quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Estrutura anômala.

 

                                                    Image by Vicki Hamilton from Pixabay.




Estrutura anômala.




Bom, uma vez que estamos margeando o inconcebível, com a volúpia dos celerados se impondo de maneira obstinada na estrutura da realidade, podemos de fato concluir que a realidade se tornou surreal para conflito substancial na base humana de ser e se comportar. A prioridade clássica foi descartada para dar lugar ao improviso semântico de estruturas viciadas e de perfil subalterno ao desaforo com a ética e a razão. Estar certo e viver sob as regras da civilização se transformou em subversão, ter ideias próprias virou um risco diversificado entre paredes de ódio ideológico, construídas sem o mínimo de sensatez através do tempo. Não há muito o que explicar no cenário agora, apenas observe a decomposição social das autoridades, aqueles que detém o poder de transformação e condução de um país e do mundo. Faz sentido buscar a autodestruição sistemática? Obnubilado no tempo estão os melhores valores, as crenças que davam a estabilidade de grupo e proporcionavam identificação associativa perene para a sociedade. Tudo o que resta são os jargões padronizados, sistematizados e danosos ao trato particular da pessoa. O elemento foi conduzido ao triturador de conciliações, nada mais pode ser apaziguado, hoje a harmonia só pode ser permitida no erro, e você que se dane, por pensar diferente. Não há alternativa, ou você se submete ou como na terminologia bem atual, “resolvem” você. Afinal, a anomalia, você, deve ser eliminada, existe um projeto e você se tornou inconveniente por exercer uma variante intelectual “obsoleta” de acordo com a nova regra, criada por um segmento social comprometido com o arbítrio e o controle total da sociedade dentro de um parâmetro específico de linha industrial. Claro, para os outros, não para eles, evidente. Você comerá uma ração padronizada, e eles comerão filé mignon. A desestabilização mental é a regra a ser seguida, todo valor conservador deve ser abolido para que possa ser aplicado o novo credo da infâmia. Hans-Herrmann Hope proporciona uma interpretação do que é ser conservador: “Conservador, refere-se a alguém que reconhece aquilo que é antigo e natural através do “ruído” das anomalias e dos acidentes; refere-se alguém que o defende, o apoia e ajuda a preservá-lo contra aquilo que é temporário e anômalo. No âmbito das ciências humanas – incluído ciências sociais -, o conservador reconhece as famílias ( pais, mães, filhos, netos) e os lares familiares com base na propriedade privada e em cooperação com uma comunidade de outros lares como às unidades sociais mais fundamentais, mais naturais, mais essenciais, mais antigas e mais indispensáveis”. Melhor detalhamento comportamental de um conservador ainda não encontrei. E nessa característica que os inimigos da civilização atacam, porque na ordem e no equilíbrio não existe a possibilidade da loucura prosperar, então, a estrutura base é sistematicamente atacada, para que a anomalia se instale e domine de forma ampla o cenário atual. Existe no homem uma profunda melancolia em sua origem que o leva a desejar o controle. Nesse desalento intrínseco, alguns buscam autoafirmação no poder exacerbado, que se nutre da indigência intelectual proporcionada por cabresto ideológico, não são mais capazes de enxergar o óbvio, a liberdade não é o inimigo. Não ofende ninguém o outro ser livre, ter seu próprio espaço mental sem interferências, ter suas opiniões de mundo sem precisar ser tutelado por uma programação coletivista de controle. Na lassidão dos sentidos se avoluma e assim prospera o mal. A obviedade das lacunas que se abriram no tecido social permitiram um descompasso evidente com a realidade sadia do convívio em grupo, não há como negar. Grupos segmentados por propósito desequilibrado, atuam para gerar conflito, desordem e pretexto para mais controle. Há uma metonímia em disforia gerando incongruência na realidade, não há mais expectativa de equilíbrio e harmonia nesse palco onde se desenvolve a nossa comédia. Chegamos em um ponto onde muita gente sente prazer pelo controle, como um masoquista inveterado, que a cada chicotada agradece e pede mais. Claro, o sádico de plantão sorri e aproveita o momento, se estão pedindo, qual o motivo de não proporcionar mais brutalidade. Com dizem os psicanalistas, são os detalhes profundos da alma humana. O que pode levar a crer que até no inferno, se ele realmente existir, deve haver os que recebem punição cruel eterna e gritam: Delicia! Li algo a respeito no livro vermelho de Carl G. Jung.


Oportunamente de modo furtivo, aqui estamos nas reentrâncias perversas da existência humana procurando oferecer de alguma forma compreensão da realidade. Ao menos isso, conhecer o formato de onde se está inserido, a escolha deve ser pessoal, a luz ou as trevas. Nessa bolha submissa ao bailado das circunstâncias aqui nos oferece de tudo um pouco, das artimanhas ardilosas do mal, até a luz dos filósofos e metafísicos que gritam seus preceitos no deserto da compreensão humana. Parece desperdício de conhecimento e vontade, mas uma semente aqui e ali de deposita em solo fértil. A sensibilidade se agiganta na estrutura dialética persuadindo a alma a obter um propósito além de apenas ser um animal que caminha na superfície da terra. F.W.J Schelling cita: “O vínculo que unifica a nossa personalidade é o amor e se somente a ligação produtiva de ambos os princípios pode ser criadora e produtora, então, é o entusiasmo no sentido próprio do termo que é o princípio ativo daquela arte ou ciência que cria e produz”. Munidos da paixão existencial através dos milênios não permitimos o desânimo nas piores circunstâncias. E se a questão se torna a produção de interrogações deixamos para vocês uma interessante de Stephen W. Hawking: “Vivemos num universo desconcertante. Tentamos dar sentido à nossa volta e perguntamos: qual é a natureza do universo? Que lugar ocupamos nele e de onde viemos, ele e nós? Por que é assim, exatamente desse jeito?”. Existir em tudo isso não requer passividade e sim uma atuação constante de transformação e adaptação, onde a realidade pode até ser corrompida, mas existirão aqueles que vão se propor objetivamente a corrigir todo e qualquer desvio na estrutura do tempo e do espaço que venha a surgir nesse tecido que nos abriga. Não me importo em ser um alfaiate da realidade, cerzir o agora está na especificação do meu propósito. 



Gerson Ferreira Filho.



Citações:


Democracia, o Deus que falhou. Hans-Hermann Hope. Editora Mises Brasil.


Investigações filosóficas, sobre a essência da liberdade humana. F.W.J Schelling. Edições Almedina S.A.


Uma breve história do tempo. Stephen W. Hawking. Circulo do Livro.



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