Image by Gerd Altmann ftrom Pixabay.
A estupidez sagaz.
Então, vamos conversar mais uma vez a respeito dessa época controversa e desalinhada com a sensatez na qual vivemos. Quem acompanha o que escrevo e escrevi bastante até aqui, seis livros e possivelmente um sétimo ano que vem, conhece muito bem as feridas do nosso tempo. Pois tudo o que faço está alinhado com esse cotidiano infame da civilização atual, entre citações de qualidade onde grandes autores da humanidade são mencionados e com seu referencial de categoria procuro enriquecer culturalmente quem acessa meus textos. Está tudo no balcão, disponível, pronto para consumo e para proporcionar uma visibilidade melhor da realidade que nos abraça nesse momento. No texto bruto, muitas vezes com alguns erros no Blog, em áudio caseiro e amadoramente construído na minha voz no meu canal do Telegram, e preservado para a posteridade em livros que poderão ser consultados para informação em uma viagem de época num futuro incerto. O que escrevo não é para os doutores e especialistas culturais, apesar que eles podem também acessar para uma viagem rápida em temas que certamente conhecem. Mas sim para os que nunca tiveram acesso a informação de qualidade cultural e a autores relegados ao esquecimento estrategicamente por aqueles que tinham a intenção de tornar o povo desqualificado e ignorante. Ofereço um incentivo para a pesquisa, pois um povo que tenha cultura de melhor qualidade pensa melhor, tem mais atributos cognitivos para a análise da realidade, e dessa forma adquire uma proteção mais encorpada para essas coisas estúpidas que são oferecidas como um bom atributo temporal de uma época miserável em relação ao conhecimento verdadeiro. Hoje o imbecil tem titulo de mestrado e doutorado, mesmo dentro de uma falta completa de qualificação além daquilo que estudou e se especializou. E muitas vezes nem dentro de sua própria área. Até porque existe um abismo entre o estúpido e o ignorante, como esclareceu Jaques Lacan que eu citei em textos anteriores: “o ignorante é um vazio completo, e o estúpido é um sujeito qualificado, cheio de certezas , erradas”. O que enquadra perfeitamente toda essa turma que se vê hoje em redes sociais exibindo títulos acadêmicos e expelindo abobrinhas filosóficas e de comportamento com se fossem um impertinente vulcão de abjeções. A vergonha, como se diz popularmente hoje, se passa no crédito e no débito. E por isso mesmo eu procuro até hoje me entranhar nas obras culturais dos que realmente tinham qualidade a oferecer, dediquei os últimos dias a leitura de várias obras de Nélson Rodrigues, Uma inteligência que esteve muito acima da média vulgar do brasileiro de forma geral, sabia analisar a nossa realidade como poucos. Para mim, que sou carioca e vivi aqueles tempos, ler os livros dele se torna uma aconchegante viagem a um passado que vivi e uma surpresa encantadora ao reconhecer-me com um pensamento ao menos similar ao do autor. Ele, Nélson Rodrigues percebia a decrepitude do nosso povo já naqueles tempos, e brincava literariamente com isso. Desde o simplório ao magnata empedernido e elitista dentro de sua sagacidade estúpida de salões elitizados por riqueza pessoal , onde muitos se exibiam como pavões circunstanciais de aviário de gente rica. Apenas acessórios pseudo intelectuais de ocasião. Essa ignorância coletiva e abrangente que permeia todas as classes sociais e provoca tragédias ocasionais em toda a estrutura de um povo, que até possui dinheiro mas não sabe direito o que fazer com ele e assim se tornam reféns ideológicos de uma armadilha intelectual preparada para aprisionar almas em seu ventre infame. Não possuir uma formação cultural aprimorada, com referências adequadas de avaliação podem levar a tragédias pessoais enormes durante vida. Nélson Rodrigues narrava essa imbecilidade coletiva que tem traços tão profundos na nossa sociedade, entre fatos curiosos e lances de pura criatividade ele machucava a textura oblíqua de um tempo que ainda hoje temos em versão bem piorada no agora. Estamos mais imbecis, atolados nas futilidades das anomalias proporcionadas por anos de doutrinação ideológica de lupanar. As secreções dos furúnculos de Carl Marx alimentam muita gente ainda. Hoje, os iluminados progressistas chamam tudo isso de inclusão social, de aceitação social do diferente. Ao implementar uma colossal sensibilização com o que a natureza diferenciou se corrompe a qualidade real da estrutura de uma sociedade a ponto de não ser possível mais entender o que é certo ou errado. E se você não possui parâmetros definidos de avaliação você não tem nada, passa a viver num caos de possibilidades onde nada é seguro e tudo, qualquer coisa é possível, não há critérios de estabilidade para equilíbrio do que uns chamam de coletivo.
