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Oximoros dissonantes.
E agora vamos conversar a respeito de surrealidades políticas de um tempo intratável quanto a lógica e as atitudes populares que não se acomodam apenas nesse armário contextual do tempo. Onde frivolidades ensandecidas afagam rotineiramente o cenário como se fosse uma espuma produzida por microelementos sobrenadantes na atmosfera impactada por loucuras violadas pela ousadia da vontade. E puramente por desejo de liberdade a massa protesta, mas para quem? Quem receberá o clamor das multidões? Hoje o que há é um deserto infame e cáustico de não conformidades associadas para cumprirem um propósito subjacente aos piores objetivos de uma lúcida loucura que lambe suas ocasiões no afã de ser conforto a tudo aquilo que é abjeto. Sinceramente, eu não tenho mais a mínima paciência com tudo isso, porém se faz necessário resenhar essa época para a posteridade. Será um serviço prestado ao conhecimento, exibir as tripas de um tempo que se esvaiu em indignidades coletivas por desvios de conduta profissional. Afinal, alguém no futuro tem de saber; se realmente esse futuro existir, como foram esses dias de submissão ao frenesi dialético onde o único tema admissível de discussão era a opinião oficial e nada mais. Um monólogo para multidões. E azar de quem resolvesse inferir no contexto uma dedução dissonante do que o poder desejaria. Não há sombra para oposição nesse lugar e momento, tudo se faz no sol escaldante tropical para corromper a materialidade e assim prevalecer a vontade de um seleto grupo que se posicionou no cume da sociedade. Se você não entende azar o seu, vão te estuprar ideologicamente assim mesmo, sem convencimento e some-se a isso a obrigatoriedade de agradecer. Charles Bukowski definiu: “A diferença entre a arte e a vida é que a arte é mais suportável” e também “Não existe nada tão chato quanto a verdade”. São nossos dilemas, temos de sublimar psicologicamente o momento para de forma artística enfrentar essa atmosfera inconveniente, para suportar a monotonia da verdade, concluindo; estamos todos ferrados. Ontem o povo protestou, mais uma vez, milhares foram para as ruas para solicitar justiça verdadeira, porém não há mais um receptor para essa transmissão. O eco viaja e não encontra quem o receba, todas as instituições que poderiam estar a favor , na verdade estão contra. Quando se protesta e se organiza para cobrar uma posição e obter uma resposta é exigível que do outro lado tenha alguém que receba essa demanda, se não houver, toda manifestação é inútil e nem deveria ter ocorrido. Neste cenário somos o João Batista pregando no deserto convocando para o arrependimento, no fim sobrará para nós comermos apenas gafanhotos e perder a cabeça no fio da espada para algum jagunço obediente. Inescrupulosos são todos os momentos sob os desígnios dos estúpidos. Compaixão e misericórdia são atributos de evolução espiritual, não há a mínima chance de encontrar essas coisas no meio de arrogantes onde o pedantismo aflora como um vazo sanitário entupido de dejetos. Eclodir algo infame apenas se trata de oportunidade fortuita dos gazes putrefatos do local. É assim que se constitui esse momento leitor de oportunidade, não se trata de exagero, mas de criteriosa abordagem de algo que mais parece um conto de horror de quinta categoria.
Nas cercanias dessa organizada loucura, temos de preservar um pouco de sanidade mental. Não pense em romantismo semântico nas entrelinhas dessa ocasião, estamos muito mais para o absurdo do que para o equilíbrio, fugaz é o momento onde se pode descansar a alma dentro de tudo isso, entre impropérios governamentais disparados aleatoriamente e que ricocheteiam no corpo esquálido da razão. A ignorância é um vazio absoluto, e do nada apenas sai o odor fétido de um vazio existencial que se torna predominante em todas as nossas ocasiões. Não sei exatamente se há resposta plausível para tudo isso, no ensaio da resenha sempre surge inesperadamente uma esperança vazia, uma penumbra flutuante que ousa oferecer algum conforto para uma alma que se equilibra a beira do abismo. Tradicionalmente o inesperado surge com soluções, costumam ser heterodoxas e invasivas. Mas o que exatamente poderemos desejar se nesse palco somos apenas os palhaços atribulados com suas piruetas tangenciando o risco de coisa pior? Nossa vida é uma contradição, que se adapta constantemente para obter lógica e permissão para a realidade e assim existir. Ser um oximoro não é confortável, e muito menos ajustado aos anseios pessoais de um existencialismo sólido, há plasticidade nesse contexto, e isso proporciona conflito permanente. A vida é um eterno tangenciar armadilhas. Ao roçar no risco o espírito adquire desempenho, experiência e coragem. Hoje o povo, em maioria, a camada que pensa e não depende de auxílios do governo, os que produzem riquezas querem uma solução. Encontraremos? Ou teremos de viver uma novela trágica de quinta categoria? Como somos brutos, acompanhamos as opções que se apresentam com desconfiança. Temos agora uma proposta da oligarquia para substituição do PT por um representante mais palatável, amigável para o grupo que domina este país tem mais de século. Mas acho que ninguém contou para eles que a esquerda trabalhou décadas para alcançar o poder que tem hoje, e eles não irão assim abrir mão desse poder completo para botar um sujeito do Centrão. Na presidência? Que não pertença ao Foro de São Paulo? De jeito nenhum, portando, ou é uma encenação para atribuir normalidade no processo, uma ilusão, ou há alguma carta na manga, e tem de ser muito poderosa. Entendam, foi permitido um aparelhamento completo de todas as instituições, eles hoje só entregam o poder se por algum milagre assim decidirem.
Assim flutuamos nesse oceano de hipóteses e propostas, não há bom prognostico e muito menos sensibilidade para proteger o povo do pior. O que vier será no atropelo, como tudo tem sido feito ultimamente. Não há razoabilidade nesse asfalto quente chamado Brasil, o que acontecer causará desconforto, Charles Bukowski também disse: “Quando os homens controlarem os governos, os homens não terão mais necessidade de governos; até lá nós estamos fodidos”. Então, é isso. Um eterno saltitar no chão quente com cuidado para não torrar os pés, e de alguma forma sobreviver a toda tragédia que se desenha no Horizonte perceptível do fundo do buraco onde nos encontramos.
Gerson Ferreira Filho.
Citação: Notas de um velho safado. Charles Bukowski. L&PM Editora.
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