domingo, 14 de abril de 2024

Signifique-se.

 

                                       Image by David Sánchez-Medina Calderón from Pixabay. 




Signifique-se.



Não ser indefinido é o propósito da vida. Pois se deve ter apreço por esse prêmio, viver. Esgueirar-se por dentro das circunstâncias, mesmo debaixo da opressão da realidade cruel. O homem não foi feito para ser mentalmente subjugado por hipóteses, ele define seu rumo e constrói seu caminho sobrepujando a malícia do tempo e toda venalidade da ilusão. Realiza-se, apesar de toda dificuldade, porque a superação faz parte do aprendizado, se tudo parece perdido e o desperdício das horas causam aflição, dedique-se ao aprendizado, para que mais a frente esteja apto para a execução, seja lá do que for e a que sua aptidão leve. Escolha desafios fora da rotina e da mesmice do cenário que conhece, a novidade serve de incentivo e impulsiona o pretexto a sugerir algo inusitado. Porque a vida é assim, essa coisa que se apresenta a nós subitamente e nessa inesperada abordagem, monótona a princípio sem objetivo, se instala em nós e solicita atenção. E o que se tem a fazer é adquirir propriedade definitiva dela, para domá-la e direcioná-la até que se torne finito o caminho que se deve percorrer. Nossos sonhos nem sempre são o melhor caminho ou nossa clara opção, diversifique suas aceitações e veja um leque de oportunidades possíveis no caminho que existe a sua frente, talvez seu futuro esteja naquilo que nunca pensou na sua imaginação ou nos seus desejos. Enfim, viver exige determinação e foco, os fracos não sobrevivem a esta selva de ocorrências aleatórias que nos ferem com sua falsa modéstia e seu truculento e arrogante modo de apresentar a realidade a nós. Entrando nos conceitos de Jung, um especialista na profundidade da alma humana e seus cantos escuros, temos a individuação do homem como ele mesmo explica: “A individuação do homem tomado como indivíduo não se realiza separadamente da individuação coletiva, mas na verdade o espírito do tempo se realiza no indivíduo, e a imagem de Deus, específica de uma época, está constelada no inconsciente como uma imagem de totalidade. Essa imagem da totalidade(ou imagem de Deus) apresenta-se diferentemente na alma do judeu do velho testamento, no cristão primitivo, no homem medieval e no homem atual”. Para facilitar o entendimento constelado significa atitude preparatória de expectativa que definirá sua reação. De onde se é possível retirar o entendimento, que o homem moderno, parte da civilização de hoje perdeu essa conexão com Deus, A individuação foi fragilizada e o indivíduo perdeu conteúdo filosófico coerente com o melhor da civilização e com o divino, estando assim a deriva e exposta a adoção de critérios que contradizem o bom senso e a boa pratica civilizatória, o exemplo típico e de melhor compreensão, é a paixão incompreensível ao infrator da lei. Em sociedade com seus tradicionais padrões de conduta, criminosos recebem sua punição, cumprem o período que lhes cabe por infringir a lei e apenas depois desse período voltam a sociedade, que assim sendo estará protegida por uma defesa óbvia de bons valores. Ayn Rand certa vez esclareceu: “Ter pena do criminoso é trair o inocente”, logico, óbvio. Apenas uma sociedade doente pensaria diferente, uma sociedade que perdeu conteúdo e passou a cultuar o crime e a odiar a normalidade social que se deveria ter. E isto está diretamente ligado ao tema supracitado, a criação de significado individual, a representatividade do ser como célula saudável da sociedade, que possui seus valores individuais e luta pela consolidação do seu destino próprio, pode gerir a realidade de forma sadia e complementar ao grupo onde vive. Se mantivesse sua individuação e constelado nos bons valores, não estaria perdido entre questões estruturais de organização mental que acabam prejudicando o conjunto social, e a eles mesmos, pois quem define o amor pelo criminoso, está inserido na sociedade e exposto à violência resultado de decisões descabidas. Mas a complexidade do problema se torna abrangente quando a  ação começa a afetar a liberdade. Aniela Jaffé especifica: “Sem o sentimento de liberdade interior, e sem autonomia do eu, não haveria nenhuma individuação, nem ação ética, nem significado. Por essa razão, Jung atribuiu crucial importância à consciência e à responsabilidade humana. A confrontação com sua própria escuridão, experimentada na análise, não pode ser feita sem uma consciência extremamente lúcida”. Portanto, sem significado, sem individuação sem civilização; se você não pode se significar, dar sentido a sua vida e a sua autonomia com ser vivente ,então,  sua categoria humana foi retirada para transformá-lo em algo que não corresponde mais a uma existência saudável e sim uma desumanização progressiva da estrutura social.


