segunda-feira, 3 de março de 2025

A natureza dos espaços.

 

                                                              Image by falco from Pixabay. 




A natureza dos espaços.



Digamos que em intervalos vivemos, e nessas ocasiões sustentamos o nosso ser desprovido de capacidade para de fato cumprir o que nos foi apresentado. E nessa lacuna de oportunidade o que mais fazemos? Desperdiçamos momentos, no que se apresentou como interlúdio da nossa existência. Estar aqui, nessa ocasião pode não ter sido apenas uma ocasionalidade fortuita do destino, mas provavelmente uma oportunidade, de fazer o que se deve em relação ao correto, a honra e a lealdade. Enfim, como disse Dom Quixote ao seu escudeiro na obra de Miguel de Cervantes: “A liberdade Sancho, é um dos mais preciosos dons que aos homens deram os céus. Com ela não se podem igualar os tesouros que a terra guarda ou que o mar encobre. Pela liberdade, assim como pela honra, pode-se e deve se arriscar a vida”. Então, temos propósito, e nesse rumo devemos permanecer, entendam, não há vida humana de fato sem liberdade. Qualquer coisa que conspire contra esse presente que nos foi dado deve ser combatido mesmo sob risco à vida. Porque viver sem ser livre não se trata de viver mas apenas de sobreviver como uma coisa que possui alguma utilidade para alguém. Não adianta adotar evasivas confortáveis para evitar o que se deve fazer, existem apenas duas opções: ser escravo ou ser livre, não há meio termo de conduta nesse plano. Fazer de conta que nada acontece não impede que as correntes sejam instaladas, ao contrário, até facilita o trabalho do algoz. O que é de Deus não aprisiona, liberta. Não estamos aqui para nos tornarmos um rebanho de acéfalos conduzidos por supostamente ungidos em excrescências procedimentais do inferno, nessas proeminências oblíquas da incapacidade natural dos helmintos de forma humana que se arvoram em luminares de um iluminismo de cabaré de zona portuária. Este subterfúgio de ocasião para instalar algo antinatural e incapacitante da natureza humana, que é ser livre, não pode ser passivamente aceito por uma sociedade que se julgue civilizada hoje. A liberdade não pode ser solapada pois é proveniente de Deus e assim se torna sagrada, e maldito será todo aquele que contra ela conspirar. Existe algo na natureza humana que foi com o tempo estimulada e embalada em papel ideológico para controle de massas, se chama ressentimento. Essa mágoa peculiar que causa angústia foi estimulada para ser um marco característico predominante nos nossos tempos. Ela sempre existiu, é um comportamento psicológico natural, mas potencializada gera ódio, violência e tentativas de controle e extermínio de semelhantes. Roger Scruton aborda exemplos: “Hoje sabemos bem que as revoluções não são conduzidas pelo povo, mas por uma elite que faz isso em nome dele. A Revolução Francesa, por exemplo, foi obra de advogados, de profissionais e da nobreza inferior que estavam ansiosos para tomar o poder político numa sociedade cujas esferas mais elevadas de poder estavam repletas de ricaços inúteis. Os revolucionários agiram em nome do povo, anunciando liberdade, igualdade e fraternidade. Identificaram-se conscientemente como uma classe iluminada , que, em razão da sua inteligência superior, tornara-se merecedora do direito de convocar o povo para auxiliá-lo. Seus slogans e doutrinas não apenas legitimaram o próprio ressentimento como foram projetados para estimular o ressentimento nas outras pessoas”. E assim, com o ressentimento instalado em grande escala temos os registros históricos para evidenciar a tragedia posterior ao acontecimento, o ressentimento é basicamente uma projeção de culpa do seu infortúnio e do seu fracasso em outro alvo aleatório, que geralmente são outras pessoas que não pensam como você. Se encontrou fortes semelhanças com o socialismo ou comunismo, acertou! Essa ideologia é fundamentada no ressentimento, em estimular o ódio entre classes sociais, ao propagar que existem privilegiados e excluídos apena por política e não por toda uma estrutura não só politica e de comportamento. A sociedade humana se divide entre os que se interessam em progresso e os que por diversos fatores preferem se entregar a indigência completa. Não se enganem, mesmo entre os pobres existem aqueles que querem, que desejam sair daquela condição, e se existir uma oportunidade sairão. Mas há os que não possuem essa abordagem de vida, e preferem continuar exatamente como estão, na penúria plena, sem recursos, sem saúde , sem estudo, sem qualificação profissional e assim se tornam parte da miséria estrutural da sociedade. E se são pobres, são derrotados, acomodam-se no ressentimento e não percebem que grande parte de sua condição não se deve apenas ao governo e a classe social em melhores condições de vida, foi uma escolha pessoal em muitos dos casos. Claro, sempre existirão os injustiçados, a vida é complexa, e os azares existem, mesmo com dedicação absoluta é possível fracassar. Para muitos teríamos que abordar também genética, pré disposição intelectual boa, força de vontade, presença de doenças na infância, todos sabem do impacto do não tratamento de esgoto na fase infantil. O saneamento básico, a higiene pessoal na primeira infância junto a uma alimentação razoável transformam vidas. Não vai adiantar alimentar posteriormente ressentimentos se sua vida foi destruída por políticos incompetentes. Eu particularmente não falo de experiência apenas acadêmica, fui muito pobre, conheço de perto essa realidade, quem quiser uma amostra literária leia meu livro Nacos de Mormaço. A vida é bem complexa.



E assim convivendo com esse espectro natural potencializado por ideologia caminhamos para colapsos sociais de profundidade especificamente grande. Pois tudo isso corroí a convivência humana, torna tudo mais áspero e passível de ferir no contexto onde se torna predominante. Pessoas desconfiam de outras, invejam o sucesso sem procurar se aprimorar para também assim terem sucesso. Os relacionamentos se tornam problemáticos até entre casais, pois qualquer diferenciação causará atrito na relação. E na convivência profissional em empresas temos perda de produtividade pois uma promoção pode desencadear um processo de magoas e levar a uma parte a adotar subterfúgios como bajulação e não mais eficiência como parâmetro de validação profissional. Não se enganem, empresas perdem produtividade com isso, essa coisa envenena ambientes. O ressentido é um elemento de dissonância em qualquer lugar e Roger Scruton esclarece: “O ressentimento não acaba quando a vítima é privada dos seus bens terrenos. Ele almeja privá-la de sua humanidade, mostrar que ela jamais teve direito de possuir a menor parte dos recursos da Terra e que sua morte não é mais lamentável que a de um verme”. O ressentido pensa apenas em vingança, punir os “responsáveis” por sua condição de derrotado social A culpa será sempre dos outros e não da sua particular negligência com as oportunidades que teve. Num mundo de ressentidos a liberdade sucumbe, pois tudo passa a ser um acerto de contas contra uma injustiça social que serve de tapume que oculta a verdadeira estrutura pessoal do fracasso. E assim temos a essência natural do socialismo progressista, esse suposto progresso que está incorporado nesse nome fantasia de momento apenas oculta inveja incapacidade e ódio. E em mundo de fracassados a inveja reina e governa com a plenitude e delicadeza de um vulcão. Se apresenta imponente na paisagem mas quando se irrita destrói tudo a sua volta. E não esqueça, a arrogância contumaz dessa gente se apresenta sempre quando alcançam um cargo de destaque. São insolentes dentro da natureza do seu espaço particular.




Gerson Ferreira Filho.






Citações:


Dom Quixote. Miguel de Cervantes. Editora Garnier.


Uma filosofia política. Argumentos para o conservadorismo. Roger Scruton. É Realizações Editora.


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