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Os parâmetros existenciais.
A dúvida, nossa eterna companheira, onde nossos argumentos colidem e se enfrentam todo dia com a realidade, com a ilusão, e com toda proposta aleatória de ajuste que se faça na textura da vida. O espaço conta, o momento a ocasião, aquilo que apenas existe no agora, pois fora dele apenas se obtém memórias e futuras suposições. A vida é o hoje, o ontem não existe mais virou registro e o amanhã mora no intangível, apenas um prognóstico. Estamos agora registrando essa conversa para que e quando tudo isso for ontem tenhamos um amanhã mais promissor. Afinal, como criaturas presas no espaço tempo assim gerenciamos os eventos, as tantas circunstâncias que ocasionalmente a nós se apresentam nesse tecido que nos sustenta na realidade que foi oferecida a todos nós. Um pouco de suplício, um tanto de prazer e há os que encontram prazer no suplício e dor no bem-querer. Somos diversos, controversos e normalmente o conflito se torna nosso combustível principal para a evolução. Alguns autores importantes abordaram esse tema e criaram até uma dialética, um método filosófico que através do confronto de ideias procura sintetizar e diluir o conflito permanente que nos acomoda nessa contradição da frugalidade que nos impuseram nessa lacuna de tempo oferecida ocasionalmente que aproveitamos sem parcimônia e sem a exata noção de quanto pode ter um fim. Vamos mergulhar em um desses métodos o de Theodor Adorno, A dialética do esclarecimento. Este texto não será fácil e será longo, com muitas citações, pois de espaço precisamos para reflexão. Afinal, meu projeto pessoal é esse apresentar novos conceitos, tornar o desconhecido, conhecido para todo aquele que não teve a oportunidade e ser apresentado a diversidade conceitual que existe. E que se faça proveito ou não, da oportunidade que ofereço. Para iniciar a conversa temos: “A infatigável autodestruição do esclarecimento força o pensamento a recusar o último vestígio de inocência em face dos costumes e das tendências do espírito da época. Se a opinião pública atingiu um estado em que o pensamento inevitavelmente se converte e mercadoria e a linguagem, em seu esclarecimento, então a tentativa de pôr a nu semelhante depravação tem de recusar lealdade às convenções linguísticas e conceituais em vigor, antes que suas consequências para a história universal frustrem completamente essa tentativa”. A infatigável busca por autodestruição filosófica da humanidade a leva para caminhos escuros e sem definição exata de contexto que se volatiliza em afirmações fora de contexto para impor vontades particulares ao conjunto social que se adapta ao discurso de ocasião. Tornando abordagens e temas proibitivos para uso público onde se deveria ter análise e contextualização de algum propósito digno de se fazer notado. Proíbe-se temas e atributos são manipulados para gerar o falso entendimento, a clausura utópica que irá dessa forma abrigar o subconsciente da população, assim e então dependente de ajuda externa para seus conflitos particulares. Dependência psicológica sem indulgência obsequiosa para obter mansidão a qualquer tipo de pauta aplicada que venha atender os anseios de uma minoria revestida de arrogância comportamental em relação aos seus semelhantes. Existem planos e projetos para construção de um futuro apenas para os “especiais” que por mérito, nem sempre e muito mais por política, alcançaram protagonismo na realidade. Sem serem explícitos aplicam uma censura social disfarçada subliminar, hoje apelidada de progressismo, para eliminar do contexto a diversidade de opinião e vontades. A cultura funciona como um massificador de opiniões onde se molda a percepção com ares de esclarecimento incutindo a vulgaridade como proposta aceitável na sociedade. Entendam progressismo como permissividade, você aceitará o inaceitável com o nome de cultura Woke apenas para se sentir incluído socialmente nessa proposta, ou será alijado da realidade.
