domingo, 30 de junho de 2024

Desvio de percepção.

 

                                                      Image by Artista Digital from Pixabay. 


Desvio de percepção.



E aqui estamos, nesse período da civilização onde todos os valores derretem e escorrem pelo ralo preponderante que ocupa todo espaço cognitivo de um tempo. Como dizia uma velha canção, os anos dourados não oferecem mais seus beijos e a densidade da realidade não possui mais a consistência óbvia para se sustentar como algo plausível que permita existir sem sofrer. A maioria ainda leva uma vida alienada, aproveitando os vestígios de uma normalidade que hoje está rarefeita e pronta para deixar de existir, os mais humildes já sofrem restrições, mas a totalidade social será alcançada. Enfim, o objetivo dos discípulos do marxismo alcançou seu objetivo, transformar o mundo em algo insalubre para existir e viver. O que nos leva a conclusão: Não existe ocultismo maior que o marxismo. Se tem algo no mundo com as digitais do demônio é essa ideologia. O mal está a um passo da vitória total. Com controle social completo, pautas woke, consumo de drogas permitido e incentivado, comportamentos limítrofes incentivados e exigidos, criminalidade sem punição, a corrupção dos valores de sustentabilidade da sociedade foi um sucesso. Uma sociedade pedante e submissa a pauta política degenerada acredita que tudo que se vê hoje não passa de evolução, eu chamaria pelo nome apropriado, degeneração, decomposição cadavérica acentuada e infame de costumes e padrões civilizatórios para a sustentação de vida em comunidade e grupos. Libertinagem não é liberdade e concessões ao inaceitável colapsam sociedades. Não sei se vivo o suficiente para ver essa degeneração completamente e implacavelmente implementada, mas lamento pela juventude, por esses que receberão o inferno como herança. Mas o mundo lá fora, e fora digo fora das redes sociais, onde de alguma forma a verdadeira informação e a troca de ideias entre pessoas preparadas ainda existe, ignora completamente a realidade. Se você parar de se informar em tempo real, o mundo, a população se comporta como se nada demais estivesse acontecendo. Transformar humanos em gado é muito fácil. O clube de Paintball aqui do lado está cheio de jovens brincando de combate, circulando pela cidade, dezenas de bares estão cheios de gente comendo e bebendo à vontade, os estádios de futebol prosseguem enchendo, apesar dos preços proibitivos. Não há nenhum problema! A ignorância é uma benção já disse alguém por ai. Dá até vontade de embarcar nessa, de se desconectar da realidade e mergulhar gostosamente na alienação compulsória de um tempo, sofrer pela possibilidade futura? Ah, que chato. Vamos beber, usufruir o que ainda resta, amanhã a gente resolve essa coisa que paira no horizonte, e quando chega o amanhã, se empurra o problema para mais distante. Procrastinação, essa coisa tão agradável, o brasileiro é um indivíduo postergado, ele nunca se levanta e enfrenta o problema de frente, em maioria, vive no limbo da decisão. E depois quando está arruinado, culpa todo mundo a sua volta pelo fracasso que o cerca de forma brutal. J. O. De Meira Penna disse certa vez que vivemos em ciclos aqui: “O que é notável nos célebres “ciclos” da história do Brasil é que a lição jamais é aprendida. Gostamos de ter tudo de graça. Sempre queremos colher a fruta antes de plantar a árvore. Assim foi o pau-brasil. Assim, o açúcar. Depois o ouro e os diamantes. O algodão. Mais tarde, a borracha, a laranja, o café. Boom e queda. Esperanças excessivas, lucros formidáveis, o luxo, o esbanjamento e depois a ruína e o desânimo. Sempre as mesmas causas e os mesmos resultados. Um eterno retorno”. Então, já tivemos oportunidades demais, e o desleixo com o futuro nos transportou até aqui, um período onde boçais nomeiam conservadores como fascistas, e beber um copo de leite virou simbologia oculta de culto ao extremismo, sim é muito tosco, foge da compreensão, mas protelar a necessidade do tempo provoca efeitos bizarros na construção da realidade. Funciona como uma profanação do método, e assim temos o inimaginável cenário habitado por estultices de varias formas possíveis. Se um desvio se apresenta e você não o corrige, ele vai se agregando a outras formas de realidade até atingir uma massa crítica que possibilite o desejo de ser completamente predominante no cotidiano de todos. Por acadelamento explicito, hoje corremos o risco de sermos completamente dominados por loucos. Mas como supracitei, a vida lá fora continua numa boa. Já se nota alguma reclamação quanto aos preços da alimentação, afinal, ao menos isso a turma tem de perceber. A esperança está no processo degenerativo presente na decomposição daquilo que apodrece, e como tudo que entra neste ciclo, acaba por si mesmo consumido em sua totalidade pelo processo em si da natureza. A decomposição inevitável da sociedade se apresentará como inexorável. E assim sendo os degenerados terão seu fim previsível dentro da realidade que eles mesmos estão construindo. Não é questão de hipótese mas de ciclo natural. Os detalhes da decomposição, embora a população se recuse a perceber, estão se evidenciando permanentemente.


