terça-feira, 23 de abril de 2024

O teatro das futilidades.

 

                                                          Image by 1tamara2 from Pixabay.



O teatro das futilidades.




E assim, nesse momento performático da existência nos espalhamos nessas ocasiões inúteis para regozijo das almas sem amplitude, se a real dimensão das atitudes contivessem um verdadeiro conteúdo para uma transformação sadia e revigorante no cenário social e político, estaríamos colhendo bons resultados, mas qual resultado prático? Se procurarmos talvez acharemos a descompressão psíquica pessoal de quem aproveitou uma manhã de sol para cantar e dançar, natural, e o restante? O que realmente interessa? Além de colocar em evidência possível candidatos a cargo eletivo nas próximas eleições, o que se obteve de vantagem? Qual o real propósito? E nessas sutilezas que se lançam ao vento estão as razões subliminares de um evento inócuo e desnatado por censura prévia. Sim, o brasileiro é peculiar, dócil por natureza, mas que beleza! E para qualquer momento tem seu carnaval, mesmo na tragédia completa, sorri até não poder mais. Do jeito que a economia está sendo gerida, no natal desse ano um quilo de bananas custará cinquenta Reais, mas não podemos falar disso, e jamais exibir cartazes cobrando atitude do governo, nem essa nem qualquer atitude a respeito de qualquer outra situação, lembre-se, o formato permitido está em não tornar público suas necessidades, seus problemas, afinal, isso magoa os governantes. E o articulador principal não quer saber de passar uma temporada no xilindró, talvez se passasse serviria de estopim para uma atitude mais condizente com um protesto por parte do povo. As vezes a solução está naquilo de que tanto se foge, a ação que desencadearia a reação, mas eu entendo o temor, ele não é infundado. O protagonista do evento pode ser preso e de acordo com nossa tradição popular; nada venha a acontecer de fato, e a vida prosseguir como se nada tivesse ocorrido. Bem ao jeito do nosso povo, nunca se lembram hoje do que comeram ontem. O pastor conhece seu rebanho, melhor guardar a ousadia para outra ocasião. E assim, projeta-se nomes que estarão nas urnas na próxima eleição, o partido precisa deles, eleja-os e espere sentado resultados favoráveis, ah, mas tem centenas de inocentes presos por mais de uma década para cumprir, hei, não fale disso! Assim você se candidata a entrar nesse exclusivo clube de apenados, que uma vez fizeram parte desse nosso carnaval. O azar pertence a eles e não a nós, esqueça isso, o sol está gostoso beba uma cerveja gelada, tire umas fotos do evento, coloque nas redes sociais, mostre para seus amigos como você é participativo e vá para casa com a ideia de dever cumprido, seu comportamento foi exemplar, dentro das quatro linhas. Resultados? Ora, o dono do partido está feliz da vida, o governo sorri e aprova o novo formato de protesto, se é que se pode chamar isso de protesto, sem impactos desagradáveis, sem cobranças de fato, com discursos previamente entregues em memorando para serem aprovados em teor e estilo, uma rebeldia engarrafada, padronizada no formado que determine o mínimo desconforto possível. O inócuo fervor das palavras controladas, das atitudes sem peso e da proposta sem conteúdo, sobra apenas a exibição dos cavalos de raça que irão assim participar do grande prêmio eleitoral. Foi a isso que reduziram a participação popular atualmente, um nada concreto e não por hipótese, um copo de água morna que não proporciona refresco em dia escaldante. Mais uma opção de entretenimento para ocupar o ócio domingueiro que já não oferecia muita coisa em termos de diversão, sim, diversão, um circo onde a palhaçada se generaliza como principal conteúdo do dia. Todas urgências reais do momento ficam penduradas confortavelmente, alojadas em algum compartimento apropriado, até que o volume extravase as anteparas que os seguram e assim se apresentem ao público festivo e alienado que apenas pensa em festa. Quando isso acontecer, todos farão cara de espanto! Oh! Meu Deus! Com o chegamos até aqui? Simples, fazendo festa quando se deveria reclamar. Política no Brasil é algo interessante, não se vota na proposta, mas no engabelo que lançam na água, a pescaria é sempre farta, impossibilidades são aceitas de pronto, promessas estapafúrdias prosperam como erva daninha no pasto, é uma festa para espertalhões de todo tipo. Aqui se toma o pirulito da criança e a criança ainda ri.


