sábado, 27 de março de 2010

Laços temerários.






Existem momentos que nos levam a pensar com seriedade o quanto pode ser maleável o discernimento humano. A compreensão do que é certo ou errado. Normalmente todos dizem prestar apoio ao bem, será verdade mesmo? Vejamos: indivíduos são aprisionados por motivos ideológicos, seu crime; pensar diferente de um sistema. São torturados e sob a mais completa indiferença internacional resolvem então fazer greve de fome. Morrem, e por mais inverossímil que pareça há gente que pensa que eles estão errados. Estão errados por pensar diferente. Por não concordarem com uma ideologia. Essa gente aceita se sujar com um crime, a se tornarem criminosos e assim abraçados ao arbítrio assinam o compromisso com um assassinato.


Tomar conhecimento de uma ilegalidade, de um crime ou de qualquer atitude antiética e não se posicionar contra, transforma esse alguém em cúmplice de tal processo em curso ou já realizado. Seja no caso da repressão a opositores políticos ou o acobertamento de casos de assédio sexual a crianças. Não há como fugir desse compromisso. Se souber e não tomar atitude contra ou pelo menos se manifestar contrário a ela, passou a ser um criminoso também. E atitudes assim acabam por incentivar àqueles que têm o mal no coração. Hoje vi nos noticiários professores em São Paulo queimando livros. Será que estes “mestres” têm noção do que estão fazendo?


Queimar livros foi uma das idéias de um dos regimes políticos mais monstruosos que já existiu neste planeta. Essa atitude partindo de professores é inconcebível. Eles, não podem alegar ignorância a respeito deste gesto. Que tipo de gente estamos cevando nestes nossos tempos? Estamos caminhando a passos largos para uma situação intolerável. Se quem dá aula está no limite inferior da civilização, como serão os alunos que são guiados por essa cepa maligna? Se o objetivo destes elementos era chamar a atenção para uma causa, eles conseguiram! Queimaram de vez o filme da categoria e de qualquer pessoa que eles apóiam. Porque pela simples lei da associação, o procedimento deles vai colar em quem se manifestar favorável a essa insanidade, e se houver silêncio, o ditado popular já diz: quem cala consente.



Terá sido por puro desespero? Haverá aflição nestes corações pelo fim de uma época? Se for verdade deveremos esperar por muito mais, deveremos aguardar por uma enxurrada de atitudes insanas por parte daqueles que pressentem a derrocada de um ideal que julgaram eterno. Mas, tropeçou nos devaneios e atitudes tresloucadas daqueles em que depositaram sua confiança. Para essa gente posso dizer que; caso percam a eleição, a democracia, aquele regime que eles tanto odeiam vai permitir por processo eletivo à volta ao poder. Isso poderá ser saudável para eles. Como acredito na recuperação do indivíduo, talvez; quem sabe eles reciclem sua ideologia e assim a transformem em algo mais humano. Na verdade por processos químicos e biológicos é possível transformar esgoto em água de boa qualidade.

Gerson F. Filho.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Põe na conta.





Elástica súcia,
Dialogue com teus flatos
Esféricos exatos,
Indecorosos.
Onde teu intuir ignóbil
Alimenta a repercussão boçal
Das levianas atitudes.
Dance! Sorria!
Faça de conta que:
Por opinião não se morre,
Mas ainda assim;
Mata-se.
Com o apoio da tua mão.
Ignorar!
Não habilita a fuga,
Sob o sol a inanição
Combate o arbítrio.
E você sujeito?
Sem escrúpulos,
Não sente o sangue da vitima
No bife que consome.
Indiferença!
A sócia depravada
Do crime.
Não diga não sei,
Foi posto na sua conta.
Não regateie na hora de pagar.

Gerson F. Filho.

domingo, 21 de março de 2010

Detalhes.







Encontrei-me entre caminhos.
As opções me seduziam com seus atributos.
Mas sem você no amanhã,
Meu futuro será apenas desconstrução.
Onde haverá dignidade?
Se a ausência dos teus lábios me matou.
Qual rumo; deverei seguir?
Se não existe vida nos meus próximos passos.
Ao menos, resgate-me com um olhar,
Diga de forma absurda
O quanto o passado ainda ecoa.
Não meça o sentido com a razão.
Talvez no teu coração
Um último momento de amor,
Venha a ser minha vida
Resumida, entre tantos detalhes.
Não terá sido em vão.
Assim não precisaremos perguntar por que;
Em alguma circunstância
O amor nos aproximou.