Não sei se dessa vez será possível um retorno a alguma normalidade no futuro, não para essa geração corrompida. As proporções estão tão desestabilizadas que talvez um retorno a normalidade depois da fervura ideológica se consumir em suas platitudes, restará algo que se aproveite como material reciclável para uma reconstrução social. Estamos em cenário quase pronto para o famoso “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley, com todas as barbaridades impensáveis dentro da surrealidade que ele contém. Meira Penna aborda o tema: “A imagem do Admirável Novo Mundo possui um sentido ao mesmo tempo de crítica e aviso. É válido para todos e especialmente para nós. O sentimento é, na verdade, a função menos bem-vinda nesta sociedade científica moderna que se transformou numa sociedade de consumo e abundância, desumana e mecanizada”. Todas as barbaridades contidas nessa estória futurista estão se realizando hoje. Uma sociedade impiedosa, dessensibilização explícita, sem misericórdia com o próximo e com a alma vendida a um totalitarismo esmagador de toda e qualquer vontade particular. Onde o preconceito com a diferenciação passa a ser a regra, e somente o que for estabelecido como padrão comportamental será permitido, mesmo que contrarie seus legítimos impulsos particulares. Objeto, é o que você é, e o que você, seus filhos e netos serão nessa sociedade, se é que no futuro laços familiares serão permitidos, a utopia prevê que não. Uma embalagem Tetra Pak não é irmã de outra, apesar de ser constituída de material similar e produzida na mesma fábrica. Se trata apenas de uma embalagem padronizada para um fim específico, servir de contentor para algum produto industrializado. No marasmo explícito da nossa brasileiríssima sociedade aguardamos o fim, a trilha sonora deveria ser a música de uma banda de rock do início dos anos setenta The Doors: The end. Ficaria perfeito, nos acordes sistemáticos e sorumbáticos de uma canção que antevê o terror, o presságio que chega com o odor da tragédia anunciada, imperceptível para uma sociedade que está condenada e ainda não se deu conta do seu cruel destino. O mal tem paciência, ele planeja enquanto todos se divertem na ocasionalidade louca de uma circunstância fortuita. Você está preparado para ser ceifado?




Gerson Ferreira Filho.

ADM 20 – 91992 CRA – RJ




Citação: Psicologia do subdesenvolvimento. De José Osvaldo de Meira Penna. Vide Editorial.


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segunda-feira, 24 de junho de 2024

O efeito curral.

 

                                        Image by Mabel Amber, who will one day, from Pixabay



 O efeito curral.