E de permissão cultural em permissão cultural você estará acorrentado e de focinheira, adestrado para viver fora dos seus reais padrões de vida. Hoje, o cinema, a televisão e mesmo a literatura está contaminada completamente por esses valores que irão conduzir a um estilo de vida degradado e sem nenhuma ética com relação aos reais padrões de civilização. Adorno cita: “O processo ao que se submete um texto literário, se não na previsão automática se seu produtor, ao menos pelo corpo de leitores, editores, redatores e ghost-writers dentro e fora do escritório da editora, é muito mais minucioso que qualquer censura”. A coisa funciona desse jeito, ou o próprio autor se censura ou qualquer outro membro do circuito por onde a obra literária irá passar censura o conteúdo intelectual que será apresentado. Entenderam o porquê meus livros são diferentes e os produzo de forma independente? Eles reproduzem o que eu quero dizer e não uma versão pasteurizada da minha ideia, pode até parecer agressivo, mas é a realidade. Se trata hoje de uma proibição institucional de certos temas “sensíveis” a um público já adestrado e que o poder quer que continue assim. Falar a verdade causa constrangimento numa sociedade de animais castrados e controlados, se torna anátema intolerável apresentar a versão real dos fatos. O mal estar com a apresentação da realidade é indisfarçável no conjunto social atual. Theodor Adorno prossegue: “Assim como a proibição sempre abriu as portas para um produto mais tóxico ainda, assim também o cerceamento da imaginação teórica preparou o caminho para o desvario político. E mesmo quando as pessoas ainda não sucumbiram a ele, elas se veem privadas dos meios de resistência pelos mecanismos de censura, tanto os externos quanto os implantados dentro delas próprias”. Povos criados, nutridos, cevados em pura distopia progressista Woke tendem a se policiar contra possíveis violações de comportamento assim criando uma prisão mental da qual nem percebem mais com o decorrer do tempo, a infâmia passa a ser completamente normal e o ciclo de domesticação humana está completo. A esperança, neste momento já foi assassinada e descartada, o que existe apenas é uma anomalia sistêmica comportamental degradante e decadente do jeito viver. E o detalhe sórdido, imperceptível para a maioria. Voltando mais uma vez ao livro: “O que está em questão não é a cultura como valor, como pensam os críticos da civilização Huxley, Jaspers, Ortega y Gasset e outros. A questão é que o esclarecimento tem de tomar consciência de si mesmo, se os homens não devem ser completamente traídos. Não se trata de conservação do passado, mas de resgatar a esperança passada”.
Vivemos assim um hoje cheio de medos de imprudências e de preferências ditatoriais, o meu regime de força é o correto, é o ideal: também mata, também persegue, também pende mas é pela minha boa causa. E se é uma causa minha só pode ser a correta, justo! Não há controvérsia, estamos num ringue onde loucos se matam. Não há mais equilíbrio e algum parâmetro existencial civilizado, tudo é força e intimidação. Existe um evidente cheiro de colapso de civilização no ar, quando acontecerá ainda não se sabe, mas os indícios gritam na atmosfera. Precisamos de um modelo, teremos? E para finalizar as citações: “Mesmo que o formalismo da razão a impeça de proporcionar à humanidade um modelo necessário, ela tem de sobra a ideologia mentirosa a vantagem da factualidade. Os culpados, eis ai a doutrina de Nietzche, são os fracos, eles iludem com sua astúcia a lei natural. O grande perigo para os homens são os indivíduos doentios, não os maus, não os predadores. São os desgraçados, os vencidos, os destruídos de antemão – são eles, são os fracos que mais solapam a vida entre os homens, que envenenam e colocam em questão da maneira mais perigosa nosso confiança na vida e nos homens”. Bom companheiros depois dessa citação de Nietzche por Adorno nada mais precisa ser mencionado, estamos nesse agora sendo governados por fracos, incompetentes e covardes, e sendo assim nada mais resta a não ser um fio de esperança que toda essa gente cometa um erro fatal alimentado por toda ignorância e fraqueza que os cercam.
Gerson Ferreira Filho.
Citação:
Dialética do esclarecimento. Adorno e Horkheimer. Zahar Editora.
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