sábado, 16 de agosto de 2025

Nada.

 


                                                 Image by Vilius Kukanauskas from Pixabay.





Nada.



Detalhes, soluços do tempo onde tropeçamos ocasionalmente e assim tomamos conhecimento dessa vastidão de hipóteses que apenas serão despertas caso as importunemos com o interesse. O nada nos oferece o contexto, a circunstância tímida se apresenta para assim ser a base do procedimento, e com evasivas propositais impor seu sabor no cotidiano. Entenda, a luz do esclarecimento surge das reentrâncias ocasionais ocultas dentro do não ser. Que mesmo não sendo possui textura nas margens da vontade, essa ousadia implícita sem definição específica que impele e conduz os passos para um amanhã, que supostamente pode ser ou simplesmente se ausentar da possibilidade. Porque ser plausível não condiz com a determinação, tudo está retido na linha do tempo, no script pronto e nas urgências inquestionáveis do amanhã. Você pressente a ocorrência, teoriza a tendência, elabora o trajeto, acreditando estar no rumo, mas na verdade , desejos não possuem substância e poderão ser diluídos com uma impertinente realidade. Nossa estrutura existencial possui homeostase, essa programação que nos mantém coesos, definidos e funcionais dentro do ambiente que nos cabe ocupar. Então, da sopa química que originou o ser vivo até hoje as regras prosseguem. Eu sei, a tradição lhe ensinou algo as respeito de livre arbítrio, que você escolhe como e onde seu futuro acontecerá, lamento te desapontar, este trilho mental onde o colocaram se presta apenas a um conforto mental apropriado para que seja evitado algum desequilíbrio e proporcione uma liberdade ilusória confortável. Afinal, na ilusão se encontra nosso jardim de prioridades e pressentimentos. Termos um perfil poético, dentro de um imaginário fértil onde favorecem hipóteses em abundância como as gotas de uma chuva torrencial que cai oferecendo contato com as coisas do sentir. António Damásio tem uma interpretação desse cenário: “O “eu” e o “você” são identificados como componentes mentais e corporais. Não faz diferença, contanto que a conexão entre os eventos mentais e a fisiologia geral do corpo tenha sido firmemente estabelecida. O mundo pode ir até você, diz seu empreiteiro encarregado da consciência, porque seu organismo vivo – todo o organismo, não apenas o cérebro – é um palco aberto onde uma peça sem fim é encenada em seu benefício”. Estamos conectados com uma infinidade de vida que colabora para que nos tornemos plausíveis e estáveis. E no diminuto mundo de tudo que compõe o que somos nós e nele existem regras que ordenam desordenadamente a realidade como o movimento browniano, também chamado de aleatoriedade browniana, que descreve o movimento imprevisível de partículas. Flutuações térmicas influenciam na atividade. Sugiro pesquisar a respeito, e com desempenho quântico no comportamento. Aqui o principio da incerteza de Heisenberg de aplica completamente. E este princípio determina que não podemos saber exatamente onde uma partícula está e qual sua velocidade ao mesmo tempo. Alguns detalhes relatados por outro autor Robert M. Sapolsky se refere a nossa base cerebral: “Um grupo aleatório de neurônios, estranhos perfeitos flutuando num béquer se forma espontaneamente para começara construir um cérebro”. E avança no tema: “O que essa viagem mostrou? A) De moléculas a populações de organismos, sistemas biológicos geram complexidade e otimização equiparáveis ao que cientistas da computação, matemáticos e planejadores urbanos conseguem alcançar ( e de onde roboticistas tomam explicitamente emprestadas de insetos estratégias de inteligência de exame). B) Esses sistemas adaptativos emergem de simples elementos constitutivos que têm interações locais, tudo sem autoridade centralizada, sem comparações explícitas para tomar decisões, sem plano e sem planejador”. Diante de toda essa complexidade explícita você realmente acredita que decide alguma coisa?



Não se iluda, você não está no comando, você provavelmente pelas evidências daquilo que o constitui apenas reage ao ambiente no qual foi colocado com algum propósito. Neurocientistas renomados afirmam isso. Mas sim, é uma delícia acreditar que nós estamos na liderança, que definimos o amanhã de forma inquestionável e estável. Dá um teor de estabilidade revigorante pensar que você define seu fim, que tudo está sob controle e não há risco no horizonte visível. O mundo funciona melhor, o ser humano sempre foi assim, tudo corre bem se os parâmetros são estabelecidos para controle e a maioria vive dentro dele, de civilizações antigas até hoje, a coisa flui assim. A textura da realidade também é constituída dos inexplicáveis entrelaçamentos quânticos e de toda aleatoriedade das menores partículas possíveis e estas de forma inusitada parecem ter vontade própria e oferecer tomadas de decisão diferenciadas quando são observadas ou não. Nesse mundo praticante mágico distâncias são irrelevantes, o deslocamento é instantâneo quanto a decisões e alterações. Existe um emaranhamento, um entrelaçamento o que define alterações simultâneas, mesmo que um dos elementos esteja do outro lado do universo. Verdades insuperáveis pairam perante nossa compreensão tacanha, e uma realidade acaba se apresentando, somos máquinas biológicas cheias de componentes vivos para um funcionamento coerente e viável dentro desse plano existencial que ocupamos, tudo isso deve ter um propósito, sempre tem, e o espectro do livre arbítrio é o toque que sensibiliza a máquina para que tenhamos uma vida a qual consideramos humana. O autor Sapolsky cita o filósofo Robert Bichop do Wheton College: “Ele acredita que a perspectiva consoladora que oferece é o único jeito de qualquer um de nós manter uma perspectiva saudável e afirmativa da vida e permanecer engajado nesta de maneira significativa. A vida vivida “como se” vista através das lentes coloridas do livre arbítrio”. Somos máquinas biológicas humanizadas por um detalhe fortuito que foi inserido na nossa realidade, mas o autor prossegue: “Mas “aguente firme, não existe livre arbítrio” não é nem de longe a questão. Talvez você fique um pouco desalentado ao perceber que parte do seu sucesso na vida se deve ao fato de ter um rosto atraente. Ou que sua louvável autodisciplina tem tudo a ver com a forma como seu córtex foi construído quando você era um feto. Que alguém ama você por causa, digamos, da maneira como os receptores de oxitocina desse alguém funcionam. Que você e outras máquinas não têm significado”.



Significar a vida se torna propósito de estabilidade mental numa realidade que a neurociência descobre. Na fria mesa da ciência descobrimos que somos máquinas biológicas, resta agora entender tudo isso, todo esse contexto multidisciplinar e complexo onde estamos para entender o motivo, o propósito de estarmos aqui e com qual finalidade. Por isso dei o título desse texto de nada, porque o nada está em nós, e todos nós estamos nele e nesse nada mora nossa necessidade de pertencimento ao mundo real. Recomendo a quem se interessar no tema os autores citados. Vou colocar abaixo do texto como sempre a citação dos livros. Ciência no mais alto nível para enriquecimento cultural.




Gerson Ferreira Filho.




Citações:



Sentir e saber. António Damásio. Companhia das Letras.



Determinados. Robert M. Sapolsky. Companhia da Letras.



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