Então, tem um tempinho que não falo diretamente de política, os que me acompanham sabem que sempre falo de política, porém em muitas vezes o tema está inserido no texto de forma subliminar, estamos em tempos perigosos, a democracia morreu em meio a fanfarronices e falta de coragem. E os direitos pessoais são relativos e de consistência flutuante na margem de interpretação do poder vigente. Sendo assim se faz necessário cautela, apenas em democracias verdadeiras, a opinião é livre, até aquelas mais desprezíveis, porque é isso que representa liberdade, o direito de ser um canalha ou um cafajeste, tento apenas a letra da lei regulamentada como freio. Se ofender alguém, terá de pagar. Não é o que vemos hoje, mas vou falar de procedimentos e comportamento de grupo. Deve apenas causar constrangimento em prosélitos e fiéis da nova forma de religião criada no Brasil, o engajamento descerebrado. Neste sectarismo pós-moderno, de textura áspera e marcante com um vinho rascante que dá um certo desconforto ao ser ingerido, temos muita gente boa, com bom padrão cultural, desenvoltura intelectual suficiente para perceber que estão se entregando a um culto da personalidade. Não há nesse meio mais análise de hipóteses, decomposição programada de conceitos e tendências, análise estatística quanto ao que pode ser possível em um futuro planejado. Tudo tem de vir unicamente de uma central de comando, como uma faina de contingência, a ordem deve ser obedecida como se viesse dos melhores especialistas na área da política. O Processo é exatamente igual nas duas vertentes, nas duas frentes políticas predominantes. Não há diferenciação, não há margem para o raciocínio independente, de onde geralmente surgem as boas propostas, tudo gira em obedecer, em cumprir o que foi determinado por uma única pessoa, que se tornou no oráculo infalível de um tempo. O cacique do grupo, seja ele qual for, como já citei, não existe diferenciação, ele, o morubixaba decide assim através de acordos, que um pulha deve e pode ser o representante que receberá os votos dos devotos, ou no caso do lado que governa, um completo incompetente será ministro de alguma área vital, o prosélito tem de apoiar sem contestação nenhuma, afinal, a fé não é questionável, não é possível questionar a decisão saída da cabeça de um deus. A patuleia, a choldra tem apenas que apoiar e fazer campanha para que seu ídolo tenha sucesso, concordem ou não com o que foi decidido. A palavra concordar foi mal utilizada aqui, essa gente não possui essa atribuição, apenas gente livre pode exercer tal critério. E assim chegamos em um ponto importante, a prisão mais efetiva é a mental. Nela se prende de intelectuais a boçais completos, todos no mesmo curral mental. O sentimento de pertencimento a um grupo azeita os relacionamento no exíguo espaço psicológico que contém todas as vítimas das falácias psicológicas empregadas de forma sutil para arrebanhamento de eleitores potenciais. Neste pequeno estábulo psicológico se encontra de tudo: jornalistas, influenciadores, ideólogos, engenheiros, advogados, médicos, escritores e claro a multidão de pessoas simples, geralmente capturadas pela necessidade de possuir um pai político que as ampare na circunstância. A insanidade costuma ter fronteira delimitada, e depois de ultrapassada não há mais como saber o que é certo e errado, tudo se arranja como um complexo caleidoscópio de tendências onde a aleatoriedade constante dos reflexos induzidos nos proporcionam o arranjo específico para apenas aquele momento. Então, não se surpreendam com o padrão estabelecido de insanidade e submissão, pensar por conta própria dá trabalho, procurar alternativas se torna extenuante e o desgaste mental de ter de enfrentar o lugar comum da maioria estabelecida,  e isso empurra muitos para o balaio dos etiquetados como gado. Ser independente proporciona conflito permanente, porque esse sujeito é diferente de nós? Como ousa discordar e criticar nossas premissas? Nosso líder possui a verdade, e sem ela não aceitamos existir. A controvérsia deve ser eliminada para que haja a harmonia definitiva, o padrão requerido dentro do espaço vital que nos sustenta, o curral. Neste caldo cultural fermentado nas nádegas de astutos políticos, vive boa parte da população, de peões incultos até aos com formação universitária e doutorados e mestrados. Eles, os políticos, preparam a ração que será servida para a matula, aculturada ou não. Uma vez cevados, serão conduzidos para o destino final, o apoio político ao projeto de poder onde eles, não serão incluídos, a serventia de gente assim acaba no processo eleitoral.


Não se entristeçam com a realidade, e muito menos tenham convulsões espasmódicas por entenderem que todos vocês, seja de que lado estiverem, são apenas isso que descrevi. Reparem, basta surgir uma novidade no mundo político, e se essa novidade é boa ou não, só se saberá se a ela for oferecida uma oportunidade, depois da eleição e da efetivação no cargo. Um dia lá no passado nós demos a chance a um novato, desprezado por seus parceiros políticos no congresso, deu certo? Não! Se tivesse dado certo não estaríamos na situação onde nos encontramos hoje. A falha evidente se consolidou com a oportunidade dada ao que existe de pior na politica para tomar o poder. Imagine, doutores renomados em economia preferiram apoiar o que existe hoje a se aliar com um governo supostamente conservador. O que prova mais uma vez que doutorados empilhados não passam de papel higiênico se não servirem para proporcionar inteligência. Eu já escrevi a respeito disso, inteligência emocional e coeficiente de inteligência. Está, se não me engano no meu livro Vestígios do cotidiano. E não existe maior prova de burrice do que alguém supostamente preparado academicamente na área da economia e administração do que apoiar um governo com a estirpe que temos hoje. A esquerda pertence a uma linhagem destrutiva desde os primórdios de sua estruturação acadêmica, são um erro sistemático reproduzido para causar destruição de países e populações. Não sou eu que afirma isso mas quem lê os grandes autores da área como: Thomas Sowell, Mises, Hayek, Milton Friedman, Hans-Hermann Hope, Karl Popper e tantos outros, sabe muito bem a profundidade dos absurdos dessa doutrina. Partindo do princípio que gente assim, do mercado financeiro conhece estes autores, se torna inadmissível prestar apoio para um governo que tem no marxismo sua base intelectual. Para essa gente, intelectualidade não passa de uma alcunha engraçada. Assim temos uma verdadeira patrulha por opinião, não há possibilidade de divergência, você tem de ser uma coisa ou outra. Nada de divisionismo, pensar por contra própria, criar ou apoiar alternativas que possam surgir. Seu lugar é no curral, no estábulo, de um ou de outro político. Lembre-se da mão que o alimenta, ração, água, vacinas em dia, segurança dentro do grupo, interação social garantida entre os convivas de espaço confinado. Uma delícia! Quantos assuntos deliciosos surgirão de uma conversa onde o aceitável gira em torno de apenas glorificar o dono da propriedade rural a qual todos pertencem, não? Não há desconforto onde apenas se fala de uma única coisa e todos concordam plenamente com ela. Eu particularmente me situo fora dessa caixa. Minha natureza, apoio quem desejo e deixo de apoiar se não corresponder as minha expectativas, sem ressentimentos. Trabalhe certo e continuará tendo meu apoio. Faço parte de uma minoria teimosa, que insiste em pensar por conta própria, independência é uma delícia! Espero conseguir continuar sendo assim, sem arreios e cangas políticas. Ainda, graças a Deus, consigo pagar minhas despesas sem ter de vender minha alma no mercado persa do mundo político. Espero que continue assim, é saudável, gratificante. Quem preferir e sentir prazer em ser possuído por algum político, não se acanhe, não serei eu que criará dificuldades. É da democracia, a verdadeira, onde todos podem exercitar todos seus desejos e taras dentro de um limite estabelecido por lei. Mas por favor, só não apoiem quem vai trazer o inferno para todos nós.



Gerson Ferreira Filho.  

ADM 20 – 91992 CRA – RJ


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sábado, 22 de junho de 2024

Hipóteses hiperbólicas.

 

                                                        Image by Dave Smith from Pixabay. 



Hipóteses hiperbólicas.



E assim neste contexto bizarro que sangra platitudes exógenas, o inexplicável se faz presente e assume o controle da realidade para usufruir de nossa passividade intrínseca que acossa nossa natureza vil e degenerada quanto aos valores que estabilizam o conjunto social. Não falo de simples conflito com a ambiguidade que acossa o íntimo da alma como o sofrimento de Riobaldo com relação ao Diadorim explicitado em Grande Sertão veredas por Guimarães Rosa, um evento psicológico desse, hoje não seria problema. Conflitos de percepção na nossa atualidade fazem parte do ferramental de desestruturação psicológica de populações. Toda uma construção de desqualificação e empobrecimento cognitivo foi aprimorada através dos anos para que chegássemos até aqui. Houve planejamento, não foi aleatório, intelectuais de esquerda cumpriram muito bem seu papel desestruturante para que a sociedade perdesse seu conteúdo de proteção psicológica baseado nas tradições. Por que cito o Grande sertões? Porque hoje somos tão escravos da ambiguidade como seus personagens, um algo que não deveria mas se faz presente para perturbar nossas almas e seus parâmetros de formação, que se desviam da razão para o tormento cotidiano das circunstâncias, de desejar sem ser possível, de escolher, internalizar, introjetar uma percepção errônea para ser sublimada a ponto de ser aceita pela realidade. Na textura de uma abordagem magnífica da literatura se exprime. “Assim, uns momentos, ao menos eu guardava a licença de prazo para descansar. Conforme pensei em Diadorim. Só pensava era nele. Um João -congo cantou. Eu queria morrer pensando em meu amigo Diadorim, mano-oh-mão, que estava na serra do Pau-d’Arco, quase na divisa baiana, com nossa metade dos só-candelários. Com meu amigo Diadorim me abraçava, sentimento meu -voava reto para ele. Ai, arre, mas: que essa minha boca não tem ordem nenhuma”. Entendam, hoje estamos em conflito semelhante quanto aos valores que nos cercam, uma coisa enviesada, algo que reclama sentido no meio de uma tormenta psicológica na tentativa de entender e conviver com as contradições do que se apresenta como realidade. A imprecisão abraça a incerteza do aquilo que se vê, que se sabe e ainda assim provoca algo que não deveria provocar. A distração gradual que assim fragiliza com seu subterfúgio o emocional. E assim, desviados do caminho e sem perceber a mudança de rota, o destino nos parece uma pantomina esquálida que se apresenta como regaço a um amanhã de tormenta previsível, como o romancista disse: “viver é muito perigoso”. Hoje, nossa realidade já não possui certezas, apenas dúvidas, ou no mínimo um estranhamento sutil como uma neblina no entendimento para dessensibilizar a percepção de que algo está muito errado mais ainda assim deve ser aceito para conforto da razão. Numa dislexia instrumentalizada para desestruturar a compreensão, seguimos no contexto onde a maioria nem faz ideia da textura da realidade e seus pormenores, que um dia no passado foram o tesouro da civilização. Os truques da percepção são intensos e profundos, Se faz necessário sobreviver nesse caminho, romper auroras invadir ocasos circunstanciais e absorver a efêmera atmosfera desses momento, para que sejam o combustível que alimente um provável, porém incerto amanhã. Se na normalidade já não existem certezas, muito menos aqui, nesses atalhos psicológicos dos momentos onde a fugacidade do destino se torna impaciente como pretexto de mau agouro. O deslize fortuito para a armadilha se apresenta como a alma do truque e assim necessitamos de análise, de raciocínio para escapar e prosseguir com alguma noção do que é certo e errado, pois lidar com o perigo e com o engano fortalece a alma. Aquilo que nos engana também ensina, por isso se faz necessário possuir um espírito inquisitivo, perseverante na busca por respostas decisivas, e não acreditar de pronto naquilo que se apresenta como fato consumado. Dissecar o argumento é o propósito, apenas com a análise das minúcias subliminares se obtém a resposta desejada e que satisfaça a nossa vontade. E assim sendo as maravilhas literárias que nossos ancestrais nos deixaram, proporcionam a qualidade necessária para entender o cotidiano, isso se você tiver acesso a elas, eu sei, hoje isto não é prioridade no ensino, e por isso a dificuldade de entender o cenário. Entenda, muitas vezes e apesar de tudo a sua volta, indicar que há erro, você ainda assim está certo nos seus pressentimentos e desejos. O processo ilusório se faz cruel e determinado, como no lamento de Riobaldo: “Mas os olhos verdes sendo os de Diadorim. Meu amor de prata e meu amor de ouro. De doer, minhas vistas bestavam, se embaçavam de renuvem, e não achei acabar para olhar para o céu”.



