Image by Enes Koç from Pixabay.
Do tempo e do espaço.
Aqui dentro dessa realidade sou tantas incertezas que não estou certo de estar mesmo aqui, mas selecionando cuidadosamente hipóteses, as exógenas e as intimistas, aquelas que trazemos no nosso perfil atual, sou obrigado a analisar essa estrutura que nos envolve e abriga como um texto produzido para ser nosso caminho, independente da nossa vontade onde a ilusão nos conforta com sugestões de autonomia particular. Assistimos o tempo passar, e o inconformismo com a brevidade da vida colocou-nos na busca da eternidade ou quase isso. Como não possuímos a informação completa, vivemos de suposições, de ensaios acadêmicos, onde caçamos oportunidades para transformar a realidade aparente que nos circunda se perpetue e prossiga conosco eternamente. Do mago que realiza seus sortilégios, ao vidente que busca o futuro e até ao cientista que aprimora um novo jeito de viver. Todos nós tentamos ir além das circunstâncias. Mas a ocasião é efêmera, o equilíbrio pode subitamente se desfazer aleatoriamente como um devaneio que na verdade ela é. Pois somos moldados em sonho para possuir a fluidez necessária para o processo. Aqui, todos nós somos o produto, já superamos ou deveríamos ter superado o básico, e há toda uma sequência de eventos pela frente. A arquitetura do tempo nos aprisiona e define o roteiro a ser seguido, Para entender o início e o fim teríamos de ter tamanho físico e mental para entender o real início e como tudo acaba. Somos insignificantes, mas não gostamos de ser, no emaranhado a estrutura que se move somos uma inteligência biológica que evoluiu dentro de sua bolha de água específica e sendo assim, o exterior nos é agressivo e não permite que rompamos a sua delicada pele para aventuras mais ousadas em tudo que existe lá fora. Entendam, se prosseguirmos dentro das mesmas regras seremos extintos com qualquer ocasionalidade assim como gerações de seres vivos foram extintos em sua determinada época, eles não raciocinavam e nem criavam tecnologia. Extinções em massa são comuns na estrutura infinita do tempo. Não há como existir para sempre, sempre vivendo dentro da frágil estrutura que nos protege do universo. O que exatamente nos diferencia de todo restante? Essa coisa chamada intelectualidade, raciocínio e capacidade de acumular conhecimento através de gerações, e com o somatório de tudo isso, criar a alternativa plausível que vai conseguir nos levar além da nossa bolha e ainda assim sobreviver. Estamos no início ainda insipiente de uma era de transformação, talvez tudo isso faça parte do salto evolutivo necessário para que prossigamos com relevância no universo. Provavelmente ainda vamos existir como estrutura biológica por muitas eras, mas a partir de um determinado ponto com a possibilidade de migração e incorporação por produtos artificiais de inteligência, estes que assim nos darão as qualidades necessárias para que possamos sobreviver e viajar fora da nossa bolha para qualquer ponto no espaço. A inteligência artificial está aí para isso, o novo salto evolutivo, o degrau que teremos que subir para alcançar níveis mais elevados de expansão, a colonização de Marte, hoje plausível, não eliminará totalmente os problemas de extinção, o planeta é menor, tem menos gravidade, corpos humanos nascidos lá tenderão a ser mais frágeis, e se torna até possível que dentro de algumas gerações, um humano nascido em marte não consiga viver na terra, sob o peso gravitacional do nosso planeta. Sem contar o impacto de toda vida microscópica que nos envolve aqui. Quando e se migrarmos para corpos, podemos chamá-los de sintéticos, teremos a capacidade ampliada pois não teremos mais as necessidades biológicas tradicionais, de alimentação, de descarte de resíduos, de sentir frio ou calor e imunes a radiação cósmica. Neste ponto estaremos prontos para a conquista do espaço exterior, prontos para o universo. Antes disso, permaneceremos no nosso aquário redondo, expostos a qualquer acidente natural que acabe com todos nós. Um vulcanismo incontrolável, um meteoro enorme, um cometa ou uma epidemia