domingo, 11 de junho de 2023

Conflito permanente.

 

                                                 Image by 愚木混株 Cdd20 from Pixabay



Conflito permanente.



Estamos naqueles dias, onde viver o que foi vivido está mais confortável do que se vive hoje. Subitamente viajo paralelamente ouvindo paralelas de Belchior, quando do meu fusca azul arara incrementado ouvia naquele carro num possante TKR auto reverse, naquele trevo próximo a avenida Francisco Bicalho a 100 por hora nas madrugadas mergulhadas na densidade infinita dos meus sonhos. Todas as incertezas daquele momento me são muito mais amigáveis do que o cenário perverso que foi construído e onde me situo nessa margem instável. A maior parte do que construí ainda não existia, e nem uma mínima conjectura ou hipótese servia de abrigo para todo esse caminho percorrido. Todas essas hoje intransponíveis distâncias se aconchegam na intimidade desse momento venal que me suborna com delícias do que se foi, mas ainda vive em mim. Dentro da minha inquietude venci, cai no mundo repleto de crocodilos metafóricos, alçapões dissimulados em sorrisos revestidos de falsa amizade, e a perfídia de tantos que deveriam prestar socorro porém me estregaram apenas a infâmia. Viver não é para os fracos, nem para os dóceis, é preciso pescar o demônio em cada esquina, e estripá-lo sem nenhuma parcimônia apenas para marcar seu espaço no contexto da realidade. Naquele dia longíssimo, voltava de muitos beijos e amassos, e ainda impregnado do fervor da carne, me perdia na velocidade possível numa pista sem obstáculos. É muito bom estar vivo, mesmo dentro de seus limites evidentes neste palco improvisado onde vim parar. Enquanto eu vivia, o restante era inoculado com um patogênico psicológico de efeito gradativo destinado a perverter cérebros que um determinado dia viriam a comandar o país. Eu o Cuba libre, o cigarro e as coxas macias da minha loura e o restante se masturbando com ideologia e canábis. Sempre achei aquela gente esquisita, aquele povo que frequentava os barezinhos de Santa Tereza onanizando-se com altos papos filosóficos de falsos filósofos e ejaculando asneiras uns nos outros entre uma baforada da erva e outra. Eu trabalhava a semana inteira no comércio, pegava uma praia no fim de semana no Arpoador, e a noite o baile tradicional de domingo no clube do bairro, sem tempo para orgias mentais entre indivíduos universitários com banho vencido e roupas ensebadas. Para meu infortúnio, essa gente lamacenta comanda o país hoje, Claro, doutrinados, flutuam numa massa abjeta de conceitos distorcidos da sociedade e fazem questão de arrastarem todos para lá, o ápice existencial do verme está na podridão do ambiente.


Ao menos vivi, existi em um tempo romântico, fora das artimanhas ardilosas de eunucos da ideologia, e isso foi muito bom. Aqui do alto do tempo que passou contemplo e desfruto de lembranças que me são caras, que me pertencem e eu pertenço a elas, foram sorrisos, lágrimas e mágoas no fluxo inexorável do tempo que foge de mim, porém incorporado ao meu ser, aquele momento é inviolável me pertencerá para sempre. Metafisicamente eu sempre estarei lá e aqui e nunca lá ou aqui, apenas os insanos não conseguem se situar temporalmente em si, como estabeleceu Jung. E como os amplos espaços são meus, na avenida central do meu ser há caminho apenas para o que eu realmente desejar. E até utilizando as palavras de um dos mentores dessa gente, para ficar bem claro para eles, Sartre disse: “Corremos rumo a nós mesmos, e somos por tal razão, o ser que jamais pode se alcançar”. Sou inalcançável, até mesmo por mim. E voltando a Jean-Paul Sartre: “Sou meu passado e, se não o fosse, meu passado não existiria nem para mim nem para ninguém”. Estou fora do assanhamento perverso daqueles que venderam a alma aos ideólogos de botequim naqueles dias de baforadas confortavelmente inquietantes. No meu universo particular mando eu, e lá não tem lugar para este tipo de bestialidade ideológica. Embora parecendo, não sou solipsista, não sobrevivo apenas em mim mesmo, mas mantenho meu refúgio guardado e fortificado contra o assédio dessas loucuras artificiais. Lá não aceito os parâmetros vagabundos dessa ideologia nefasta que usa oportunistas de todas as espécies para solapar a integridade mental de quem por acaso escapou da doutrinação programada. No que puder fazer, não permitirei que passem incólumes, estes profetas da destruição, que nos arrebanharam para o sacrifício. E se tudo isto for uma simulação, serei a anomalia sistêmica, o desconforto de projeto no circuito lógico do programa. Aos poucos que sobraram com o discernimento integro recomendo cautela, vivemos numa época psicótica, e a sociedade está em pleno surto. Se vivemos entre loucos se faz necessário ao menos procurar entender a loucura, decompor estruturalmente o problema ajuda a encontrar a solução.


Jacques Lacan fala algo a respeito do processo: “Devemos nos deter nessas coisas, e não perder o caráter distintivo, se queremos compreender o que se passa verdadeiramente, e não simplesmente, com a ajuda de algumas palavras-chaves, ou desta oposição entre realidade e certeza, nos desembaraçar do fenômeno da loucura”. O ambiente no qual estamos mergulhados hostiliza a razão e a verdade, os atributos do equilíbrio foram descartados e substituídos por construção social produzida para o resultado obtido nesse hoje fora de sincronismo com a realidade, que prossegue em soluços de uma máquina que está fora do alinhamento correto. Essa loucura já ocupou e delimitou seu espaço no cotidiano, e hostiliza a boa e velha razão, apenas colhemos derrotas, se faz necessário reforçar com boa conduta no núcleo familiar para sobreviver a ignomínia, que transborda das instituições que deveriam trabalhar para o equilíbrio social, mas se transformaram em elemento de transformação social, guiadas por ordens do exterior. Negociaram a bom preço nosso destino sem constrangimentos e sem remorsos, já somos literalmente tratados como gado, como uma boiada, de acéfalos ruminantes conduzidos apenas pelo valor econômico atribuído ao conjunto. Estamos assim em conflito permanente para tentar existir de forma humana, comandados por almas atormentadas por delírio construído metodicamente através do tempo. Aquelas almas mal lavadas que puxavam um fumo na noite carioca, e saboreavam um licor mentolado, muitas delas hoje são as autoridades que produzem nosso amanhã. O que poderia dar errado? Lacan também cita: “O delirante à medida que ele sobe e na escala dos delírios, está cada vez mais certo de coisas postas como cada vez mais irreais”. Portanto, esqueçam qualquer esperança de alívio nessa provação, a tendência será o aprofundamento na insanidade. O maligno nos envolve nessa bruma corrosiva onde sobreviver passa a ser um ato de fé.



Gerson Ferreira Filho.

ADM 20 – 91992 CRA – RJ.


Citações:


Jean-Paul Sartre O ser e nada Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Editora Vozes.


Jacques Lacan O seminário livro 3 as psicoses. Zahar Editora.




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