segunda-feira, 21 de abril de 2025

Ilusionismo de alambique.

 

                                                   Image by Jacqueline Macou From Pixabay. 



 Ilusionismo de alambique.



E assim amigos que todos nós tenhamos profundidade de esclarecimento para entender como definiu Ortega y Gasset que conceito de certa forma é a genitália daquele que pensa, existem duas castas de homens: “os meditadores e os sensuais. Para esses últimos o mundo é uma reverberante superfície: seu reino é a face esplendorosa do universo – facies totius mundi, como dizia Espinoza. Aqueles ao contrário, vivem na dimensão da profundidade. Assim como para o sensual o órgão é a retina, o paladar, as polpas dos dedos etc. O meditador possui o órgão do conceito. O conceito é o órgão normal da profundidade”. Portanto, mergulhados que estamos nessas sutilezas e com uma alma suscetível para absorver impressões embriagam-nos com a pura ilusão retirada dos alambiques conceituais da política onde se obtém o produto certo de domínio grupal com fins prognosticados para enganar a todos nós. E dessa forma a maioria caminha para ser seviciada politicamente para vantagem de algum grupo de interesse, qualquer um de qualquer tendência no espectro político. A moralidade e a ética não costumam ser atributos dessa gente. Mesmo os que se identificam e vendem uma imagem de conservadorismo. O interesse pessoal sempre vem primeiro a vantagem que julgam merecer para que sejam protagonistas entre um rebanho humano dócil e sempre disponível para o sacrifício. No lugar dessa submissão ultrajante precisamos encontrar sentido, aquilo que ressignifique a existência, o ser e estar no mundo correto e não arrebanhado entre receitas de controle mental onde a flexibilidade de pensamento se esclerosou com a estagnação da acomodação dos parâmetros de julgamento. A falta de dinamismo, fluxo e mobilidade intelectual provoca perda na capacidade de julgamento dos parâmetros da realidade, compromete seriamente as escolhas possíveis dentro de tudo que se oferece como opção devida, limita as fronteiras da compreensão e do raciocínio de forma muito conveniente para os que desejam controlar multidões e o indivíduo. Mas se nos transformarmos em seres que pensam realmente, teremos conceitos, meditaremos profundamente a respeito da moral, dos bons costumes e da ética necessária para que a civilização seja assim mantida em níveis adequados de convivência.
Uma névoa de tolerância intolerante, de aceitação do inaceitável, do culto ao crime como uma qualidade e não uma falha grave de comportamento inundam o imaginário e a realidade presente hoje. O ultrajante virou objetivo onde se percebe claros sinais degenerativos de uma sociedade que se esqueceu de seus valores. Um sonho mau, um desconforto existencial onde atributos corrompidos se apresentam e se instalam na alma humana para destruir completamente um ainda possível amanhã. E essas coisas inserem na realidade algo que Baruch Spinoza definiu como soberba: “A soberba consiste em fazer de si mesmo, por amor-próprio, uma estimativa acima da justa”. E a soberba atrai a adulação, pois isso gera o equilíbrio necessário pois segundo Spinoza uma característica atrai a outra: “A adulação também gera concórdia, mas mediante o feio vício da servidão ou mediante a perfídia; com efeito, ninguém é mais suscetível à adulação que os soberbos, que querem ser os primeiros, mas não o são”. No fim nesse ambiente doente, o soberbo não passa do tradicional estúpido, preenchido de certezas erradas algo pior do que o ignorante que é vazio de tudo, segundo Lacan. Essa névoa infame supracitada não abraçou a circunstância repentinamente, ela veio de forma sutil, abrigada em licenciosidades parceladas e abrigadas em permissões cotidianas em mídia, ensino, imprensa e programações de TV e filmes e teve permissão metodológica para se instalar. Até hoje é assim, ou você já não se deparou em algum filme com uma ação que agride seus valores morais? Então, essa ignominia é servida de forma sutil até que se torne normal e você aceite o novo comportamento e com isso seu desconforto não mais provoque náuseas e desapareça. Você está sendo reprogramado para conviver com o que não aceita e não está alinhado com as regras tradicionais da civilização. Hoje, apiedar-se de monstros insensíveis que matam suas vítimas em assaltos parece normal, mas não é. E isto já é um claro resultado dessa névoa venenosa que corrompe espíritos e altera a percepção entre o certo e o errado. Todo o processo implementado para embriagar o povo nessa pantomima infame de fundo e curral tem esse objetivo mesmo empobrecer a civilização até que fique inviável reconduzi-la ao que já foi. Um antídoto? Cultura, verdadeira cultura, reduzam ao mínimo a exposição a este tipo de conteúdo oferecido, procure o que tem de fato valor real agregado, leia bons autores fora dessa esfera de influência, existem muitos, eu sempre os utilizo nos meus livros. Procure armazenar no seu subconsciente o que os filósofos dizem e não o que dizem políticos e agentes do poder instalado. Organize seu recanto de sanidade dentro de toda essa loucura, não consuma o produto desse alambique de perversões como se isso fosse normal e para gerar aceitação. Vivemos numa época onde o que sempre existiu em guetos e bolhas de influência limitada se transformou em assunto preponderante.



Hoje moças vendem sua imagem completamente despidas, com a genitália de fora ou fazendo sexo e ganham muito dinheiro com isso, como se fosse algo completamente normal. Deparei-me outro dia com um anúncio de um curso para mulheres do JOB, apelido recente para prostituição. Um estilo mas ameno um eufemismo para ocultar a precariedade da função. Em se tratando de comércio, compra e venda de produtos logo se estabelece demanda e oferta para atendimento da atividade, não há preocupação com consequências psicológicas, com um possível salto para a atividade real dentro desse contexto, porque ofertas surgirão e o interesse financeiro irá assim atrair o fornecedor até ao ponto de consumo. O comércio, seja lá do que for se adapta e evolui de forma veloz para gerar mais ganhos e oferecer mais riscos. Devemos todos nós trabalharmos com cautela em relação ao que se apresenta como oportunidade, armadilhas existem e são cruéis e definidoras de destinos. O ser humano apesar de ainda civilizado guarda dentro de si hipóteses controversas de comportamento. E para isso eu fico com Ortega y Gasset: “- Jaz como que adormecida a besta infra-humana, pronta a se apropriar da fisionomia inteira. E há em mim uma, substancial, cósmica aspiração a erguer-me da fera como de um leito de sangue”. Não somos necessariamente anjinhos barrocos, estamos mais próximos dos demônios do que gostaríamos de estar e por isso o freio civilizacional deve ser preservado, e não destruído pois o resultado será destrutivo em larga escala. Cuide de si, estude, aprenda respeite a tradição, desejos existem para serem domados, todos têm. Equilibrar a vida é a essência da civilização moderna. Exista para ter sentido e propósito e não como se estivesse solto numa selva de oportunidades e lascívia onde o despudor impera e o instinto se acomoda na propensão ao devasso e libertino comportamento selvagem. Ter prazer de forma civilizada difere do comportamento desagregado dos irracionais.



Gerson Ferreira Filho.



Citações:


Meditações do Quixote. José Ortega y Gasset, Vide Editorial.


Ética. Baruch Spinoza. Editora Autêntica.


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