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Suscetibilidade esgarçada.
Os tempos mudaram, os termos trafegam volumosamente entre redes sociais e a informação prontamente invade nossa intimidade, estresse, caos, estamos vivos dentro de uma aleatória poesia de Bukowski. O sentido não precisa ser exato, o significado fugiu para ser paradigma do álcool, no nosso caso, virtual, indefinido, e também embriagante e mortal. Neste ambiente que desliza entre mutações quânticas, a certeza muda de sentido e a alegria de um momento possui a arrogância fugaz de uma nova mensagem. Aqui malandros modernos enriquecem criando expectativas, fornecendo mais uma dose de estresse no balcão de oportunidades, dentro dos seus terninhos estilizados e seus vestidos parametrizados oferecem amostras de um sonho irrealizável. Ao menos momentaneamente, mas aqui a taxa de sucesso sempre é negativa, Não reclame, entorpeça-se na anilina que da colorido ao nada, sorria para o subterfúgio ousado, aqui o pretexto sempre será o ardil que envolve uma trapaça. Eu sei, a ocasião oferece uma náusea companheira, um desconforto suscetível ao aconchego com a alma desprevenida, aquela que ainda crê na verdade. Aqui, nesse ambiente, fomos escolhidos apenas para fazer número, fazer lastro, uma carga relativa e em determinados momentos dispensável, quando outros bens mais valiosos ocuparem seus espaços. Tudo que era apenas peso, será descartado, sem serventia, uma inutilidade que foi útil, porém no presente atual , não tem mais serventia, e você até poderá ser simplesmente ignorado por quem idolatrou e defendeu. Nesse mundo relativo, seja o menos idiota possível, é fácil, nesse mundo de estúpidos e imbecis. Seja canalha, não dê oportunidade a escumalha, que sentencia seus passos como uma infâmia, uma poesia sem ética de Bucowski: “Mulheres são caras coleiras são caras vou começar a vender ar dentro de sacolas laranja escuras grafadas: lume-lunar”. Apareça sem deixar rastro, suma sem marcar presença, pois a sentença da ocasião será a evasiva da sucumbência que terá de arcar. No fim, tudo dará errado, mas o culpado será você, seu papel no contexto é esse, não percebeu? Ou você acredita mesmo que seu político de estimação fará algo em seu benefício? Esqueça porque para ele, você nem sequer existiu. Essa chuva de informações a qual você se submete, vai desestruturá-lo, sem perceber. Procure um abrigo, permaneça no ambiente sem prestar atenção na anarquia continuada e proposital gerada para obter lucro, hoje interação social, acesso continuado a mensagens geram renda e muita gente quer sua atenção, sua curtida, seu repasse de mensagens. Filtre como for possível e não entre no olho do furacão. Faça quando for possível uma rede de amigos, com valores semelhantes aos seus, e de preferência aos não fanatizados. Um fanático, seja no que for não é boa companhia, o mundo de gente assim é restrito e concentrado, e eles consideram que todo restante está errado. Em toda diversidade possível do mundo, uma pessoa que alega ser portadora da única verdade é muito perigosa. O ser humano é contraditório, desorganizado, aleatório e a incoerência costuma ser sua parceira. O mundo, psicologicamente falando não é um lugar fácil, nem um paraíso. Isto aqui é um lugar de enfrentamento, de superação e confronto diário com uma enxurrada de desafios. Aqui a indignidade caminha com um sorriso nos lábios, ela sabe, sempre tem alguém distraído com o ambiente para ser sua vítima. Embora lindo, possuindo belezas extraordinárias, não estamos num lugar bom, num suposto paraíso. São raras as boas presenças nesse plano, elas existem sim, porém viva sempre com cautela. Por que citei Bukowski? Justamente por ele descrever esse mundo como ele é, sem filtros, injusto, cruel, sujo, perverso e grosseiro. Sua poesia fere sensíveis, seus textos são cáusticos e corroem a hipocrisia de uma sociedade que vive de aparências. Alguns diriam que ele era um degenerado, mas ele apenas relatava a realidade, bruta, sem evasivas politicamente corretas, o homem certo para esse nosso momento, onde uma cruel monotonia de vulgaridade paira no ar como uma bruma sufocante e invasiva para nossos valores.
Afinal, precisamos como catarse um pouco de desequilíbrio, Num baile que pede fantasias, dispa-se do bom senso e vá como o ambiente pede. Não se preocupe com a escassez de sentido e propósito, ofereça a si mesmo um intervalo útil dentro desse cenário. Ser aleatório nesse palco ajuda a suportar o clima. Apenas não seja injusto caso encontre pelo caminho alguém que realmente mereça crédito. Difícil, mas não impossível. Mimetize-se nessa circunstância para superar as ousadias da estupidez, pois afinal, adaptação significa sobrevivência. Não vou poupar vocês do caos de Bucovski título castanho claro: “Um olhar castanho claro aquele vazio imbecil e encantador de um olhar castanho claro darei um jeito nele. Você não precisa me enrolar mais com seus truques de Cleópatra cinematográfica você já se deu conta se eu fosse uma calculadora teria colapsado tabulando as infinitas vezes que você usou esse olhar castanho claro? Não que você não seja melhor com seu olhar castanho claro. Algum dia algum filho da puta vai te matar e você gritará meu nome e finalmente vai entender o que já deveria ter entendido há muito tempo”. Para os dias de hoje recomendo a leitura das poesias e textos diversos dele, pessoas sensíveis e politicamente corretas não recomendo, Essa que coloquei aqui é uma das mais leves, tem coisa mais pesada. Uma realidade bruta para preencher espaços ociosos e sem testosterona.
Gerson Ferreira Filho.
Citação:
O amor é um cão dos infernos, poesia. Charles Bukowski. Harper Collins Editora.
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