Ao não perceber que o que via era mesmo o que sua percepção olhava com paixão, não lhe foi possível viver de fato o que de jeito matreiro se ocultava perante aos seus próprios olhos, e assim não usufruiu do que seria possível alcançar. Ah, esses truques da percepção que nos atormentam. Perscrutar com zelo a realidade se faz necessário e pode mudar o rumo da sua vida, não se deixe enganar por aquilo que aparenta ser, ou acabará nessa situação descrita no romance: “Não escrevo, não falo! - para assim não ser: não foi, não é. Não fica sendo ! Diadorim. Eu dizendo que a mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava as rezas da Bahia . Mandou todo mundo sair. Eu fiquei. E a mulher abanou brandamente a cabeça, consoante de um suspiro simples. Ela mal me entendia. Não me mostrou de propósito o corpo. E disse: Diadorim nu de tudo. E ela disse: - A Deus dada. Pobrezinha”. E perante a realidade ainda lamenta mais uma vez: “Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúia, como eu solucei meu desespero”. Nunca leu essa obra literária? Lamento, meus pêsames por sua evidente incultura explícita. São essas coisas que não são mais ensinadas e incentivadas que fazem toda a diferença. Não possuímos essa aculturação generalizada impunemente. O processo de empobrecimento cognitivo começa ao negar acesso ao vasto trabalho literário que possuímos, uma escola não trabalhar com esse livro para interpretação de texto e análise gramatical é um desperdício de conhecimento colossal. Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, eu recomendo. Pois, como o próprio autor recomenda: “viver é muito perigoso”. Eu acrescento: ainda mais para os despreparados e incultos.



Gerson Ferreira Filho.

ADM 20 – 91992 CRA – RJ


Citação: João Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas. Companhia das Letras.    



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segunda-feira, 17 de junho de 2024

O colapso das sinapses.

 

                                                       Image by Gerd Altmann from Pixabay. 




O colapso das sinapses.




