genética da mãe, ficou com problemas mentais, impossibilitado de andar. Beraldo cuidava dele, dentro da capacidade que possuía, ou seja, nenhuma! Já que sua esposa tinha sumido, aquela que o sustentava, então esse era seu quinhão.


Antúrio não mais foi visto durante anos, provavelmente morreu. Sua nova esposa Leogácia, devido a anos de má alimentação já não tinha forças para andar. Ele mesmo, Jaconildo também caminhava com dificuldade. A cova escancarada aguardava ansiosamente os dois, quem irá primeiro?


Mas como toda estória deve ter um final eletrizante, o filho de Jaconildo Odílio morreu. Então para arrematar ele enterrou o filho como indigente. Ficou baratinho, não custou nada! Velório, cerimônias para quê! Como Jaconildo disse: ele não tem ninguém mesmo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Escolhas.






Viver e conviver com a vida.
Algo que já não me basta,
Coisa que dói como ferida.
Abra-se assim a porta a saída.

Nos enigmas me perdi a tempo.
Meus sonhos não são sonhos,
A esperança perdeu o argumento.
Não pude decifrar meus danos.

Sendo assim não tendo sido.
Apesar de, e ainda parecido,
Meus dias sucumbiram e não.

Ainda resta um pouco disso.
Sobreviver pode ser relativo,
O flerte a dança com a opção.


Gerson F. Filho.

De ontem






Bom dia amiga e amigos!

Viva Orlando Zapata"



Saudade aquilo que já passou.
Saudade aquilo que não se finda.
O sentimento que aguarda no horizonte,
A surpresa que espera;
Sempre após a esquina.
Saudade o gosto daquilo que é ainda.
Pressuposto que vive na lembrança,
Mora no perfume do amor,
Portanto nunca morre.
Portanto nunca termina.

Gerson F. Filho.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Rebuscado.







Nega-me aos teus abraços o meu regresso,
Se algum dia a ti entreguei a insensatez.
Recuse ao meu olhar o encanto em sorriso,
Se me atrevi no amor não doar-te a vez.

Tenha meu apreço por conta de débil preço.
Pois ainda que nada o valha te dou assim,
Com a devida vênia seria o que eu mereço.
Oculto minha discórdia para o dia do fim.

Quando o quanto d’alma do corpo partir.
Tanto que me faça no momento o redimir,
Estender tuas angustias sentir a emoção.

Para que nas sensações rebuscadas vá bulir,
Enquanto tu me dizes o que não quero ouvir,
Pois de ti possuo tantas marcas no coração.

Gerson F. Filho.

Cidadania e o caos.




Escrevi este em 2006 porém continua atual.


Mesmo que seja um atributo comum a todo ser humano, o raciocínio, nos dias de hoje parece ter-se perdido na erudição dos homens. Porque, quanto mais avançamos no aperfeiçoamento da civilização, mais frágeis ficamos quando o assunto é a defesa da sociedade.

Como disse Arthur schopenhauer: os eruditos, em sua maioria estudam exclusivamente com objetivo de um dia poderem ensinar e escrever. Assim, sua cabeça é semelhante a um estômago e a um intestino, dos quais a comida sai sem ser digerida. Quando observamos que a lei fraca não é lei, porque se ela é fraca, torna-se inócua, percebemos que o homem quando ocupa todo o seu tempo lendo e estudando, não raciocina por si. Mas toma emprestado o raciocínio dos outros. Isso para citar novamente o filósofo.

Hoje, com os acontecimentos, com a criminalidade tomando conta do país, temos a certeza de que possuímos uma lei fraca, inadequada aos dias atuais. Esta lei torna a sociedade refém dos grupos e associações criminosas, que proliferam por aí. Mas parece que ninguém vê. Apesar de possuirmos juristas renomados, esses homens, ao que parece se afogaram em erudição, permitindo que a lei não tenha a renovação adequada para o combate ao crime nos nossos dias.

Por favor, leiam menos, estudem menos, para que surja espaço ao raciocínio lógico. Uma lacuna onde floresça a idéia que tire a sociedade deste canto. Porque se nada for feito, nem este canto existirá mais, para refúgio ao cidadão de bem. E sem isso não seremos mais cidadãos, mas sim escravos do crime organizado.

Gerson F. Filho.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Inquietude.




Procuro viver sempre além do impossível:
Um amor que reverbera o sorriso.
Uma paixão vertiginosa como precipício,
Os cálidos momentos dos abraços,
Todas estas loucuras que teus olhos me dizem.
Sim! Impossível tornar-me finito.
Sim! Meus sonhos não têm tamanho.
Calço o fundo do infinito com meus versos;
Dedico-me a ser na tua boca a palavra.
Aquela que escapa da tua alma,
Aquela que me diz enfim;
O quanto seus segredos são ocultos.
Procuro insistentemente o desassossego
Para ser intenso e eterno nesse mundo de limites.

Gerson F. Filho.

Ornato anárquico.




Esoterismo administrativo.
Pajelança paranóica,
Não sou oráculo sou um idiota.

Minha vida foi suprimida.
No estômago do tempo,
Na verdade ela foi digerida.

