quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

O Tear das circunstâncias.

 

                                                  Image by Sabine Van Erp from Pixabay.


O tear das circunstâncias.



Não sendo suposição, pertenço a mim na plenitude do contexto. Então, que me seja consentida a magia efêmera de um momento poético em meio a tanta opressão, para que do fato eu narre o propósito de toda circunstância que me reveste nessa ocasião. Para que eu tenha lucidez perene apesar das armadilhas de um amor baldio, vazio de todo conteúdo impróprio à razão. As questões empíricas bailam em fórmulas assanhadas e esquizofrênicas ao regalo de tantas experiências controversas acumuladas nesse espaço limítrofe ao tempo que nos envolve. A razão extenuada já assovia em seus estertores na insuportável invasão de sua lógica por um oceano de absurdos esfomeados. Como num enunciado supostamente e fantasiosamente poético de uma estória imaginativa: “tão sombria é a traição dos homens”. Os homens, perdidos entre circunstâncias, se aniquilam não só fisicamente, mas intelectualmente entre ilusões fortuitas e devaneios abrangentes ente a urdidura e a trama do tecido do espaço tempo, nossa irremediável morada onde é impossível se excluir desse contexto, nós somos ele, e nessa força que foi oferecida seja grato pela oportunidade de diferenciar-se e possuir uma identidade ocasionalmente nesse universo. E se assim somos a realidade então permitimos que fossemos compelidos ao salto no escuro das atribulações pernósticas, essas que desconhecem sua própria profundidade, proporcionando uma queda eterna sem alívio para a agonia da sensação do trajeto. E ao relativizar e atenuar os acontecimentos com flutuações semânticas apenas se presta colaboração com o arbítrio, legitimando-o com a passividade dos fiéis eunucos que guardam as preciosidades do sultão. Não reconhecer plenamente a anomalia, atuando como apenas um narrador das circunstâncias, oficializa o que não deveria ser aceito. Não se apaixone pelo inaceitável! Pode ser, que circunstancialmente você venha a sentir falta do lenho no seu lombo, assim como um discípulo de Masoch que implora pela carícia da chibata. Porque saudade só se tem de um bem querer, de um evento significativo para a alma, e daquele sorriso fortuito entre predestinados a se amar. Não se empenhe em defender o que já está perdido, assuma o cenário e se reintegre na nova realidade, você perdeu abrangência de querer e poder. Tutelado estarás, quem sabe, pelas próximas décadas, ou quem sabe, por toda a vida. Então, sobreviva nas metáforas específicas da construção de um sonho onde sua alma poderá se abrigar, do rugido destemido das blasfêmias oportunistas do cotidiano decadente. Excluir-se do contexto, e diluir-se na hora mais amarga e difícil para garantir uma reestruturação interna sadia, mesmo na hostilidade dos espaços aliterados com a cadência de um clamor insano que atraia para o erro.