Enfim, Nélson Rodrigues já naqueles tempos fez uma perfeita descrição do povo dessa terra no seu livro Memorias a menina sem estrela: “Se baixassem um decreto mandando a gente andar de quatro – qual seria a nossa reação? Nenhuma. Exatamente: nenhuma. E ninguém se lembraria de perguntar, simplesmente perguntar: por que andar de quatro?”. Aqui temos uma descrição alegórica exata do comportamento do brasileiro de forma geral, ele vai assimilando, assumido, aceitando, não interessa o motivo, é uma ordem , então que se cumpra. Se trata de um militarismo social assumido, pois apenas militares cumprem ordens sem questionamentos, sem a possibilidade de escolha ou de definição, se aceita ou não. A estabilidade da tropa pede isso, obedeça , não questione, não faça nenhuma análise de contexto ou de ética a respeito das determinações que lhe passaram. Afinal, ordens se cumprem, esse entendimento já levou muitos para a forca, vide o julgamento de Nuremberg. Mas se um povo não possui abrangência cultural fica fácil conduzi-lo como rebanho, bois, carneiros e cabras não possuem intelecto para diferenciar a realidade. Tenho comida e água e uma área para dormir está tudo bem. Faz parte do interesse dos poderosos a manutenção desse ciclo confortável para eles de governança de populações. Um povo com baixo nível de conhecimento se torna dócil, jamais vê o que fazem na verdade com ele. Para isso, para correção desse rumo, tento preencher essa lacuna de conhecimento de forma sutil. Forneço acesso a bons autores, que se forem pesquisados e estudados darão outra perspectiva de mundo para muita gente. Dentro da simplicidade que consigo produzir apresento um mundo completamente novo de hipóteses que certamente potencializarão os que nunca tiveram acesso cultural a algo mais refinado e coerente. Repito, tudo isso não é para os que eventualmente já sabem, mas sim para os que nunca tiveram acesso a tudo isso. Mas repito mais uma vez, ofereço também entretenimento na minha forma peculiar de escrever. Hoje, cultura de qualidade e isenta de aparelhamento cultural de esquerda é coisa rara no mercado, está tudo completamente aparelhado por essa gente que se beneficia da ignorância do povo. Enquanto eles vivem de publicidade gratuita e até de benefícios financeiros e facilidades proporcionadas pelo seu grupo de poder e influência, nós navegamos em mar aberto sem nenhuma proteção além da nossa ousadia e coragem para oferecer qualidade e diferenciação nesse nosso tempo. Seria uma estupidez sagaz? Lutar contra um oceano de iniquidades acreditando vencer? Ou um prazer particular de ser inconveniente aos que se consideram inatingíveis na margem mais absurda do tempo? Me divirto com os sorrisos sarcásticos pelas costas oferecidos pelos ignorantes, que no seu vazio particular riem do que na verdade não entendem, porque alguém por aí já determinou poeticamente: “a ignorância é uma benção”.
Gerson Ferreira Filho.
Citações:
A psicologia da estupidez. Jean-François Marmion. Avis Rara Editora.
Memórias A menina sem estrela. Nelson Rodrigues, Editora nova Fronteira.
A maioria dessas crônicas estão em áudio no meu canal do Telegram. Que se chama também Entretanto e pode ser acessado no link abaixo. Uma abordagem mais personalizada do texto na voz do autor.
A seguir os livros e os links para comprá-los na Editora Delicatta.
https://editoradelicatta.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário