segunda-feira, 2 de maio de 2022

A curva do meio fio.

 



 A curva do meio-fio.



Gostaria de escrever uma cônica aleatória, algo sem rumo que se definisse apenas na ocasião distópica do atual mundo real. Entre relacionamentos e depoimentos, alguma coisa conforme o atual mundo virtual, onde entre redes sociais e no interior delas, travamos e observamos as paixões de uma forma contumaz se encontrarem para um diário desafio de convivência. Muitos ainda não perceberam mas já passamos, ainda de forma sutil, a integrar o curral eletrônico. Agora já existe um conflito tribal, um pouco de intolerância abrangente que no seu acumulo de energia gravitacional não vai escapar da compactação e aglomeração desejável pelo sistema.


Recentemente a vida quase me escapou, ou eu quase escapei da vida. Não sei se na hora H faltou-me decisão ou sobrou ainda um pouco de propósito para me assegurar ainda um lugar na lida, sei que ainda estou nessa trilha e sem ser protagonista vou metendo meu bedelho ainda que na surdina, nos momentos insanos que habitam o contexto mesmo e ainda assim que só me reste ser espectador desse espetáculo, de opiniões customizadas de acordo com a capacidade de cada nicho de entendimento. No meio desse caldo flutuam a honra, o critério, a lealdade aviltada, e o amor político com taxímetro. Ah, nesse quesito, uma enormidade de almas se entregam despretensiosamente aos encantos de gente de baixa reputação, mas que mal há? Irão dizer os sacerdotes da acomodação, como se vergonha na cara fosse algo descartável e por isso sem necessidade de apego determinante e insubstituível.


Cada um com sua régua, cada juiz com seu veredito e a consciência, como descreveu muito bem Dostoiévski em Crime e castigo, pode cobrar um preço razoável por decisões momentâneas que pareciam justas e confortáveis. Cada júri pessoal que se contorça em alternativas plausíveis e entregue a decisão escolhida. No resto sobra apenas a diversão antropológica de acompanhar todos esses debates inomináveis e de natureza peculiar a respeito dos mais variados assuntos, alguns curiosos e reveladores dessas verdadeiras colônias culturais cheias de cacoetes linguísticos próprios de bolhas particulares de convivência. Afinal, alguma diversão tem de ter, não só de atrito político vive o homem, e muito menos da sacanagem proveniente de políticos sínicos e pedantes.


Prosseguimos assim na companhia de poucos, os que valorizam a honra e o comprometimento com o que é correto, e que nos seja concedida a benção de sobreviver as investidas do baixo clero de onde se torna possível o oceano de iniquidade, e que a improvável vitória da virtude nos seja algum dia concedida. Porque como cita o poeta Horácio: “Não pode um homem ter melhor morte que: lutando contra o desconhecido pelas cinzas de seus pais e pelos templos dos seus deuses!”.



Gerson Silva Filho.

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