Enquanto o vento se engarrafa
O destino se aplica.
Beija-me antes da saída.

Não pergunte! Exista.
Muito embora este ato deixe pista,
Exequível ser existencialista.

Sendo assim se aqui estiver lá,
Faça de conta que lá não é distância.
Demência! Santa ignorância!

Dar asas ao ignoto
Coloca-me na periferia.
Da massa virei subproduto.

Então sendo estulto,
Sou estumado e assim sorrio.
Cultura? Hoje! Apenas adereço.

Ser boçal é o barato do preço.

Gerson F. Filho.



Sinais.





Opaco horizonte ocultas armadilhas.
Ante o rosto de prognósticos turvos,
Fecham-se nuvens cerram-se vigílias.
Abriu-se o baú em gritos desnudos.

Enquanto do labirinto vem à fera.
Aspergida em sedução sobre néscios,
Unge-se no arbítrio uma quimera.
O vermelho em dor atingirá os ossos.

Não será doce o teu futuro, sujeito!
Engodo foste teu pão, elemento!
Ouvirei teu clamor na escuridão.

E se após, ao menos sobrar o chão,
O que de ti restar soprarei ao vento.
Obliterado será teu nome, impostor!

Gerson F. Filho.


Basta.






Só sentir-te em mim; meu oposto.
O gosto intenso da contradição;
Um rosto que paira na sedição,
Onde a vida murmura o encanto.

Teus lábios porta aberta; o infinito.
Enquanto o delírio é a sensação;
Vindo de ti a insurreta emoção,
Essa que me faz o teu instrumento.

Se no instinto apeia o intelecto.
Caí então à instilação do espectro,
A alma indo fundo ao coração.

Dissoluto este destino nevoento.
Ambientado ao sutil acalanto,
Vivendo meu amor; em ilusão.

Gerson F. Filho.

O preço da ausência.







Outro dia, aproveitando uma oportunidade daquelas que só a internet pode oferecer, consegui encontrar um velho amigo dos tempos de adolescência na rede. Passamos a nos corresponder, trocar fotografias dos tempos idos, ótimos tempos, diga-se de passagem, pois se podia caminhar pelas ruas do Rio de Janeiro sem grandes sobressaltos.

Conversamos sobre assuntos vários futebol e etc. A esperança do meu time de participar da “Libertadores da América”, a fé que ele possuía no seu time de não cair para a segundona, e tantos desdobramentos outros que poderiam estar contidos neste grande intervalo de tempo entre nossos caminhos, que rolou ante a inclemência do calendário.

Até que na troca de correspondência, enviei um de cunho político. Nada demais, apenas uma piadinha que circulou na NET sobra à premiação de Obama pelo decantado Nobel. Para minha surpresa veio à resposta: “é a vida, você se importa com isso?”. A princípio isso apenas me atordoou, mas lentamente serviu para interpretar as diversas facetas da nossa época.

O que realmente faz um povo poderoso é o seu nível de compreensão daquilo que o cerca. A busca incessante pela informação, o vasculhar persistente pela confirmação da informação, a comparação dia a dia, de tudo que chega aos nossos olhos e ouvidos. Só assim teremos um parâmetro adequado para decidir em quem depositaremos a confiança para gerir os nossos dias.

Então, é pertinente lembrar que; o raciocínio “é a vida, você se importa com isso?” contribui sobejamente para: o imposto extorsivo que se paga, a fila interminável nos hospitais, a criminalidade que cresce dia a dia, a falta de opção profissional para a nossa juventude, e finalmente para o maior de todos os riscos; a perda da liberdade.

Viver somente por viver, sem a preocupação com o cenário que se desenha ao nosso redor pode parecer de grande comodidade. Mas terá um preço. E neste nível é que realmente vive boa parte da população do nosso país. Preocupamo-nos com os obstáculos do momento, com as pequenas grandes coisas do cotidiano, mas no palco da vida não há espaço para descanso, quem ousar o cochilo pode acordar sem possuir mais o direito de dormir.

Alguém terá pensado por você, alguém terá decidido por você que forma de governo nós teremos. Onde somente alguns decidirão, e somente alguns irão usufruir das benesses do estado, e certamente, a grande maioria estará alijada de qualquer processo decisório. O futuro com liberdade deve ser construído no dia a dia. O maior tesouro da humanidade, a democracia, deve ter guardiões zelosos, e o bom guardião é o guardião bem informado. Nos nossos dias a imprensa de modo geral, televisão, jornais e revistas, estão de alguma forma com algum nível de comprometimento com o poder vigente, então, pesquise, procure se informe. A internet atualmente é a ferramenta ideal.

E enquanto tivermos um processo eleitoral entre candidatos de diversas tendências, procure aquele que realmente estiver comprometido com os instrumentos democráticos. Lembre-se, alternância de poder, o verdadeiro tônico da liberdade. A pitoresca premiação de um homem que ainda não cumpriu efetivamente o que prometeu mostra em que tipo de tempos nós vivemos. Que ele cumpra, são meus votos, e que lhe seja dado o devido retorno.




Gerson F Filho