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Penúria básica.
Bom amigos, vamos abrir os vasos literários para adicionar qualidade no contexto. Precisamos fazer analogias e comparações com obras de qualidade específica para que possamos trafegar na miséria cognitiva atual, e nada melhor do que referenciar um dos clássicos da literatura chamado O idiota. Um título bem apropriado para esse momento onde circunstancialmente os imbecis controlam tudo. O Dostoiévski produziu um romance comportamental intenso, denso e de difícil acompanhamento, confesso, sou um leitor inveterado desde criança, e tive cá minhas dificuldades com essa obra. Não só por seus vinte e dois personagens mas também, claro pelos seus nomes russos incompreensíveis e impronunciáveis. Nessa obra percebemos que a sociedade de forma geral se copia através dos tempos, em todo seu perfil indigno e abjeto nas relações humanas. É interessante perceber isso, e o encaixe do personagem principal o príncipe Míchkim, um débil jovem com uma grande alma e com traços filosóficos flutua em um ambiente pérfido e de interesses obscuros como um canário que canta para ratazanas, um personagem que flutua entre evasivas clássicas para sobrevivência, deixando sempre uma dúvida no lugar da certeza. O significado do que fala se torna restrito um truque saliente do escritor para atormentar o leitor e fazê-lo pensar na melhor hipótese que se encaixa na questão proposta. O tradutor Paulo Bezerra na sua nota esclarece: “O Idiota é um romance marcado por uma forte oralidade . Isto diz respeito à postura do próprio narrador, que a cada instante parece narrar de um só ímpeto, com sofreguidão, sem tomar fôlego, como quem está certo e que a história tem de ser contada hoje, agora, nesse momento”. O tecido desse texto não é amigável, tem uma complexidade psicológica intensa que sugere uma anomalia social no período no qual foi produzido, nada diferente da atualidade grotesca que temos hoje, onde os interesses particulares levam a traições e a que seres humanos sejam utilizados para qualquer vantagem pessoal. Assim dentro de um detalhamento metódico dos relacionamentos temos uma jornada intrigante com um personagem que depende a princípio de terceiros para sustento, mas possui título de nobreza e talentos que o levam a um nível razoável de vida. Marquem esses nomes : Michkim, Rogogin e Nastácia Filíppovna. São peças fundamentais nesse jogo gigantesco de palavras e relacionamentos oferecido pelo autor. Mas qual o motivo dessa quase resenha? Essa trama literária tem similaridade com o que nós vivemos hoje, as relações, as falsidades, as intrigas e traições as manipulações com objetivos escusos, ou seja, tem coisas que mesmo com a passagem do tempo não mudam, não evoluem ou se aperfeiçoam, nesse ponto de configuração comportamental somos exatamente os mesmos. Congelados neste perfil de interesse que aglutina vícios e manias através do tempo. Essa penúria básica de qualidade coloca a todos nós em rotina estagnante e repetitiva de vontades na estrutura do tempo, apesar de toda evolução tecnológica, somos exatamente os mesmos. Os idiotas, ou o idiota se formos concentrar tudo isso em nós. Ainda nos deixamos enganar por discursos aprimorados nas entranhas da trapaça para conduzir-nos sempre ao erro, lutamos contra nós mesmos por migalhas dos protagonistas que cagam e andam para nós. Condenamo-nos ao ostracismo intelectual ao permitir a imposição de agendas e pautas definidas por imbecis que não possuem conteúdo intelectual, mas são ladinos e astuciosos na sua metodologia de envolvimento grupal. Como o protagonista do livro, possuímos uma ingenuidade danosa e incapacitante para sobreviver em liberdade nesse mundo. Essa fragilidade se torna amplamente explorada pelos espertos da ocasião. Vantagens pessoais e privilégios são adquiridos no poder da garganta, na aplicação do discurso doce para servir de chamariz aos incautos e inocentes. Aqui entrar na política e enriquecer se torna o objetivo de muito malandro. E claro, levar toda a família junto, por que não? Alguém tem de usufruir do bem bom que pode ser alcançado com a debilidade mental do restante. A natureza proporciona ovelhas e lobos, as ovelhas são muito mais numerosas para oferecer conforto alimentar para a alcateia. A natureza não é gentil, ela estabelece quem dominará e quem será a comida do dia a dia. Jamais pense que estamos fora dessa lógica terrível, e se é assim, escolha ser o lobo e não um dócil e indefeso carneiro. Como se faz isso? Se capacitando intelectualmente e profissionalmente para a luta diária por espaço. Onde houver oportunidade de progresso, embarque, se qualifique sempre, todos os dias da vida. Se torne protagonista e não estacione na figuração da vida onde estão as ovelhas.
E uma delas, dessas coisas a se fazer está na dedicação, na leitura, um habito indispensável para a evolução mental. Literatura de boa qualidade como recomendei e citei aqui, grandes autores, os fundamentais para a evolução do conhecimento humano, absorção de todas as técnicas possíveis na jornada, quanto mais especialidades você tiver, mais apto para sobreviver estará, a versatilidade auxilia a adaptação a qualquer mudança implementada no cenário do jogo. A diversidade de conhecimento, principalmente técnico define seu futuro e abre portas inatingíveis para quem não tem nada. Sem contar com a qualidade que você terá na análise da realidade, pois seu cérebro terá um acervo enorme de hipóteses para trabalhar em várias frentes de ação. A combinação diversificada de conhecimento lhe fornecerá uma enorme vantagem intelectual para enfrentar qualquer problema da vida, você será um lobo e não apenas uma ovelha. Enfim, a vida requer preparo, se você não quiser ser vítima, ser iludido e usado, adquira conhecimento, faça qualquer curso possível de qualquer coisa, o somatório de especialidades lhe dará a abrangência para o enfrentamento. No final, essa diferenciação será notada, e até causará inveja e ciúmes, nós sabemos que o ser humano tem uma “qualidade” de tomar conta da vida alheia e se ressentir com a vitória do próximo. O que nos leva ao conselho final: cautela nesse mundo, nem sempre quem sorri para você e lhe presta ajuda quer o seu bem. Muitas vezes se trata apenas de uma técnica de aproximação para lhe destruir, assim como a natureza é cruel, o ser humano tem vestígios dessa natureza dentro e si. Não proporcione facilidades que possam ser usadas contra você.
Gerson Ferreira Filho.
Citação:
O Idiota. Fiódor Dostoiévski. Editora 34.
A maioria dessas crônicas estão em áudio no meu canal do Telegram. Que se chama também Entretanto e pode ser acessado no link abaixo. Uma abordagem mais personalizada do texto na voz do autor.
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