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Presepadas circunstâncias e carnaval.
Então companheiros, aqui nesse canto de mundo escaldante onde o sol não se acanha de fritar corpos sem a mínima cerimônia e com um mormaço devastador como aliado nós também temos outros percalços nesse solo esquecido por Deus. Mas entendam, somete um lugar assim seria capaz de produzir uma oligarquia tão imoral e insensível como a nossa, toda metodologia dessa gente, todo plano sempre tem um único objetivo, privilégios pessoais para si e os seus, todo restante que se dane. Aqui, até aquele que foi doutrinado e criado na mais pura nata socialista, onde o proletariado tem o direito de se assanhar, bebe vinhos premiados com banqueiros e os favorece sempre com ações que lhes proporcionam uma lucratividade gigantesca, e enquanto isso o povo come pé de galinha. E o interessante, toda aquela massa sindical que o acompanha e que deveria representar a força de trabalho não vê isso, e até protege o procedimento. Não vê ou apenas se contenta com as migalhas que caem da mesa do banquete do seu representante maior. Na verdade o sindicalismo brasileiro e a nossa envernizada oligarquia conseguiram transformar em concreto um conceito filosófico, o niilismo, aqui, para o povo o nada se materializou. Virou realidade palpável onde todos se encontram com essa certeza presente de forma concreta hoje no seu depauperado cotidiano. Muitas vezes o absurdo se apresenta em sociedades que não conseguem gerir o desespero de forma saudável o decompondo em frações de ocorrências anômalas e assim acabam se entregando a o cenário vicioso se ajustando a ele por sobrevivência. E assim, mergulhados nessa indiferença preponderante negam a verdade, negam a moral negam o propósito existencial de si mesmo. Construindo para si e em torno de si uma sociedade indefinida onde o que vier é sempre aceito sem questionamento pois a regra é absorver o que vier pela frente. Essa peculiar indiferença geralmente custa muito caro para o conjunto social. Mas afinal, o que seria a verdade nesse mundo distorcido hoje sem padrões aceitáveis de convivência onde tudo se manipula e se adapta de acordo com conveniências ocasionais para deleite de pervertidos e proxenetas dos áulicos processos palacianos de uma deturpada razão. Bem definiu Dostoiévski eu seu Memórias do subsolo: “Mas o homem é a tal ponto afeiçoado ao seu sistema e à dedução abstrata que está pronto a deturpar intencionalmente a verdade, a descrer de seus olhos e seus ouvidos apenas para justificar a sua lógica”. Então, desse conteúdo abjeto de propósitos do inferno agora temos a apresentação de um novo sistema político de governança, o semipresidencialismo, se não me engano tem alguns anos houve um plebiscito onde o povo escolheu o presidencialismo como forma de governo, mas aqui a lei não importa mais. Fica mais confortável para nossa elite oligárquica e sindical ter um primeiro ministro que tem o real poder e para ser retirado do cargo por um voto de desconfiança do parlamento. Sabe quando um primeiro ministro escolhido a dedo pelo sistema vai receber esse voto de desconfiança? Nunca! Basta analisar o perfil político dos membros do Congresso, quem que vocês acreditam que essa gente vai escolher? Até na Europa, primeiro mundo, primeiros ministros ficam quase eternamente no cargo. A Alemanha é um típico exemplo com a Merkel, e tem outros também nessa lista. Eles chegam a quase destruir economicamente países e não caem, não são retirados do poder, porque afinal, nunca há consenso para que sejam retirados, ou seja é uma forma de governo contra o povo, impopular, mesmo que o povo desse lugares estejam satisfeitos, pois elimina o revezamento no poder. Um primeiro ministro com alguns agrados circunstanciais no parlamento se mantém no poder eternamente. É isso que o povo daqui quer? Alguém consultou o povo? Ter o mesmo indivíduo por quinze anos ou mais no comando do país? Nossos olhos e nossos ouvidos percebem a manobra, ao menos os que ainda raciocinam percebem, então, vamos embarcar nessa armadinha elitista de poder? A política é assim, um jogo de traições e ilusão, uma pescaria, uma disputa feroz para ver quem vence e se convence a não engolir a isca, pois uma vez que se aceita a conversa fiada o engodo o destino está traçado. Como no romance O Velho e o Mar de Ernest Hemingway: “Para fisgá-lo. Eu o traí. Sua vontade era permanecer nas águas profundas, longe dos anzóis, longe dos traidores. E eis que decidi procurá-lo lá embaixo, na sua casa, a mais de duzentos metros de profundidade”. A política é assim, esse jogo onde você sempre perde, te oferecem uma atrativa isca e depois te capturam. O peixe talvez vire uma moqueca, ou seja frito para uma refeição, você será colocado num aquário conveniente, controlado para alguma oportunidade vindoura onde será usado para algum propósito onde você talvez colha alguma migalha, um resíduo do banquete dos privilegiados da elite. Ou será apenas um ornamento para exibição de poder político por quem lhe capturou. Temos hoje no país dois aquários cheios desse tipo de peixe, eles são agressivos e atacam quem não se comporta como eles, submissos dentro de um confinamento e prontos para qualquer uso, sensorialmente são objetos políticos e assim se colocam disponíveis para ser o protagonista em algum sacrifício no altar político.
Este comportamento de objeto é danoso em vários níveis psicológicos, a perda da capacidade individual de avaliação da realidade pode trazer sérios problemas psicológicos e de interação social abrangente. Essa é a circunstância disponível, delineada para atender aquela indiferença supracitada. Ao niilista pertence o vazio absoluto e para preencher esse nada existencial existe algo bem barulhento e espalhafatoso, onde as forças sensoriais dos hormônios serão plenamente excitadas para o máximo desempenho. Chamam de carnaval. Uma festa popular onde o frenesi envolvente de corpos suados em calor escaldante e batizados com muito álcool suprime ainda mais a sensibilidade qualitativa dando espaço apenas para os assuntos da carne. No passado, já foi brincadeira festiva e com ares de palhaçada inocente, mas hoje se transformou quase totalmente em orgia. Já foi pão e circo, hoje carnaval e shows musicais com alto teor sexual, porque quem já se posicionou nessa frequência vibratória só vê isso, já jogou ração numa lagoa cheia de peixes? É assim o novo perfil que agita as águas da realidade. Enquanto a turma se diverte os planos da elite prosseguem, as políticas de domínio são aperfeiçoadas em Resort luxuoso ou em ilhas particulares com iates enormes e cinematográficos, tudo conquistado com a domesticação da população e com discursos demagógicos e ambíguos. Já pagou seus impostos? Antes de irem para a farra anual pague, a elite quer sua parcela de submissão em forma de boletos quitados, afinal, qualidade de vida custa bem caro. Não decepcionem seus proprietários hein?
Gerson Ferreira Filho.
Citações:
Memórias do Subsolo Fiódor Dostoievski. Editora 34.
O velho e o mar. Ernest Hemingway Editora Bertrand Brasil.
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