Olá! Em tantos intervalos de realidades possíveis, cá estamos, entre lacunas cognitivas e desajustes sincrônicos de uma etapa perdida, entre drinques e petiscos, flutuamos performaticamente na margem conflituosa dos parâmetros para ser exatamente tudo aquilo que não deveríamos ser. Aqui, no nosso plano atual, a contradição se oferece abusadamente sedutora com um desempenho digno em apelo construtivo de hipóteses alucinógenas de um contexto que abraça a razão como se fosse custodiado por essencialmente loucura das fazes de um eclipse. Um manuseio, se fosse possível, de sombras e luz para distração no espaço delimitado das certezas. E se este exórdio psicodélico não te satisfaz, não se preocupe, sua relevância perante o todo não lhe confere autoridade para desconsiderá-lo, apenas pode ser constrangedor para você que não possui conteúdo intelectual para filtrá-lo dialeticamente e assim entender que aqui a premissa não é o ponto de partida, mas algo após o silogismo estrutural de uma dedução pós anárquica da estrutura do tempo. Tenha uma cosmovisão versátil e qualificada para entender a realidade, filosoficamente somos um acidente que pensa, estruturalmente a metafísica fez de nós a poeira do ultimo colapso estelar ocorrido em algum extremo da criação. Subliminarmente oculto debaixo de uma submissa atitude, se pode encontrar todo sentido para ser assim sem coerência e apreciar a ignorância como terreno fértil para sobreviver na amplitude estéril do desconhecido. Atribui-se apego a verdade científica e a respeito disso Mário Ferreira dos Santos tem algo interessante a dizer: “A verdade científica é relativa. Não porque renuncia a penetrar até a última ratio (razão) das coisas, mas também porque só se aplica à parte objetiva da realidade tempo espacial. As leis científicas não são imutáveis nem inderrogáveis, pois muitas delas conhecem hoje uma redução dos seus valores axiomáticos. Poderosas hipóteses tornam-se fracas e a ciência se vê forçada a constantes renovações que, de ano a ano, se tornam mais numerosas”. A ciência se atualiza constantemente nesse duelo infinito com a necessidade de progresso e de conhecimento conforme as incertezas desfilam desafiadoramente neste palco que nos encontramos, talvez para um lúdico jogo estatístico procedimental de algo ou alguém. A realidade se assume incólume nesse momento cartesiano do tempo que dentro de seu pragmatismo metódico influi no trajeto de acordo com sentenças pré estabelecidas como circunstâncias aleatórias que se oferecem no percurso de todas as ocasiões. Mário Ferreira dos Santos tem mais alguma coisa para dizer: “Não é missão da ciência penetrar nas entranhas da realidade, mas achar meios de ação positiva. No entanto, aquela, ao descobrir alguma coisa, descobre um novo enigma. A noção concreta precede a abstrata, a técnica precede a ciência. O homem antes de conhecer as leis da alavanca, conheceu a alavanca e a usou”. Ao acumular conhecimento científico, nos distanciamos de outros valores, e assim corremos o risco de desequilibrar a equação existencial que nos sustenta como seres humanos. A dessensibilização inerente ao avanço científico já pode claramente ser notado hoje, com o descuido com as novas gerações e sua evolução cultural como sociedade. Na busca constante nesse garimpo por respostas científicas, negligenciamos nossa própria natureza humana, não nos importamos mais com parâmetros civilizatórios e a manutenção da tradição, porque como uma febre do ouro que contagia garimpeiros, a ciência brutaliza o indivíduo, o absorvendo totalmente para uma nova forma de vida menos humana e mais artificial. A religião, seja ela qual for, passa a ser encarada como algo desnecessário e supérfluo dentro desse cenário científico e lógico, onde a transcendência filosófica e metafísica passa a ser apenas um jogo de palavras sem sentido para uma geração onde a tecnologia sempre prevalece como realidade única no contexto existencial das populações. E assim sendo temos a segregação populacional por capacidades, por potencial produtivo, por resposta possível dentro de uma análise mecanicista e fria de números que não possuem lastro axiomático para se realizar em plenitude no cenário contextual da realidade. A linearidade causal tem como propósito algo não humano, e deve por segurança sempre estar sob controle do conceito filosófico de quem a utilizar, ou se perde a humanidade como o perfil da criação. Este distanciamento inadequado deve ser submetido ao controle de quem venha a se propor ao gerenciamento de toda e qualquer ocasião onde se encontre um novo fluxo de propostas científicas plausíveis de se tornarem acervo útil de conhecimento. A abordagem humana não pode ser descartada ou atenuada em nenhum momento da evolução, ou deixaremos de ser o que hoje somos.