Neste conflito permanente entre o bem e o mal, o mal atualmente está vencendo e se consolidando como a única opção existencial para o grupo de humanos que existem hoje. E com isso tudo, vem toda uma carga infame de procedimentos, como comer insetos por exemplo. Ou estimular pestilências para redução populacional, eutanásia para tipos variados de pessoas consideradas imprestáveis para a sociedade “perfeita” que querem construir. No vazio interno dos indivíduos sem conteúdo adequado para viver em grupo, todo tipo de anomalia e aberração passa a ter a aparência de normalidade, mesmo as mais insensatas e infames. Por isso a importância fundamental de dar significado à vida, de atribuir propósito aos seus passos, a adquirir diferenciação entre a loucura do vazio de quem se constelou na infâmia. Construa seu arquétipo, sua imagem primordial, ela é inconsciente e irrepresentável algo como uma “tendência”, é inerente à natureza do homem, esforce-se para resgatar dentro de si esses valores porque como definiu Jung: “O arquétipo em si mesmo é intemporal, é “natureza pura e não corrompida” A sua origem está oculta e se encontra além dos limites da percepção psicológica e científica. “se essa estrutura psíquica e os seus elementos, os arquétipos, tiveram alguma vez uma origem, é uma questão metafísica e, por conseguinte, irrespondível”. Se é metafísica e irrespondível se faz possível trabalhar no contexto estimulado aplicando filosofia para que se obtenha um produto aceitável no contexto existencial da nossa realidade, não sendo uma questão fechada, trabalhe seu interior psicológico e cultural para que tenha estruturalmente sustentação para viver nesse mundo e assim alcançar o seu merecido lugar, fora do marasmo inicial da vida. Incluir o divino, Deus nas nossa vida dá o sentido da totalidade necessária para que sejamos algo mais do que animais. E sendo assim mais do que simples animais não devemos nos sujeitar a comer insetos, e a aceitar aberrações comportamentais de quem não possui conteúdo específico para ser civilizado e muito menos humano. Voltando para o arremate com Carl G. Jung: “O sentido é a experiência da totalidade. Qualquer descrição dele pressupõe a realidade vivida no tempo tanto quanto a qualidade de vida da intemporalidade; experiências pessoais e conscientes, assim como um domínio que transcende a consciência e o mundo tangível. Se a tensão entre esses dois polos do ser falta, o homem tem o “sentimento de que é uma criatura sem sentido, e é esse sentimento que o impede de viver sua vida com a intensidade que ela exige, se deve ser desfrutada plenamente. A vida torna-se trivial e não é mais a expressão do homem completo”. A vida para Jung, só é vivida quando passa a ser “o critério da verdade do espírito”. Portanto, tomemos posse da nossa vida, ela não pertence ao Estado, a governos e a organizações, somos nós decidindo por nós, apenas e livres para decidir o que queremos nesse mundo, sem cabrestos, sem bula ou receituário inconveniente, existindo para marcar nossa presença nesse contexto do jeito que nós particularmente decidirmos sem a tutela externa de conceitos extravagantes e indeterminados. Tenhamos o nosso significado na estrutura da realidade. Porque basta viver esse presente que nos deram.



Gerson Ferreira Filho.

ADM 20 – 91992 CRA – RJ.



Citação; Carl G. Jung na obra de Aniela Jaffé. O mito do significado. Uma introdução concisa ao estudo da psicologia analítica. Editora Cultrix.



Aniela Jaffé: Analista junguiana e escritora suíça, foi por muitos anos colega de trabalho de Carl Jung. Considerada uma das mais importantes intérpretes de suas ideias.



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