Estruturas vinculantes.
O que liga com exatidão o contexto a estrutura do espaço mental? Seriam laços de hipóteses ou o apego subliminar ao vazio que nos ocupa incidentalmente para fazer de nós um brinquedo conceitual no tempo? A previsão escapa nos intervalos oblíquos de um suposto instinto peculiar que transportamos na pele dos nossos segredos, das nossas intimidades onde a evasiva faz morada por sobrevivência. Não que desejemos o pior mas estamos sim, sempre dispostos a um desavio e a uma tentação. Fomos construídos com uma curiosidade natural e esta provoca o impulso que nos aprofunda nas circunstâncias na presunção do momento enraizado na carne do devaneio do qual fazemos parte. E assim partindo da Gnosiológica textura tendemos ao idealismo. A falta de realidade nessa pretensão intelectual pode levar a desastres sociais significativos. Flutuar em suposições acessórias à realidade presente pode gerar distorções intangíveis na estrutura da organização social aplicada em contexto normal do tecido social. Essa turbulência intelectual causada nessa sopa de conceitos subjetivos infere em termos ao processo imaginativo humano. Existe a necessidade de harmonia entre alguns conceitos para que seja proporcionado capacidade de julgamento. Essa estrutura vinculante não pode sofrer abalo ou ser prejudicada porque a partir dela se obtém o juízo, Immanuel Kant trabalhou intelectualmente nessa área e dá algumas instruções: “A imaginação colige e apresenta o material da sensação, o conteúdo da experiência, a um poder de relação cognitiva, a imaginação e subserviente às regras do entendimento, como é de se esperar para juízos determinativos acerca das coisas e suas propriedades. A imaginação e o entendimento funcionam harmoniosamente na cognição, e são bem adequados à tarefa de conhecer objetos através de conceitos, mas o entendimento é o poder predominante”. Não seria satisfatório um juízo sem esse equilíbrio específico. A estrutura de julgamento ficaria comprometida e a partir desse ponto é que o idealismo começa a ser tóxico. E quando se mistura a outra corrente filosófica o iluminismo fica explosiva. As características base das duas vertentes se corrompem e produzem uma quimera filosófica perigosa e instável para a sociedade. E temos que levar em conta ainda que a premissa base dessas duas frentes filosóficas geralmente não são aplicadas ao pé da letra e sim inseridas na realidade já com distorções evidentes. Essas adaptações corriqueiras levaram ao incremento da radicalização e ao conhecido terror da Revolução francesa. O idealismo veio um pouco depois mas foi usado também com variações problemáticas. Poderíamos apelidá-lo de Ideoiluminismo, uma geringonça filosófica que mais tarde aplicada aos concentos de Hegel principalmente causaria uma desordem generalizada na construção do futuro, gerando coisas que incomodam até hoje. Todos que estudam sabem ou deveriam saber a quem a síntese hegeliana inspirou; Karl Marx, e o mundo ficou muito pior. Extraídos dos desejos totalitários de Platão por Hegel foi criado algo que marcou o mundo e marca até hoje, o coletivismo e o totalitarismo. Karl Popper cita: “O desejo de Platão de deter qualquer mudança, combinado à doutrina de Marx de sua invencibilidade dão origem numa espécie de “síntese” hegeliana à exigência de, não podendo ser inteiramente detida, seja a mudança pelo menos “planejada” e controlada pelo Estado, cujo poder deve ser amplamente estendido”. Notam alguma semelhança com um certo tribunal que hoje usurpa o poder de forma geral? Essas coisas, esses desejos não são novos, na verdade já possuem até cobertura de mofo. Iluminismo e idealismo estão nessa base de distorção de conceitos e de leis que trabalham por um suposto bem maior, e esse é o problema principal, essa missão messiânica para a criação de um mundo perfeito, uma utopia que nunca pode ser alcançada e sempre depende de ajustes e expurgos daqueles que não se adaptam a transformação necessária no momento. Essa transformação ideal iluminada que ao tentar se criar se consome em termos de tragédia para as populações a ela submetidas. Vincular essas estruturas e com ela criar um sonho impossível está na base da desordem que hoje vivenciamos. Essa coisa alimenta “sonhos” de inclusão social onde se sacrifica o melhor da sociedade e se privilegia o incapaz. E assim sendo se perde rendimento no conjunto quanto ao enriquecimento da sociedade, obtendo apenas miséria generalizada com ilhas de privilegiados vivendo à custa de restante. No fim o que sempre se consegue é um desarranjo de proporções semelhantes a pragas bíblicas onde muitos morrem por pura teimosia em acreditar no impossível. Mas isso tem relação com o desequilíbrio citado por Kant, a perda da harmonia que fragiliza a interpretação e o julgamento de forma geral: “Kant sustenta que essa relação não seria possível se esses poderes não fossem capazes de primeiro se relacionar de maneira livremente harmoniosa que se obtém na experiência estética. A relação livre sustenta a determinada, tornando o juízo estético uma parte da satisfação geral de nossos objetivos cognitivos, ainda que de uma maneira pré ou não conceitual”.
Esse descarrilamento intelectual produz o desastre, não há harmonia e sendo assim a estética não se apresenta como um valor a ser considerado no conjunto de hipóteses a ser considerada e aplicada na realidade para uma estruturação plausível do conjunto social. E assim não racionalizando essa harmonia não se obtém uma estética necessária ao equilíbrio justo e seguro para o conjunto humano que chamamos de coletividade social. No fim, o objetivo que os coletivistas tanto perseguem se torna a ruína do sistema que tanto almejam. Mas convencidos de forma tenaz num erro de base de construção intelectual prosseguem e insistem no caminho do fracasso, este que se repete sistematicamente causando miséria dor e desespero na sociedade de forma geral. Revestidos de arrogância não percebem a simplicidade da vida, que está para todos nós envolvida em liberdade e a esse valor sim devemos preservar com toda energia possível, porque somos racionais e não custa muito apenas pensar.
Gerson Ferreira Filho.
Citações:
Conceitos fundamentais. Immanuel Kant. Editado por Will Dudley e Kristina Engelhard. Editora Vozes.
A sociedade aberta e seus inimigos. Sir Karl Popper Tomo 2. Editora Itatiaia LTDA.
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