sábado, 27 de fevereiro de 2010

Contextos da usura.






Amigos, este é o primeiro de uma série de contos que talvez vire um livro.



Baseado em fato real. Os nomes foram trocados, os lugares são fictícios. A simples semelhança com a realidade de muita gente não será mera coincidência.

Jaconildo, sujeito trabalhador! Levava sua vida sofrida de feirante na zona norte do Rio de Janeiro. Caixotes de tomate para lá, caixa de cebolas para cá, mulher e três filhos na casa humilde.

Beraldo, Odílio e Antúrio seus filhos, de trabalho, nem queriam saber. Assim foram criados por sua mulher Otília. Criados sob a norma de que: trabalho faz mal. Então neste contexto correu a vida. Jaconildo era um sujeito controlado. Para ele dinheiro sempre teve muito valor; não deve ser desperdiçado, nunca!


Dinheiro no cofre, felicidade garantida. Para conseguir dar alimento para seus filhos, certa vez Otília vendeu um botijão de gás. Aí sim! Jaconildo comprava outro, não tinha como ficar sem o gás. Alimentação; que desperdício pensava Jaconildo iria tudo para o vaso sanitário depois!


Por isso o resto da feira sempre participou do cardápio da família. Os anos passaram; seus filhos se tornaram a carga para a qual foram preparados um peso só. Sua mulher Otília adoeceu. Algum problema congênito, somado aos anos de vida sofrida drenaram a saúde daquela mulher.


Na porta da igreja, Antúrio pedia suas esmolas. Assim ele preferia, trabalho não era com ele. Odílio encontrou um deficiente físico para ajudar, e assim conseguia dinheiro para o cigarro empurrando a cadeira de rodas. Beraldo? Bem esse arrumou uma mulher para trabalhar para ele.


Sem estudo, sem preparo, sem perspectiva, não havia nada melhor para ser feito na vida daqueles três homens criados nas restrições de recursos. Educados na ausência total de limites no que diz respeito ao acumulo de bens. Sua mãe? Agora padecia as restrições de assistência, remédio custa caro! Não demorou muito, faleceu, que Deus a tenha.


Escorreu na hora mais um tanto de tempo, e como iguais se atraem, Jaconildo se casou novamente, só que agora com uma mulher tão controlada quanto ele. Se prosperidade acompanhasse economia, estes deveriam se tornar o casal mais rico do país. Leogácia, sua nova esposa fazia cesta básica durar três meses!


Café? Em um tanto de pó se fazia três dias de café. Não tenha dó porque se o feijão azedar, bicarbonato nele! O que vier depois no trato intestinal não será problema, lembre-se! O destino final justifica os meios. A dor de barriga é sempre menor do que a dor do desperdício.


Leogácia! Essa dava pernada em sombra e nó em fumaça. Como dois abutres agourentos, eles se estudavam, um esperando a morte do outro, contando com o possível lucro a ser auferido com a fatalidade. Certa vez bateu a porta um mendigo pedindo esmola. De fora ele gritou! Uma esmola pelo amor de Deus! Lá de dentro Jaconildo respondeu: Põe debaixo da porta, por favor!


E agora com o tempo escapando da hora, seu filho Odílio adoeceu. Provavelmente herança genética da mãe, ficou com problemas mentais, impossibilitado de andar. Beraldo cuidava dele, dentro da capacidade que possuía, ou seja, nenhuma! Já que sua esposa tinha sumido, aquela que o sustentava, então esse era seu quinhão.


Antúrio não mais foi visto durante anos, provavelmente morreu. Sua nova esposa Leogácia, devido a anos de má alimentação já não tinha forças para andar. Ele mesmo, Jaconildo também caminhava com dificuldade. A cova escancarada aguardava ansiosamente os dois, quem irá primeiro?


Mas como toda estória deve ter um final eletrizante, o filho de Jaconildo Odílio morreu. Então para arrematar ele enterrou o filho como indigente. Ficou baratinho, não custou nada! Velório, cerimônias para quê! Como Jaconildo disse: ele não tem ninguém mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário