sábado, 28 de junho de 2025

A futilidade existencial.

 

                                                       Image by Daniel Hannah from Pixabay.







A futilidade existencial.



Em que transformamos essa realidade que nos abriga? Em nada! Temos e não estamos, um lugar de aparências, um lugar de frivolidades banais e descuido com o amanhã. Um sentimento oblíquo perdido no trânsito intenso dos centros comerciais cheios, lotados com se tudo estivesse completamente normal, onde todos andam e se esbarram e se endividam no crédito concedido para isso mesmo, alienação, terá um preço? Isso mesmo, sim, a gratuidade aparente não passa de um artifício sedutor para um agora ilusório de conforto para um período que antecede a tragédia. Quantos nessa multidão leram Dostoiévski? Ou Mário Ferreira dos Santos? E Olavo de carvalho? Provavelmente apenas eu, as aparências são reveladoras, Onde áreas Vips para refeições refinadas estão lotadas tanto quanto a praças de alimentação popular, que na verdade de popular nada tem. Os passos dispersos no rosto do porcelanato refinado indicam prosperidade, e completa falta de preocupação com as nuvens negras no horizonte, nada indica uma crise, ou algum problema de gestão social, Essas pegadas dispersas e contraditórias de escopo evasivo imprimem um sentido controverso na realidade que se oculta no entorpecimento dos caminhos dentro dessa bruma de objetificação por prazer. Essa frugalidade falsa e contumaz atiça sentidos impele desejos e impede que a realidade apareça como parte do cenário, não há problemas e a vida é deliciosamente envolvente. Nada-se em sobriedade como disfarce nas ocasiões. Tudo bem, tudo bom e estável como um olho de furacão, não é perceptível em nenhum momento que há crise, que a economia se complica, que preços aumentam para o consumidor, que a justiça se tornou invasiva nos direitos, afinal, para que se desejar direito e correção com a letra da lei se a vida é tão boa? E assim prosseguimos nessa metáfora do tempo que guarnece o significado com sua sutileza específica para que a verdade nunca surja repentinamente e faça sua presença ser notada de forma inconveniente para os poderosos, afinal, nesse contexto alguém manda, possui autoridade, mesmo que não apareçam de frente nessa situação. A inconveniência da informação correta se esconde nos limites das redes sociais, onde a parte da população que realmente se importa troca ideias a respeito daquilo que ninguém vê aqui fora no mundo real. Como regra, esse mundo exterior, iludido e passivo não percebe nada pois não há sinal nenhum de algum problema ou inconformidade explicita, se as ruas estão completamente tomadas de automóveis, veículos novos e consumindo combustível, está tudo bem, não há com o que se preocupar.



Isto vem de longe, não é uma construção filosófica recente, existiram os que alertaram, mas a grande maioria ignorou o alerta, e hoje a alienação geral adquiriu substância e pesa na sociedade como uma carga inadequada que veio para ficar e se estabelecer como regra final. Numa crônica de 2008 Olavo de Carvalho já alertava para esse procedimento hoje materializado na maioria de nós: “Todos os proprietários de jornais, revistas e canais de Tv sabiam disso perfeitamente. A justiça eleitoral sabia disso. As Forças Armadas sabiam disso. A cumplicidade geral deu ao crime, ares de legitimidade, marcando a ruptura definitiva entre o debate público e a realidade da vida nacional e gerando a atmosfera de alienação e loucura da qual a corrupção e a violência, em doses jamais vistas no mundo, são apenas o sintoma mais visível e escandaloso. Jamais na história de qualquer nação, a elite falante, por amor e temor a um grupo político ambicioso e cínico, traiu e ludibriou tão completamente um povo”. Foi um esplêndido, para eles, trabalho de grupo como objetivo de criar esse rebanho humano que temos hoje, passivo, desinformado, resignado em seus limites e até feliz com seu consumo distraído de futilidades ainda oferecida por um mercado agonizante. Um dia, os recursos vão acabar, os cofres do erário se esvaziarão e conterão dentro de si apenas o vazio constrangedor de um país quebrado economicamente, e nesse ponto, talvez e somente talvez o povo comece a notar que a famosa curva de Laffer faz sentido. Essa representação teórica entre tributação e rendimento econômico é útil para entender desempenho e saturação fiscal de arrecadação, mostrando que ao se tornar insuportável, a carga tributária pode não mais atender aos encargos governamentais e assim exigindo a queima de reservas para complemento do orçamento e suas obrigações sociais prementes. Bom, quem segue a ideologia socialista e sua peculiar ignorância econômica não entende nada disso, e sendo assim repetem erros de forma sistemática apenas por não aceitar o óbvio. Mas o nosso principal problema hoje é essa futilidade existencial gerada por um movimento de poder que até aqui venceu em todas as etapas do processo. Hoje estão consolidados, Olavo de Carvalho avisou o que aconteceria, ninguém deu importância, preferiram ouvir os trapaceiros, com seu discurso inclusivo, preocupado com os necessitados, e de textura agradável. E assim estamos aqui neste cenário onde praticamente todos os profissionais de justiça são socialistas, progressistas pois assim se intitulam como se isso fosse progresso e não retrocesso. Também a maioria dos políticos e profissionais do ensino básico e superior, serviço completo, barba cabelo e bigode como se diria antigamente. E agora? Como sair disso? Complicado, uma desintoxicação ideológica geralmente requer sofrimento, em algum momento a pressão da realidade vai cobrar seu preço, pois sonhos ideológicos não possuem alicerce sólido, são construídos em cima de argumentação, e o argumento está no processo dialético infinito de propostas volumétricas e  realizáveis e não em sonhos e devaneios.



Portanto, aqui estamos; anestesiados como sociedade, curtindo a vida ainda possível sem o conhecimento exato do que pode realmente acontecer. As evidências, todas elas, indicam desastre mas para que se preocupar com isso? Não se preocupe, o sistema já se encarregou de silenciar o contraditório, então, curta sua vida extravase seus medos, compre prazer no crédito pois o boleto dessa fatura, você vai pagar, mas o vencimento ainda parece distante e o cartão de crédito está no melhor momento. Acredito que algum poeta já mencionou que de ilusão também se vive, portanto, vamos ao consumo, ele é gratificante e o asfalto das ruas prossegue se emborrachando com os milhares de pneus que se deslocam no seu corpo avido por trânsito sem nenhuma preocupação com amanhã. Afinal, como diria o esperto brasileiro, o amanhã ainda não existe, não devemos nos preocupar com ele. A imprudência e a falta de planejamento sério produz desastres absurdos apenas para mostrar que ser irresponsável não é uma boa opção. Você que percebe o cenário real, não se preocupe, tudo dará errado e não há o que se possa fazer quando colapso chegar. Toda essa futilidade vai ruir e escorrerá pelo assoalho da realidade até ao ralo do destino que se alimenta de rejeitos produzidos por ideologia.





Gerson Ferreira Filho.



Citação: Olavo de Carvalho em O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Editora Record.


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