Então, vamos a mais um pouco de Mário Ferreira dos Santos, ah, você nunca ouviu falar dele? Lamento, sua bagagem cultural está vazia. Vamos lá: “quanto mais longe, mais coisas vemos; quanto mais alto, mais coisas abrangemos; mas, em compensação, menos vemos o individual e o singular. Aumenta a extensão, diminui o conteúdo, e perdemos os pormenores. Do alto de uma montanha, podemos ver um vasto panorama que abrangem muitas coisas, mas perdemos os pormenores das coisas que estão a distância”. São nestes pormenores que fogem da nossa visão ao mergulhar profundamente na ciência que representa a nossa humanidade, o nosso amor ao próximo, a necessidade de convivência social saudável e construtiva dentro de padrões culturais sempre acumulativos e em desenvolvimento. O amor a seu semelhante não se encontra na ciência, ele está no detalhe que ao expandir essas implacáveis lonjuras do conhecimento científico se perdeu na indefinição que a profundidade do espaço criado entre elas definiu na embriaguez das descobertas e do acúmulo de conhecimento a insensibilidade destrutiva dos melhores parâmetros de convivência e aceitação. Ver tudo isso perder a sua origem não é uma boa opção, As sinapses que nos conduziram da ferramenta de pedra até ao fogo reconfortante e útil. Um dia, essa sinapses, se isso continuar, podem ocupar algo muito diferente de nós. Onde existe a possibilidade de nos tornarmos prisioneiros como algo remanescente da humanidade, mas trancado em estrutura artificial do que criamos para nos servir e acabou nos absorvendo. Poderá a alma ser aprisionada? Como um gênio numa garrafa? Introjetados neste ambiente seremos capazes de amar, de sonhar, de mergulhar profundamente no nosso subconsciente e continuar a produzir arquétipos que irão nos representar a vida que um dia tivemos e uma vez já neste momento tecnológico não teremos mais? Nossa análise combinatória particular será capaz de produzir probabilidades aceitáveis para uma vida admissível dentro de tudo isso? A filosofia e a metafísica cuidam desses detalhes, é por isso jamais devem ser negligenciadas e postas de lado para viver apenas de ciência. Raciocinar, questionar, subverter a razão e aprimorar a percepção. A desconexão com a espiritualidade presente em nós delimita e decide o ponto de corte civilizatório, a partir desse ponto o colapso se torna uma realidade. Ao perder esse tênue vínculo com o que transcende não é mais possível ir além do que poderíamos ser. Mas também podemos considerar que hoje já somos prisioneiros de um revestimento biológico, frágil e limitado, então, se for assim, como será o novo ambiente de vida?




Gerson Ferreira Filho.


ADM 20 – 91992 CRA – RJ




Citação:


Filosofia e cosmovisão de Mário Ferreira dos Santos. Coleção Logos da É Realizações Editora.  



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segunda-feira, 3 de junho de 2024

Nossas peculiaridades.

 

                                                    Image by bere von awtburg from Pixabay. 



 Nossas peculiaridades.




Assim sendo, nessas particularidades estranhas e de estrutura caleidoscópica, prosseguimos como sociedade de senso criativo adaptável a qualquer intromissão conceitual que por acaso venha a se apresentar como objeto de sedução compulsória, aqui para a maioria o propósito, o objetivo nunca foi prioridade, a vida segue submergindo na aleatoriedade confortável da incerteza que abraça o critério altamente volúvel chamado sorte como o destino final da trajetória de vida. E Deus que nos ajude, porque apenas o milagre esporádico pode nos salvar de uma existência miserável. É certo, o ser humano sem propósito não é muito diferente de um boi no pasto, mas nestes trópicos escaldantes é assim, não há objetivo estabelecido para saltar de classe, de padrão de vida, de planejamento através do tempo para emergir mais a frente em futuro melhor. E sendo assim, estamos prontos agora para que aqui seja o laboratório de experiências sociais exóticas de manipulação de comportamento, se existe vazio, ele será ocupado por algo ou alguma coisa. Onde melhor seria palco para gestar absurdos se não em lugar onde a mansidão e a irrelevância comportamental tem profundas raízes na alma dos habitantes? Somos vítimas da nossa particular construção comportamental onde a ausência do objetivo traçado na precoce idade leva a maioria de nós a um perfil de flutuação inconsistente na estrutura existencial do tempo que nos foi concedido. Não por falta de aviso de alguns poucos intelectuais que ainda podem ser referência na nossa depauperada academia, onde hoje apenas sicofantas do ensino, com suas proposituras de latrina infestam as organizações de ensino. Gilberto Freire na sua obra Casa-grande e senzala já descrevia de certa forma essa origem, podemos dizer original que possivelmente compõe o comportamento aqui: “A singular predisposição do português para colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África, nem intransigentemente de uma nem de outra, mas das duas. A influência africana fervendo sob a europeia e dando um acre requeime à vida sexual, à alimentação, à religião; o sangue mouro ou negro correndo por uma grande população brancarana quando não predominando em regiões ainda hoje de pele escura”. Ah, lamento informar, você descendente de portugueses, a maioria aqui, apesar da sua branquitude hoje tem um teor de mestiçagem no passado, a Península Ibérica foi dominada por trezentos anos por Mouros, e eles não eram brancos, ninguém domina por tanto tempo um território sem deixar na genética populacional sua marca. Sim, o branco europeu que chegou aqui já era batizado geneticamente e portanto, com toda a carga comportamental de sua ancestralidade difusa, distribuída para delimitar e implementar gostos e prazeres que pertenceram a todos os seus antepassados. Em termos de adaptação, um sucesso, mas de certa forma, de posse de uma flexibilidade bem maior do que os europeus caucasianos puros, na sua natural inflexibilidade de adaptação a novas regras e costumes comportamentais. Com essa predisposição para aceitar o diferente, portugueses se casaram com índias, com africanas, e assim temos hoje uma população predominantemente parda. O que nos dá vantagem adaptativa e ao mesmo tempo fragilidade afetiva ao sermos solícitos a qualquer disparate oferecido por agentes externos que buscam fragmentar o nosso convívio social. Importando preconceitos extremos de divisionismo de países onde caucasianos intolerantes cultivaram por séculos rancor e ressentimento tribal entre suas populações, hoje temos também aqui focos de intolerância extrema e de políticas segregacionistas daquilo que é muito misturado. Não há aqui um indivíduo que não tenha algo de índio em si, talvez seja exagero, mas uma quantidade considerável de habitantes desse lugar chamado Brasil. Se não possuir genética indígena, está impregnado culturalmente com o perfil natural dessa terra. Eu pessoalmente sei, tenho doze por cento deles, já fiz mapeamento genético, tenho negros também, judeus, e predominância caucasiana, que está presente na cor da minha pele. Então, seus hábitos, suas preferências alimentares, seu jeito de falar um português diferente do de Lisboa entrega que você, tenha a cor que tiver, é um produto desse pedaço tropical de mato. Tenha vindo de onde vier, da África, da Europa, do Japão etc. Aqui o turco come tapioca.