Estes atos de propaganda política são necessários para suprir de suposta representatividade os novos carneiros que se submeterão ao agendamento do dono do partido, aquele que faz acordos sombrios com o governo, qualquer governo, em troca de vantagens, financeiras a princípio e de representatividade política se for o caso, você que votou? Dane-se, depois da eleição todos riem da sua cara. Fotos abraçando seu político de estimação irão para o oratório particular onde oferendas de amor serão depositadas, afinal, este é a finalidade do evento, alimentar o culto, a seita e os seus prosélitos. Não há análise de contexto, de cenário, se seu escolhido realmente faz o que diz ou está enganando todo mundo, se você e os seus serão beneficiados no fim, ou estão participando de mais um engana trouxa que se repete periodicamente e chamam de eleição. E claro provocar ciúme e inveja no adversário, ele se remoí por não possuir mentalmente tanta gente. Trata-se disso, posse, ter propriedade do povo, que está disponível para se agregar a discursos variados de submissão. Qual o proveito para o povo? Apenas a diversão domingueira, se ver próximo a seus ídolos, e imaginar que participou de algo representativo, mas que realmente não significou nada! O que mudou no após? Houve arrefecimento na petulância governamental? Obtivemos flexibilização na legislação? Ao menos o céu está mais azul? Isento de efetividade, sem eficiência e sem eficácia podemos dizer que esse processo não serve para nada de útil para quem realmente interessa, o povo, trata-se apenas de firula performática para adoçar o dia de políticos que deveriam ser mais ferozes ao representar o povo, afinal, eles se disponibilizaram a isso, a serem representantes do povo, e não apenas figurantes apalermados aproveitando as delícias dos cargos que ocupam ou pretendem ocupar. Como já disse Cazuza: “não me convidaram para essa festa pobre que os homens armaram para me convencer”, ainda bem que não me convidaram, eu não iria mesmo. Podem me xingar, ofender, me amaldiçoar, não curto teatro de futilidades, não estou isento, podem me enganar também, mas exigirei certamente muito trabalho no campo da ilusão para que me convençam que o tamarindo não é ácido. Porém, eu sempre deixo registrado, que cada um faça da sua vida o que quiser, liberdade é isso, se você se ente feliz isto é o que importa de verdade. Tenha sua religião, não importune quem tem outra fé, ou nada vai diferenciá-lo de um Talibã, se aprecia ser escravo político, que assim seja, viva essa experiência com intensidade, mas sem perseguir quem pensa diferente. O radicalismo fere a convivência humana, exclui a possibilidade da harmonia entre pessoas dentro de uma sociedade que pretende ser civilizada. Numa real democracia existe permissão para ser palhaço quantas vezes quiser, não se preocupe, ninguém vai discriminá-lo por sua performance escatológica , talvez apenas um leve teor de sarcasmo, porque, afinal, perfeição não existe no labirinto da nossa alma. Apenas não me peçam para ignorar o truque, aproveitem enquanto há espaço para essas brincadeiras, porque tudo indica que sem um descontentamento de fato, como costumam dizer por aí, a janela de oportunidade vai fechar e nada mais restará para ser feito, se hoje nem protestos verdadeiros se pode fazer, imagine o que vem por aí. Até sorrir furtivamente pode se transformar em crime. Enquanto isso, nesse nosso outono com temperatura de verão, observamos assaltos, sequestros, assassinatos, tráfico de drogas, chantagens, com praticamente passe livre para a ação, porque basta que a polícia prenda e leve para uma tal audiência de custódia, que um boa alma já coloca o meliante nas ruas de novo para agir novamente. Coitado, ele é apenas um injustiçado, tem o direito de te estuprar e de te matar, se identifique, seja mais humano e compreensivo. Ou quem sabe, você cobre a seu ídolo providencias necessárias que garantam sua vida. Nem só de festa vive o homem. E no fim, se eu tivesse mais uma boa margem de vida para assistir, acredito em forma de pressentimento que se surgisse um terceiro protagonista para disputar a eleição os dois atuais dividiriam o palanque contra esse terceiro. Parece o extremo da surrealidade, mas é apenas o Brasil.




Gerson Ferreira Filho.

ADM 20 – 91992 CRA – RJ.



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