Precisamos parar com essas coisas de alimentar sensações e esperanças que não se concretizam, apenas roubam energia, sim, sublime-se em alternativas, em hipóteses revestidas de loucas conjecturas, onde seja possível apaziguar o vazio com estruturas de um amor impossível que se não for aqui estruturado em detalhes de uma ocorrência pessoal não será em lugar nenhum. Concentrar-se na trivialidade do cotidiano restrito, expandindo-o a ponto de ser universo para toda sua intensidade incontida e diversificada que não pode por lei ser exposta ao mundo real. Duplique-se no pior momento e ofereça apenas um simulacro de si mesmo ao arbítrio, eles merecem possuir apenas a versão, e não você. A sua intimidade será sempre e apenas sua, fora do domínio dos degenerados e dos patrulheiros do caos. Precisamos mostrar aos medíocres que mesmo no protagonismo deles temos alternativas fora do alcance de seus longos braços. E se seus passos oferecerem apenas o vazio ocasional de hipóteses previamente consumadas na penúria de valor, estará assim negando a eles o que tanto desejam, representatividade real. Introjetado então, nesse universo de amor-próprio não se dê a quem não merece nem ao menos a tua simples atenção. Diga o que for necessário apenas, nossa situação chega a ser quase poética, como no magnífico trabalho de Virgílio: “Se há no céu providência e piedade, paga-te o céu com merecido prêmio, a ti que matas às paternas barbas, e estes cabelos brancos profanas e enxovalhas!”. Sim! Somos a Troia do nosso tempo, invadida, profanada e destruída que assiste sua glória em colapso por decisões erradas de um passado frívolo e irresponsável. Pois iludidos em suposta segurança desmereceram o risco e se perderam nas consequências. Assim como eles, os troianos, desdenhamos dos adversários e pagamos o preço, portanto, tudo passa a ser apenas sobrevivência e adaptação. A busca de sentido e de alternativas sob as asas do arbítrio e da escuridão profunda. Não há perspectiva visível de salvação no momento das cercanias estressadas com suas próprias preocupações, talvez, apenas preces ao nosso fim sejam lançadas. Citando novamente Virgílio: “Não penses em dobrar com rogo os fados. Mas por conforto e alívio atento escuta; dessa comarca, instados por assombros, hão dos vizinhos rezar por teus ossos, com dons solenes tumular-te, e o sítio”. Apenas o réquiem teremos como abrigo, entretanto, se a morte ainda verdadeiramente não nos encontrou, há alternativas nessa premissa. Portanto amigos, estão apreciando a desenvoltura da nova administração? Não reclamem, vai piorar, e muito. Eu sou velho o suficiente para ter vivido no Rio de Janeiro sem geladeira por um período, minha mãe tinha uma caixa de madeira forrada com serragem e jornais velhos, e sempre comprava um pedaço de barra de gelo equivalente a três quilos no geleiro, sim meus amigos, em tempos das geladeiras serem uma raridade apenas para gente muito rica, este comércio existia. Uma loja que vendia apenas gelo em barras para um grande público, pois a maioria não tinha geladeira. A caixa era onde se conservava leite, manteiga e qualquer coisa que precisasse de refrigeração. Será que o governo atual eleito vai também trazer de volta os fogões a querosene? Sim, o fogão daquele tempo, virada dos anos 50 para os anos 60 era a querosene, combustível comprado na carvoaria do bairro. Se não me engano era da marca Jacaré, tanto o fogão quanto o combustível. Vejam amigos, os socialistas que nos governam agora estão em vias de proporcionar um ar retrô ao país. Faltaria apenas ressuscitar os bondes elétricos daquele tempo remoto. Que desfilariam novamente pela cidade com sua cor característica verde musgo e com seu deslocamento desengonçado e barulhento, pelas vias da cidade. Passaram-se anos para minha mãe conseguir comprar uma geladeira Clímax de segunda mão. Não era roça ou algum lugar distante, era a zona norte do Rio de Janeiro.


Eu sei rapaziada, vocês hoje não fazem ideia dessas dificuldades que um dia foram o cotidiano desse país, mas as personalidades que hoje nos comandam tem uma paixão pelo sistema cubano de gerenciamento de país. Sentiu o salto que dei, da poesia para a realidade? Pois é, esse desconforto que você sentiu será mais intenso quando essa gente conseguir fazer o país retroceder uns 60 anos em oito, ou talvez mais. Ah, eu esqueci: eu fiquei com minha mãe na fila do Pague Menos esperando o caminhão de arroz e feijão chegar com a carga para que pudéssemos comprar um quilo de cada produto. Se mantenham calmos, é uma questão de adaptação, para matar o tempo, depois de tirarem do ar todas as redes sociais teremos ainda o baralho para um carteado, o dominó, e nos fins de semana aquele jogo que chamávamos de víspora, ou também bingo. Enquanto isso, no primeiro nível de vida do sistema, todo o conforto e delícias possíveis para o aparato de comando, ou você acha que todo esse nosso progresso será extinto para todos? Inocente! Será um mundo “delicioso”. Calor tropical, sem ar-condicionado, sem geladeira, apenas transporte público desconfortável, cozinhando com querosene, tomando refresco em pó de saquinho tipo Q-Suco, Calma gente, eu passei por tudo isso e sobrevivi, o mais terrível era a vitamina de abacate que minha mãe fazia todo dia e me obrigava a tomar. Para minha infelicidade ela conseguiu comprar um liquidificador. Daquela vez a política foi resolvida de forma abrupta quando colocaram o presidente comunista para correr, mas hoje, esse segmento social está do outro lado da questão, e não existe ninguém para nos salvar. Então absorvam poeticamente um pouco das palavras de Virgílio na Eneida: “Na mente absorta: faz logo os mastros, desenvergar o pano e desfraldá-lo. Toda frota puxando para cima, solta a bombordo os seios, a estibordo; árduos os lais que prendem as velas, braceia, rebraceia; Té que o sopro à feição lhe enfuna as velas”. Uma opção, como os fugidos dos escombros de Tróia para quem puder e tiver condições, fuja, nada mais restará do que conhecemos em breve, e quem ficar terá que ser essencialmente sacrifício.



Gerson Ferreira Filho.

ADM 20-91992. CRA – RJ.


Citação: Eneida, Virgílio. Editora Matin Claret.



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