sábado, 22 de março de 2025

A substância do mal.

 

                                                       Image by Sabrina Belle from Pixabay. 





A substância do mal.




Na gema do maligno mora o desinteresse, não há significado representativo do outro perante a face insensível de origem, e essa característica confere rigidez a quem pertence a esse meio. Não espere misericórdia de onde nada existe, o conteúdo mental de gente assim não absorve o bem, são completamente refratários a dor e ao sofrimento alheio, entenda; o outro não possui alma, e muito menos representatividade no mundo, o semelhante tem construção alegórica e com fins definidos para o sacrifício, são objetos para satisfazer delírios pessoais de complexos de superioridade sempre famintos por satisfação. Desumanizados sistematicamente desde a infância atribuem-se superioridade clássica e preponderante e isso sem contar toda carga de traumas adquiridos na criação, na infância e os prováveis problemas estruturais do cérebro que possam existir. Crianças criadas em ambientes desajustados podem desenvolver uma terrível visão de mundo onde apenas o sofrimento alheio gratifica internamente seus impulsos. E se for assim, causar dor e sofrimento no próximo será um parque de diversões, não se preocupe, essa gente dorme muito bem com tudo isso. A perversidade é uma característica de corações malignos, existe prazer em executar o mal. No clássico Inferno de Dante Alighieri da Divina Comédia poderíamos tranquilamente situar essas almas abjetas no quinto círculo, se não me engano dos iracundos. E orar para que esses lugares realmente existam, porque seria um prêmio para a perversidade se simplesmente morressem e tudo acabasse. Eu particularmente acredito que não pode ser apenas isso, seria um contrassenso existencial e um incentivo a toda barbaridade do mal possível de ser executada, afinal, se enfim se morre e tudo simplesmente acaba, fica fácil, não? E assim a dor e as lágrimas de inocentes seria apenas um prazeroso jantar para pervertidos da pior espécie, lamento por gente assim, mas ao menos no que acredito não acaba tão simples dessa maneira. Durmam bem, participem dos seus banquetes, exercitem suas taras particulares como se não houvesse um amanhã, o problema? Este amanhã existe sim. Ora amigos, a vida não é tão simples e nem tão complicada, ela é o que é um caminho para um fim. Então, ficamos com os versos De Dante: “Já partimos da fida companhia, as ondas costeando rubras, quentes, donde agudo estribor ar subia té os cílios no sangue os padecentes. Eu vi, disse o Centauro: - São tiranos truculentos e em roubo preeminentes. Chora-se aqui por feitos desumanos”. Essa gente diversificada e aculturada em desvios sem sustentação lógica criam um mundo particular de convivência entre iguais, iguais a eles é claro. A presunção de superioridade é um atributo do estúpido. São a ralé especificada por Hannah Arendt. Um resíduo social presente em toda classe de povo, um conjunto de fracassados que vivem com seus transtornos e os projetam nos outros, geralmente culpam a sociedade por seu infortúnio e provável dessabor. Essa gente, caso consigam alcançar algum posto de poder, irão se vigar, não interessa em quem, eles atribuem a sociedade em geral a culpa por sua dores particulares, podem se vingar em uma etnia como foi na segunda grande guerra ou em quem estiver disponível para receber todo rancor acumulado. E assim citamos Hannah Arendt: “A ralé é fundamentalmente um grupo no qual são representados resíduos de todas as classes. É isso que torna tão fácil confundir ralé com o povo. O qual também compreende todas as camadas sociais. Enquanto o povo, em todas as grandes revoluções, luta por um sistema realmente representativo, a ralé brada sempre pelo “homem forte” pelo “grande líder”. Porque a ralé odeia a sociedade da qual é excluída e odeia o parlamento onde não é representada”. Um excluído mental desses quando fortuitamente alcança uma posição de poder é um perigo enorme para a sociedade. Temos dois exemplos típicos de exclusão mental na história: Calígula e Nero. Ambos com infâncias problemáticas e com abusos sistemáticos e fizeram o que a história conta. O mal germina cresce e floresce no ressentimento. Uma vez no poder a sociedade fica desinteressante e enfadonha, se torna necessário dinamizar o cenário com todo tipo de maldade cruel e desnecessária para a sociedade, apenas vital para quem a exerce como afirmação de poder. O imbecil dentro de seu calhamaço de certezas absurdas sempre procura um bode expiatório para descarregar suas frustrações. Sim, essa gente, mesmo em situação privilegiada convive com uma agonia interna subjacente que sempre diz a ele ser um ninguém. Uma convivência com um subconsciente doente, deformado e repleto de reflexões abjetas e distorcidas. É o tipo de gente que usando uma imagem metafórica pública: “olhando uma linda floresta só vê lenha para queimar”. Este desconforto interno intrínseco gera mais ódio ainda, ele não vaza e nem extravasa pelos poros, normalmente se apresenta com um frio sorriso de normalidade como o olho de um furacão. Assim que chegar a hora ele vai destroçar tudo que estiver pela frente.



Existem limites que o mal adora ultrapassar e um desses é o da dor do próximo. Causar aflição pertence a caixa de ferramentas do maligno não há contradição nisso pois Deus comanda e sabe de todos os passos e pensamentos daqueles que acreditam nada mais existir além do agora. Porque o impossível faz parte da sua tradição, e portanto vamos filosofar com Mário Ferreira dos Santos: “Todo possível é do ser supremo. Todo possível pode tornar-se termo de criação, pois, do contrário, afirmar-se-ia sua absoluta inviabilidade. Ora, tal inviabilidade seria extrínseca ao Ser Supremo, e por isso, uma limitação à sua onipotência, o que seria contraditório. Impossível, de modo absoluto, só se pode predicar do que é, fundamentalmente contraditório. O que é fundamentalmente contrário é absolutamente nada”. O mal se trata de um nada, um vazio existencial de tal forma sem representação que os que se dedicam a ele assim o serão também. Sendo o mal de tradição impossível em conflito com o possível divino a impossibilidade confirma sua tradição contraditória de anomalia pouco exequível na realidade. Realizar o mal é uma não atividade, um desperdício de recursos no universo realizável. Um salto consciente no abismo da escuridão completa.




Gerson Ferreira Filho.



Citações:


Divina Comédia. Dante Alighieri, Editora Martin Claret.


Origens do totalitarismo. Hannah Arendt, Editora Companhia das Letras.


Filosofia Concreta. Mário Ferreira dos Santos. Editora Filocália LTDA


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