No livro de Gilberto Feire cita essa abrangência cultural onde estamos mergulhados até o pescoço e um pouco mais: “Teodoro Sampaio que pelo estudo da língua Tupi tanto chegou a desvendar da vida íntima dos indígenas do Brasil, afirma que em torno à habitação selvagem e “invadindo-a mesmo com a máxima familiaridade, desenvolvia-se todo um mundo de animais domesticados a que chamavam mimbaba”. Mas eram todos animais antes de convívio e de estimação do que de uso e serviço: “Aves de formosa plumagem, como o guará, a arara, o canidé, o tucano, grande número de perdizes (inhabi ou inhabu), urus e patos (ipeca) animais como o macaco, o quati, a irara, o veado, o gato (pichana) e até cobras mansas se encontravam no mais íntimo convívio”. Havia entre os ameríndios dessa parte do continente, como entre os povos primitivos em geral, certa fraternidade, entre o homem e o animal, certo lirismo mesmo nas relações entre os dois”. Agora, digam, como podemos implementar um ódio a uma diferenciação com essa herança comportamental desse tipo? Onde a fraternidade era a regra primordial de convivência entre todos os seres vivos? Poderíamos até conjeturar que, os civilizados eram eles e não aquela turma fedorenta que veio da Europa onde o hábito do banho não era lá essas coisas primordiais. Tudo bem, algumas tribos comiam carne humana, mas eu os perdoo pois o cheiro do europeu pedia carne bem passada, no churrasco ancestral. Não há civilização sem suas esquisitices e costumes controversos. O europeu vivia coberto de lodo fétido originário de uma pele gordurosa própria para o frio, e que aqui nos trópicos tem um efeito devastador no aroma pessoal. Lembrem-se, inventaram poderosos perfumes para neutralizar a falta de higiene pessoal. Bastava um banho bem tomado por dia. E assim temos nosso particular pedaço de realidade, onde até descobri que o nome bichano que dava ao meu gato tem origem tupi, pichana. E que um delicioso aipim cozido quentinho com manteiga alimenta minha ancestralidade num casamento perfeito de sabores. Meu percentual escandinavo predominante se casou com a índia formosa de um paraíso perdido, e assim como a maioria aqui, misturados estamos, não só conceitualmente mas de fato. E se de fato somos o produto de tudo isso, não devemos alimentar o ódio divisionista, o que até nos fragiliza na forma comportamental, nos fortalece como algo que podemos trabalhar sim, para que não sejamos vadios e indolentes. A malemolência que nos fustiga deve ser trabalhada para que produza um futuro produtivo e sem diferenciação, pois a cor da pele aqui não diz o que você é de fato, e afinal, o que nos diferencia na realidade é o caráter, os valores e o grau de civilização no qual é possível viver. Todos nós temos um pouco da totalidade, seria insano não entender isso.



Gerson Ferreira Filho.




Citação: Gilberto Freire, Casa-grande & Senzala. Global Editora.  



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