Gerson F. Filho.

domingo, 14 de março de 2010

Contraponto.





Na monotonia dos descalabros,
Sorrio entre sonhos que sucumbiram.
Minhas hipóteses de futuro
Morreram antes da esquina.

Vivo um tempo sem sentido.
Coisas absurdas caminham no cotidiano,
Mas ninguém vê, ou faz de conta que não.
Assina-se hoje o pé da página em branco.

Sem tamanho é a indiferença.
Nada mais parece chocar,
O inominável dorme em várias casas.
A morte de inocentes é o trivial.

Lutar por um ideal virou crime,
E a multidão concorda com o acinte
Que mora nos porões elásticos
Da falta de moral.

Propina trambique e tubaína,
São servidos a francesa nos jornais.
E o povo o que faz?
Rebola ao rit do momento.

Colunas subornadas
Pontuam com adereços o noticiário.
Contornam o escrúpulo com retórica,
Sabem mas não dizem.

E se contam tergiversam,
Evadindo-se da verdade da opinião.
O que sobrará para o amanhã?
A carcaça de uma nação!

Gerson F. Filho.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A sustentação.





A sustentação.

Pátria minha base meu chão.
Algo além das ideologias,
Aquilo que não cultuo em vão.
Nela não cobro regalias.

Meus avós estão aqui no seu pó.
Meus pais nela descansam.
Meus filhos cá ainda caminham,
Meus netos; serão dela e só.

Não aceito a nódoa do ato vil!
Rejeito no todo; a trapaça sutil,
Que venha sujar o seu brasão.

Neste refúgio me tornei alguém.
Com liberdade e paz assim se fez,
O rincão que se chama Brasil.

Gerson F. Filho.




A cor do momento.

Puseste-me entre desejos.
No olhar expus a alma,
Na respiração, ensejos.
Enquanto o corpo clama.

Ao menos, oferte o beijo.
Que então seja agora!
Seja de ti o lampejo,
O frisson de um agora.

Impulso de uma vontade.
E que após seja verdade,
Aquele calor no coração.

Pois no tempo vem a vida.
E entre bocas aturdidas,
Passeia a cor de uma paixão.

Gerson F. Filho.

terça-feira, 2 de março de 2010

Aquém e um tanto além.




Desejo: aquilo que consome.
Um algo que dita à regra,
Uma coisa que deixa insone,
Bem na alma reverbera.

A tensão só dos momentos.
Aquela ansiedade farta,
Fim dos meus argumentos.
Calor que bem desgasta.

Então a ti meu vocativo:
Ouça meu coração tão ativo.
À vontade, é inclemente!

Uma angustia! Nestes tantos,
Outros deslizes açodados.
O ser e não ser tão insistente.


Gerson F. Filho.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Psicodrama psicodélico.




O plano transmuta-se em sua textura.
Meu contexto não me disse a razão.
Será que essa época não mora em mim,
Ou no esgarço do agora perdi a paixão?

Ouço opiniões contraditórias.
Vejo o medo aflorar nas tendências,
Reminiscências se impõem apesar de tudo
Mesmo tendo falta de conteúdo.

O temor dirige a mão que vota.
O receio perpetuará uma vil condição.
Temerário o conceito morto,
Liberdade psicológica tornou-se um talvez.

Desconhecido o algo de odor atrevido.
Aquela coisa bandida que instiga.
Meu clamor que amplia essa instância,
Uma sacudida na vasta ignorância.

Os rotos trajes da minha alma
Não admitem lacunas na contradição.
Não existe como se associar ao ignóbil
Sem adquirir o cheiro da podridão.

A cota adquirida nas evasivas,
A ti pertencerão mesmo que escondidas.
Não pense que serei teu álibi!
Serei um digno espectador do teu fim.

Pereça então nas entranhas do que te engoliu.
Assuma o teu lado pusilânime,
Dedique-se com intensidade ao óbvio.
A frivolidade do teu destino.



Gerson F. Filho.

Contextos da usura parte dois.





Dinheiro fruto da desgraça não rende, evanesce.



Elpídio, lavrador danado! Teve vários filhos e uma filha, talvez por premonição, quem sabe; tentou certa vez afogá-la. A criança foi salva pela mãe. Leogácia era o nome da menina, muita luta ainda surgiria na vida daquela filha do noroeste Fluminense. Definitivamente no alagado da lavoura de arroz não morava o seu sonho.


Então cedo se casou com o soldado da polícia militar Francinaldo. Sujeito arredio e mulherengo bom marido não seria, mas para fugir da roça, servia. Não custaria barato este ato. Mas desde que não valesse dinheiro o resto estava no jeito. Essa seria uma característica que acompanharia e moldaria sua vida. Leogácia, esperta e econômica!


Como já podia ser previsto, Francinaldo, engravidou Leogácia e foi morar com outra mulher. Começava o enredo, menina esperta, com certeza não deixaria barato, vingança e usura, seria escudo e lança nessa longa batalha. Seu marido aparecia de vez em quando para assinar o ponto, deixar “um qualquer”, e logo após voltava para as amantes.


Para sobreviver com alguma dignidade Leogácia lavava roupa pra fora, namorava um sujeito aqui e ali, se é que há dignidade nisso. Mas foi sua opção, a distância da lavoura era que lhe fazia feliz. Francinaldo, esse criou seis filhos, porém seu, somente a primeira. Se ele sabia? Ou dava importância a isso? Ninguém sabe.


Com muita economia e sacrifícios inomináveis Leogácia conseguiu comprar terreno e construir uma casinha. Porém todo o sacrifício tinha acentuado terrivelmente seu senso de economia. Agora, para ela dinheiro era sagrado! Cada moeda dada em pagamento correspondia a uma lágrima.


O tempo cobra seu preço, os momentos de alegria na vida de Francinaldo tinham passado. Doente aposentado retornou em definitivo para Leogácia. O inferno não é um bom parâmetro de comparação para descrever a situação. Leogácia cobrou cada mau momento, gota a gota, dia a dia, noite a noite. As mulheres que tanto o amaram, não o quiseram no fim.


Houve delírio na sanha para economizar o máximo possível o soldo de aposentado de Francinaldo. O Único objetivo na vida agora era poupar. Comida era supérfluo, remédio só se o caso fosse de morte, pois enterro custa mais caro. Seus filhos mais velhos, os filhos homens foram colocados no ônibus para o Rio de Janeiro só com o dinheiro de ida. Que dessem um jeito, a casa de algum parente, por acaso poderia lhe servir de abrigo, na concepção de Leogácia, dar comida a dois marmanjos era muito desperdício.


No fim o serviço militar os salvou do pior. Sua filha mais velha casou, sobraram três filhos, ainda um grande foco de despesas. Francinaldo, com enfisema pulmonar sofria com a falta de ar, com os discursos intermináveis de leogácia, jogando na cara dele dia após dia, a responsabilidade por aquela situação. A morte lhe cairia bem, mas ela ainda iria demorar um pouco.


Os filhos que sobraram penaram, a mais saudável foi transformada em faz tudo. De empregada doméstica a servente de pedreiro. Tudo na casa era com ela, e ainda tinham as surras constantes. Qualquer motivo era motivo para ser surrada. Tinha que pagar pela comida com trabalho, o trabalho dela economizava dinheiro, nada! Absolutamente nada poderia sair de graça naquela casa. Essa foi salva pelo casamento.


Os outros dois tomaram seu rumo, a filha se casou, não foi feliz, mas isso já é outro caminho. O filho caçula também se casou, se formou e convive com os fantasmas dessa vida. Ninguém consegue sair incólume de uma jornada destas. Enquanto isso, o saldo bancário de Leogácia ia muito bem obrigado. Mas nunca era o bastante, havia uma necessidade insuportável de poupar cada vez mais.


Prazer? Custa caro, o regozijo mora na economia! Para o usurário a dor da penúria acaricia a alma. Mas a colheita chegou, e seus filhos que partiram um dia começaram a precisar de ajuda, e mesmo com muita resistência iniciaram o consumo do que por tantos anos foi amealhado com suor e lágrimas. A saúde arruinada também cobrou seu preço.


Francinaldo sucumbiu ao tempo e as cobranças do passado. Faleceu; finalmente o descanso, se ainda há o que pagar em alguma possível vida futura esse resíduo deve ser pouco. Não demorou Leogácia já arrumou um pretendente, deitou os olhos em um feirante, ou melhor, talvez nas barracas de feira dele. Jaconildo era seu nome. Sujeito trabalhador e assim como Leogácia, um cara muito econômico.


Este já é conhecido da primeira parte do: contextos da usura.