domingo, 25 de maio de 2025

A última lágrima do amanhã.

 


                                                             Image by Kalhh from Pixabay.





A última lágrima do amanhã.



Ao percorrer essa textura sutil de estar aqui nas dobras da realidade e submisso a tantas regras comportamentais que impõem submissão a esse contexto evasivo e vazio de ordem claramente estipulada, e mesmo assim se tudo for apenas uma fugaz ilusão peremptória de uma lacuna que se disfarça de vontade, temos presença nesse espaço contingencial preparado unicamente para ser abrigo do desejo e da vontade. Pois somos isso, impertinência voraz como um desajuste fortuito que fornece uma sensação de desconforto nas atribuições que flutuam ao nosso redor e ainda assim não se impõem como premissas. O atributo que nos prende é o mesmo que um esmo fragor de uma brisa e mesmo se todo vento de um desejo fluísse em sentido desse agora não forneceria compreensão humana para abrigá-lo no coração. Seria um contrassenso oferecer abrigo aos que são refratários ao amor. Não há abrigo para a catarse entre os que não se dispõem a se equalizarem com a ressonância da frequência sadia. Ao repelir o contraditório se enrijassem numa textura pobre e sem alternativas que forneçam questionamentos saudáveis ao desenvolvimento de qualquer análise qualificada do contexto. O acaso não proporcionará contexto para qualquer súplica no após, ou se assume a real ignorância do agora, ou se descarta pessoalmente da estupidez irrelevante que nos preenche ou o destino estará pronto para ser cumprido no comprimento exato dos seus espaços inúteis da compreensão. Não se trata de prognóstico, mas de certeza, Venerar o seu totem ideológico não vai lhe oferecer respostas para as necessidades da alma, pois ele representa apenas o vazio comportamental solidificado em símbolo ilusório, não há transcendência num objeto retórico que escoa platitudes como uma gárgula descarta a água da chuva. Eu sei, você está empanturrado de falácias e discursos pegajosos a respeito de uma representatividade dissimulada e sem sentido. Entenda, nós estamos fora dos limites desse mundo, enquanto corpo estamos aqui, mas metafisicamente assim como o Criador estamos além da nossa compreensão atual. E para entender isso será preciso aprofundamento filosófico na estrutura da alma para que o imponderável se estruture na sua realidade e mesmo na sua total ausência de peso trará o equilibro necessário para a migração energética de plano de compreensão. Roger Scruton no seu livro A alma do mundo esclarece : “Um encontro direto com Deus, quando ele é entendido na via filosófica de Avicena* e Tomás de Aquino, é tão impossível quanto um encontro direto com o número 2. Agora vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho, escreveu São Paulo, mas então, veremos face a face. Contudo, por “então” ele quis dizer “além do aqui e do agora”, no reino transcendente onde Deus habita. São Paulo parece estar negando a natureza de Deus, mas, na verdade, ele a está afirmando”. A complexidade de tudo isso pede prudência e humildade porque tudo nesse campo possui energia demais pra ser assimilada repentinamente de forma atabalhoada e imprudente. Não estamos no campo da matéria onde tudo nasce, cresce, morre e apodrece e assim volta ao pó, mas ao Sagrado e sutil aquilo que na verdade é a realidade o que permanece mesmo sem ser visto e muitas vezes nem sequer percebido. Deus não é um conceito, não é empírico existe no sagrado oculto onde a experiência de encontrá-lo cria a percepção e a intencionalidade da fé. Entenda! Deus revela a si mesmo ao se ocultar, Ele está presente em nós, portanto basta ter acesso a Ele por conta própria numa busca minuciosa que não contenha desvios propositais dos subterfúgios clássicos de quem teme o ajuste necessário de rumo. O Criador não possui imagem científica Ele está além do espaço tempo não tem papel causal na sua crença e ao mesmo tempo tem. Qualquer estrutura intelectual do homem que o rejeite se torna um profundo abismo que engole milhares de incautos por rejeitarem o eterno. Perceba-o como uma fragrância, uma essência que conduz energia vital onde se torna reconhecido. O equilíbrio interno do homem está em encontrar o Criador de alguma maneira e quanto mais nos afastamos dele, mais desajustes comportamentais e psicológicos acontecem. Ao nos perdermos no labirinto do egoísmo e da descrença passamos a percorrer os caminhos perigosos das ilusões e das fantasias que aliciam almas para suprir sua alimentação. Uma sociedade sem nenhuma fé desmorona, não vinga, não prospera e não se multiplica. Tudo passa a ser desnecessário, até viver. Alguma semelhança com a atualidade? Com os dias nos quais vivemos? Um ser vazio não se enquadra no que chamamos existir, ele se anula, se torna um nada para si e para a sociedade onde vive ou poderíamos dizer, sobrevive. Hoje estamos em termos sociais exatamente assim, por doutrinação ideológica o divino foi eliminado, considerado supérfluo e decadente, a suposta razão tomou conta e o transcendente foi descartado e substituído pelo prazer imediato da carne e do individualismo materialista como propósito existencial prioritário. Não somos mais espíritos, não temos alma, e portanto não há débitos ou créditos para serem ajustados em algum lugar, o hoje, o agora é tudo o que temos e assim não precisamos nos preocupar com o amanhã.



Quando se nota o caos social e de relacionamentos tudo isso fica evidente. Não há mais vínculo com o amor, tudo é carne, pais não amam seus filhos, os rejeitam, adultos não aceitam mais formar família, cada um cuida de si. Idosos não possuem mais quem os ampare, matar um semelhante não tira nem mais o sono. Filhos dormem com o cadáver do pai por interesse em receber a aposentadoria, por dinheiro. Adultos abusam de crianças inocentes e sentem prazer com isso, criminosos são tratados como prioridade pela justiça que os soltam para reincidirem no crime sistematicamente. A vida do homem de bem não vale mais nada, ser honesto virou uma piada, um motivo de chacota e demérito social. O homem precisa de Deus, e se dedicar nessa busca ao sagrado de alguma forma, essa ausência está cobrando seu preço e ninguém percebe. E o Criador está na cultura, no conhecimento, no aprimoramento comportamental e no limite civilizado de viver. Sem a Ordem que vem da crença não há futuro e restará apenas a última lágrima do amanhã.




Gerson Ferreira Filho.



Citação:


A alma do mundo. A experiência do sagrado contra o ataque dos ateísmos contemporâneos. Roger Scruton Editora Record.



* Avicena: Abu Ali Huceine ibne Abedalá ibne Sin, sábio Persa, Muçulmano. Médico, filósofo, matemático, químico, e escritor.



A maioria dessas crônicas estão em áudio no meu canal do Telegram. Que se chama também Entretanto e pode ser acessado no link abaixo. Uma abordagem mais personalizada do texto na voz do autor.

https://t.me/gersonsilvafilho


A seguir os livros e os links para comprá-los  na Editora Delicatta. 

https://editoradelicatta.com.br/


Lançamento já disponível para compra na Editora Delicatta. Trezentas páginas das crônicas mais recentes com os mais variados temas como sempre.







Nenhum comentário:

Postar um comentário