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Sensações e desvios.
Outro dia dormi de vinte e uma horas até dez horas do outro dia, confesso desde a juventude não conseguia essa proeza, acordei até negativo e ressabiado com a realidade. Não sou de jogara toalha e desistir mas essa era a sensação presente. Mas que o cenário atual incentiva a desistir isso é uma realidade. A textura desse agora está tão deturpada que ao me ausentar mais um pouco desse mundo a sensação de náusea no retorno se torna momentaneamente predominante. Sou intuitivo, sim, para vocês normais que não possuem essa característica isso pode parecer uma deformidade, mas posso garantir que essa ferramenta adicional que possuo me foi muito boa em vários momentos da vida. A premonição incluída na estrutura da alma que vigia com olhos antecipados um futuro que os idiotas acreditam não existir. Mas é assim, convivi uma vida inteira com isso e posso garantir, se eu soubesse como aprimorar já teria feito, mas isso surge apenas em golfadas episódicas. Então, ter me ausentado dessa realidade por tanto tempo e ter voltado me causou desconforto. Isto aqui é um grande hospício, garanto que o outro lado que frequento é mais plausível e civilizado. E nesse quesito Kafka e Salvador Dali concordariam comigo, em tempos remotos eles também não aceitavam a textura dessa realidade. Sim, para os “normais” somos estranhos habitantes de uma volatilidade implícita em nossas almas perturbadas para conviver com a decrepitude de tantos momentos incompreensíveis que o agora apresenta. Não que eu tenha sequer vestígio do talento deles, mas tenho meus momentos de perturbação. E se a loucura é um linimento da ocasião estou apto para também ser louco no perímetro da razão. Que eu me envolva nesse bálsamo circunstancial para alívio das minhas feridas intelectuais, conviver com a loucura se torna insalubre e o louco não está em si, não frequenta os dois universos possíveis, como bem definiu Jung. Pragmatismo? Ah eu tenho, até que a disparidade de conceitos ultrapasse o sincronismo aceitável de circunstâncias aleatórias para unir os conceitos heterodoxos desse perfil humano e decadente. E assim, nesse lugar onde como um cantor popular disse que mentiras sinceras confortam não há muito o que fazer a não ser prosseguir tentando oferecer cultura de boa qualidade que em algum momento fortuito encontre a pessoa certa. O vício pela ilusão se tornou predominante, abrangente e ocupou a realidade implacavelmente para impor seu estilo perverso que unta toda superfície dessa aventura cósmica. Essa falha sistêmica, metódica envolveu a circunstância e se apresenta como um vírus danoso ao mundo que ocupa. Essa área que nos domina, a comunicação onde esse vírus se alojou surgiu nos primórdios da espécie humana, ao emitir sons e dar-lhes significados criamos a linguagem. Primeiro padrões rústicos e simplórios, depois com o passar de eras um aprimoramento aqui e ali, até que surgiu a ideia de padronização e registro através de símbolos. Desenhos cuneiformes, hieróglifos, ideogramas e letras que hoje no ocidente usamos para vários idiomas. Os cuneiformes também eram usados assim para vários idiomas. Segundo os acadêmicos Aristóteles disse que a linguagem é o som com significado e Chomsky prefere significado com som, eu prefiro definir como a porta de saída e entrada da alma, pois sem esse recurso estaríamos presos em nós mesmos, sem a possibilidade de comunicação, interação e convivência mais complexa. A linguagem e seu registro através de símbolos nos deu o assentamento histórico e a possibilidade de aprender com os antepassados, acumular conhecimento e cultura. A taxonomia da linguagem proporciona através da sua classificação o incremento de recursos criando uma semântica mais refinada e apta para interferir na realidade com novos recursos de abordagem linguística para diversos fins. A evolução nos trouxe até aqui, com uma complexa arquitetura de linguagem para a ocupação de espaços e domínio da realidade. E sendo assim, a manipulação do contexto se torna plenamente possível ao direcionar com palavras o sentido de toda uma população com subterfúgios e truques da palavra dita, de modo a criar realidades que mesmo sem sustentação se multiplicam com abundância. É o caso da experiência ideológica, onde discursos doces ocultam objetivos malignos e sob esse manto ilusório vendem a desgraça ao povo. Não se deixem enganar profissionais lidam com essa ferramenta, eles não possuem ética ou limites para alcançar seus objetivos obscuros. Uma pessoa despreparada não consegue sentir a malícia contida no discurso e na aparência que vendem os relacionamentos.
Pensamos, logo existimos disse o filósofo, mas dentro desse projeto existe método. Chomsky cita: “mas propriedades fundamentais do design da linguagem indicam que uma rica tradição está correta em considerar a linguagem como sendo essencialmente um instrumento do pensamento”. Então, se pensamos e existimos e aprimoramos de forma bem diversificada e abrangente com diversos fins: de educação, de afirmação cultural e de domínio das massas. Nos comunicamos e assim aprimoramos essa qualidade fundamental. Mas nós somos bem complexos, muitos não sabem mas temos outro cérebro dentro de nós, o intestinal. Chamado de sistema nervoso entérico, um local independente de integração e processamento neural. O “cérebro intestinal”, sua estrutura de células e componentes são muito parecidas com as do cérebro. Há mais células nervosas no intestino do que na espinha dorsal. São 100 milhões apenas no intestino delgado. Toda essa abordagem está no livro de Noam Chomsky de título Que tipo de criatura somos nós? Onde ele mostra a complexidade desse ser que conhecemos como humano. Então, agora você descobriu que possui dois cérebros dento de si, procure utilizar para pensar sempre o de cima e deixe o de baixo ocupado com seus afazeres específicos de origem, ele já te muito trabalho para manter seu corpo em condições saudáveis de vida. Saiba que viver não é um equívoco, e que se você está aqui algum propósito tem, todos nós temos, não há ociosidade no universo e muito menos fomos construídos de forma sofisticada para fracassar. Claro, para aprimoramento os testes, ilusões e truques farão parte da jornada do cotidiano. E dentro desse objetivo talvez meu propósito seja oferecer para vocês o conhecimento que não tiveram acesso. Em doses homeopáticas, mas como um incentivo para que procurem mais. Espero conseguir inserir esse hábito na rotina de vocês.
Gerson Ferreira Filho.
Citação: Noam Chomsky. Que tipo de criatura somos nós? Editora Vozes.
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