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Ilusionismo de alambique.
E
assim amigos que todos nós tenhamos profundidade de esclarecimento
para entender como definiu Ortega y Gasset que conceito de certa
forma é a genitália daquele que pensa, existem duas castas de
homens: “os meditadores e os sensuais. Para esses últimos o
mundo é uma reverberante superfície: seu reino é a face
esplendorosa do universo – facies totius mundi, como dizia
Espinoza. Aqueles ao contrário, vivem na dimensão da profundidade.
Assim como para o sensual o órgão é a retina, o paladar, as
polpas dos dedos etc. O meditador possui o órgão do conceito. O
conceito é o órgão normal da profundidade”. Portanto,
mergulhados que estamos nessas sutilezas e com uma alma suscetível
para absorver impressões embriagam-nos com a pura ilusão retirada
dos alambiques conceituais da política onde se obtém o produto
certo de domínio grupal com fins prognosticados para enganar a todos
nós. E dessa forma a maioria caminha para ser seviciada
politicamente para vantagem de algum grupo de interesse, qualquer um
de qualquer tendência no espectro político. A moralidade e a ética
não costumam ser atributos dessa gente. Mesmo os que se identificam
e vendem uma imagem de conservadorismo. O interesse pessoal sempre
vem primeiro a vantagem que julgam merecer para que sejam
protagonistas entre um rebanho humano dócil e sempre disponível
para o sacrifício. No lugar dessa submissão ultrajante precisamos
encontrar sentido, aquilo que ressignifique a existência, o ser e
estar no mundo correto e não arrebanhado entre receitas de controle
mental onde a flexibilidade de pensamento se esclerosou com a
estagnação da acomodação dos parâmetros de julgamento. A falta
de dinamismo, fluxo e mobilidade intelectual provoca perda na
capacidade de julgamento dos parâmetros da realidade, compromete
seriamente as escolhas possíveis dentro de tudo que se oferece como
opção devida, limita as fronteiras da compreensão e do raciocínio
de forma muito conveniente para os que desejam controlar multidões e
o indivíduo. Mas se nos transformarmos em seres que pensam
realmente, teremos conceitos, meditaremos profundamente a respeito da
moral, dos bons costumes e da ética necessária para que a
civilização seja assim mantida em níveis adequados de convivência.
Uma névoa de tolerância intolerante, de aceitação do
inaceitável, do culto ao crime como uma qualidade e não uma falha
grave de comportamento inundam o imaginário e a realidade presente
hoje. O ultrajante virou objetivo onde se percebe claros sinais
degenerativos de uma sociedade que se esqueceu de seus valores. Um
sonho mau, um desconforto existencial onde atributos corrompidos se
apresentam e se instalam na alma humana para destruir completamente
um ainda possível amanhã. E essas coisas inserem na realidade algo
que Baruch Spinoza definiu como soberba: “A soberba consiste em
fazer de si mesmo, por amor-próprio, uma estimativa acima da justa”.
E a soberba atrai a adulação, pois isso gera o equilíbrio
necessário pois segundo Spinoza uma característica atrai a outra:
“A adulação também gera concórdia, mas mediante o feio vício
da servidão ou mediante a perfídia; com efeito, ninguém é mais
suscetível à adulação que os soberbos, que querem ser os
primeiros, mas não o são”. No fim nesse ambiente doente, o
soberbo não passa do tradicional estúpido, preenchido de certezas
erradas algo pior do que o ignorante que é vazio de tudo, segundo
Lacan. Essa névoa infame supracitada não abraçou a circunstância
repentinamente, ela veio de forma sutil, abrigada em licenciosidades
parceladas e abrigadas em permissões cotidianas em mídia, ensino,
imprensa e programações de TV e filmes e teve permissão
metodológica para se instalar. Até hoje é assim, ou você já não
se deparou em algum filme com uma ação que agride seus valores
morais? Então, essa ignominia é servida de forma sutil até que se
torne normal e você aceite o novo comportamento e com isso seu
desconforto não mais provoque náuseas e desapareça. Você está
sendo reprogramado para conviver com o que não aceita e não está
alinhado com as regras tradicionais da civilização. Hoje,
apiedar-se de monstros insensíveis que matam suas vítimas em
assaltos parece normal, mas não é. E isto já é um claro resultado
dessa névoa venenosa que corrompe espíritos e altera a percepção
entre o certo e o errado. Todo o processo implementado para embriagar
o povo nessa pantomima infame de fundo e curral tem esse objetivo
mesmo empobrecer a civilização até que fique inviável
reconduzi-la ao que já foi. Um antídoto? Cultura, verdadeira
cultura, reduzam ao mínimo a exposição a este tipo de conteúdo
oferecido, procure o que tem de fato valor real agregado, leia bons
autores fora dessa esfera de influência, existem muitos, eu sempre
os utilizo nos meus livros. Procure armazenar no seu subconsciente o
que os filósofos dizem e não o que dizem políticos e agentes do
poder instalado. Organize seu recanto de sanidade dentro de toda essa
loucura, não consuma o produto desse alambique de perversões como
se isso fosse normal e para gerar aceitação. Vivemos numa época
onde o que sempre existiu em guetos e bolhas de influência limitada
se transformou em assunto preponderante.
Hoje moças vendem sua imagem completamente despidas, com a genitália de fora ou fazendo sexo e ganham muito dinheiro com isso, como se fosse algo completamente normal. Deparei-me outro dia com um anúncio de um curso para mulheres do JOB, apelido recente para prostituição. Um estilo mas ameno um eufemismo para ocultar a precariedade da função. Em se tratando de comércio, compra e venda de produtos logo se estabelece demanda e oferta para atendimento da atividade, não há preocupação com consequências psicológicas, com um possível salto para a atividade real dentro desse contexto, porque ofertas surgirão e o interesse financeiro irá assim atrair o fornecedor até ao ponto de consumo. O comércio, seja lá do que for se adapta e evolui de forma veloz para gerar mais ganhos e oferecer mais riscos. Devemos todos nós trabalharmos com cautela em relação ao que se apresenta como oportunidade, armadilhas existem e são cruéis e definidoras de destinos. O ser humano apesar de ainda civilizado guarda dentro de si hipóteses controversas de comportamento. E para isso eu fico com Ortega y Gasset: “- Jaz como que adormecida a besta infra-humana, pronta a se apropriar da fisionomia inteira. E há em mim uma, substancial, cósmica aspiração a erguer-me da fera como de um leito de sangue”. Não somos necessariamente anjinhos barrocos, estamos mais próximos dos demônios do que gostaríamos de estar e por isso o freio civilizacional deve ser preservado, e não destruído pois o resultado será destrutivo em larga escala. Cuide de si, estude, aprenda respeite a tradição, desejos existem para serem domados, todos têm. Equilibrar a vida é a essência da civilização moderna. Exista para ter sentido e propósito e não como se estivesse solto numa selva de oportunidades e lascívia onde o despudor impera e o instinto se acomoda na propensão ao devasso e libertino comportamento selvagem. Ter prazer de forma civilizada difere do comportamento desagregado dos irracionais.
Gerson Ferreira Filho.
Citações:
Meditações do Quixote. José Ortega y Gasset, Vide Editorial.
Ética. Baruch Spinoza. Editora Autêntica.
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