mortal. Entendem a nossa fragilidade? Somos tecnologia biológica que aproveitou uma janela de oportunidade no caos para viver e progredir, mas há limites evidentes insuperáveis para o prosseguimento da espécie. Claro, o tempo prendeu a todos nós em tradições e regras de conduta, não será fácil harmonizar tudo com a nova realidade, exigirá adaptação, política, religião, estilo de vida, capacidade constante de progresso e aprendizado, qualidade de compreensão da nova realidade que se instala para a transformação do velho mundo em novo. Estes períodos de mutação civilizacional costumam ser bastante conturbados, já sentimos esses efeitos mesmo ainda não conhecendo o objetivo final, estamos apenas absorvendo as sensações da mudança climática na textura da realidade, os espasmos dentro do casulo que era lagarta e em breve libertará a borboleta, um novo ser gerado a partir de um antigo e limitado. Mesmo sem o impacto de todo planejamento das elites preconceituosas, a população do planeta de forma geral está regredindo naturalmente, menos crianças nascem a cada ano. Um clássico sinal de esgotamento de ciclo de uma espécie. Junte isso a possíveis guerras e conflitos onde vidas se perdem, teremos um inventário bem menor de seres humanos no próximo século, e leve em conta também a redução da diversidade e de qualidade do próximo humano desse mundo. São muitos desafios neste período, mas a mudança se faz necessária para que escapemos da bolha, do destino traçado para vida inferior e frágil. A inteligência humana é preciosa demais para ficar a mercê da causalidade.
Temos vida fora da terra? Ora, quase certo que sim, tanto universo com trilhões de galáxias que contém bilhões de estrelas para um pingo de vida? Lamento, é muita arrogância pesar que somos únicos. Mas as distâncias colossais certamente criam condições intransponíveis para que um tipo de vida encontre outro. E qualquer outra civilização com tecnologia para vencer todo esse espaço ilimitado teria de ter passado por todos os obstáculos que passamos hoje. A verdade é que civilizações surgirão e desaparecerão sem nunca conseguirem superar algumas etapas, E as poucas que conseguirem dar o salto tecnológico serão com deuses, e não se sabe se terão interesse por nós, ainda um limo biológico brotando na superfície de um grão de areia. As questões metafísicas deste tipo de vida serão assim tão aprimoradas que provavelmente olharão para nós, se é que se darão o trabalho para isso, como formigas ou cupins construindo seu ambiente de sobrevivência. Talvez pensem: que interessante! Ovnis? Se forem reais e não um subterfúgio com fins de ilusão, são sondas de exploração, não há vida real dentro deles, apenas coletam informações, e olhem, nem abordamos a possibilidade de vida fora dessa dimensão que conhecemos. O que elevaria absurdamente o nível de evolução de alguma espécie vivente, saltar entre dimensões com fim exploratório. Então, seremos um desses povos evoluídos ou continuaremos aguardando a extinção? Estaremos entre os melhores e mais aprimorados ou pereceremos na textura da insignificância dessa imensidão cósmica que nos cerca? Devemos agradecer que nenhuma espécie predatória ainda não nos encontrou para tratar-nos como por exemplo, proteína para consumo, evolução tecnológica não caminha ao lado de evolução moral. Talvez alguém lá fora goste de comer formigas e cupins. A nossa sorte é que provavelmente se alimentem de energia como talvez vamos passar a fazer, um reator de fusão nuclear será a nossa mercearia, o nosso sustento. Entenderam os tantos riscos que corremos ao permanecer exatamente assim como ainda somos hoje? Frágeis ao extremo, presos na nossa gota de água e limitados eternamente por esse perímetro. Basta uma ocasionalidade fortuita e ninguém saberá que isto aqui existiu. Prossigamos na fé que Deus é muito maior do quer tudo isso, e que ele realmente nos programou para algo bem acima dos nosso desejos. E que a relevância humana seja exaltada na tecnologia que pode tirar a todos nós do ostracismo cósmico.
Gerson Ferreira Filho.
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