sábado, 13 de julho de 2024

A liturgia do imponderável.

 

                                              Image by Alexander Antropov from Pixabay. 




A liturgia do imponderável.



Já se encontrou entre raciocínios buscando entender seu propósito pessoal? Parabéns! Nem todos possuem essa capacidade de análise, e isto indica que você é capaz de se situar nesse universo e nessa realidade se questionando profundamente a respeito dos motivos das coisas serem assim, e qual seu papel em tudo isso. Não existe alguém sem propósito, por mais irrelevante que pareça sua participação no cenário, a realidade se constrói com suas ações também, e se não forem positivas, provavelmente, não eram para ser mesmo. Portanto, existe um direito de escolha? A resposta pode ser sim, e não. A sua especificidade dará ao cenário o traço próprio da sua real propriedade. Porque ser nessa circunstância e possuir discernimento para estar dentro dela com abrangência, diz que o momento de existir acontece exatamente como e quando deveria ser na textura desse espaço tempo que nos envolve. As ocasiões se propagam fora do nosso controle, existe apenas a sensação do que poderíamos ter realizado para que algo acontecesse diferente da realidade, mas geralmente não passa apenas de uma sensação tardia, mas são apenas emolumentos, uma cobrança daquele ato que deixou resíduos desconfortáveis como herança. É assim, não temos o controle, e nos penalizamos pela falta de controle. Entre arrependimentos residuais de algo que foi pré-determinado e você não participou do planejamento. E assim, com teores profanos, escolásticos, e tão exacerbado para um simples cotidiano que se apresenta na rotina de tantos detalhes furtivos, vamos considerando se vale a pena estar aqui para assim ser um detalhe ocasional nessa divina comédia da realidade que nos envolve. É preciso extrapolar e tergiversar na textura da urdidura longitudinal do espaço, e assim chegar na transcendência de si mesmo onde apenas reste a essência de um desejo, e por fim que o tempo se acomode e se conforme nessa sua passagem, pois de eternidade se torna plausível o ontem o hoje e o amanhã. No fim, prudência, estamos no âmbito do infinito, sob a regência do Ser infinito e ele é a providência absoluta conforme estabelece Mário Ferreira dos Santos no seu livro Filosofia concreta: “O termo providência vem de pro e videre, que em latim, significam “ver com antecedência”. Providenciar alguma coisa é dispor o necessário para que essa coisa seja. Ora, tudo quanto há, tudo quanto é e será, tem sua origem no Ser infinito. Consequentemente, tudo quanto acontece , aconteceu ou acontecerá foi providenciado por ele, pois do contrário teria vindo do nada , o que é um absurdo”. Ah, você quer seu livre arbítrio? Lamento muito, com disse certa vez um personagem de um filme hoje já antigo de ficção científica: “Estamos aqui por não sermos livres”. E claro, sendo assim o que realmente importa nesse emaranhado se suposições e alternativas, o que é realmente relevante é o propósito. Na nossa espectral atomicidade, agrupada para um fim, temos uma propagação determinada para causar um efeito entre todas as correlações intrinsecamente presentes em nós. Somos essencialmente a ambiguidade quântica insubmissa que constrói oculta a realidade perene que nos envolve. Não se assustem com a complexidade do texto, filosofia e física quântica, nos detalhes fugidios, se trata de tudo o que somos. O físico Niels Bohr explica um pouco desse assunto estranho: “Embora muitas propriedades fundamentais da matéria tenham sido aplicadas pela imagem simples do átomo, ficou evidente, desde o princípio, que as ideias clássicas da mecânica e do eletromagnetismo não bastavam para explicar a estabilidade essencial das estruturas atômicas, tal como exibida pelas prioridades especificas dos elementos”. Portanto, existe algo mais em nós do que podemos perceber, algo tão sutil que aparentemente pelo que podemos entender até aqui viola algumas regras clássicas do que se conhece. Algo que transcende a explanação determinista se situando assim fora do preceito filosófico pretendido. Com propriedades físicas distintas a mecânica quântica se apresenta como algo ainda surreal para nós, mas está lá e exerce influência sobre todos nós. Então, não se assuste com anacolutos sistêmicos que oferecem a situação de forma truncada, somos o que fomos preparados para ser, e nada que aconteceu, aconteceria diferente, porque para termos futuro, haverá necessidade de passado, pois sem ele não existe o presente. Inter-relacionados e entrelaçados na realidade produzem o caminho, e por essa trilha passaremos para cumprir o nosso propósito, porque a vida é formada dessas circunstâncias, problemáticas, muitas indecifráveis, e outras sublimes. E essa nossa característica, o raciocínio, o reconhecimento da realidade, a capacidade de entender e discutir a respeito da estrutura que nos envolve, é o que nos diferencia dos irracionais.


Eles, os irracionais, vivem, existem sem nunca entender de fato seu propósito, sua posição e função na realidade. Vivem e morrem dentro de um padrão específico que cumpre um ordenamento simples, viver e só. O ser humano não apenas vive, ele se distingue do cenário e sua presença delimita suas fronteiras de entendimento nas projeções mentais que faz. Não é passivo em relação a existência, possui sua esfera de interesses e constrói sua própria cosmologia de interesses no ambiente onde habita. Essa capacidade transformadora, onde sua particular engenharia psíquica molda o mundo, e se sujeita a distúrbios e contratempos da realidade que cria. Gerando assim, possíveis cenários danosos a si mesmo e a estrutura civilizacional que o ampara como base de sobrevivência. A ilusão do saber, se torna o risco permeado nas entrelinhas do espírito, onde suposições erradas e de construção inadequada flertam com um suposto caminho onde na realidade, a diversidade proposta se torna uma armadilha conceitual. Por isso, a desenvoltura intelectual deve ser sempre aprimorada e de forma diversificada, não deixando de fora qualquer conhecimento, mesmo os que por hipótese, não sejam recomendados por quem ensina. Ser preso mentalmente por uma única tendência e forma de ver o mundo não se torna algo inteligente, pois o debate e o confronto constante de alternativas faz o real progresso na estrutura civilizacional presente. E assim, dentro de todas essas alternativas, estamos aqui conversando a respeito de tudo isso e mais um pouco, e isso só se torna possível devido a nossa capacidade intelectual pessoal desenvolvida na busca por saber mais e ocupar um lugar relevante nesse contexto tão diverso e intrincado que nos cerca. E isso faz toda a diferença, não estamos aqui apenas para viver, mas para aprender, para acumular detalhes que nos transformará radicalmente em algo bem específico na estrutura da realidade. Certamente algo imponderável nos move nessa nuvem cósmica de hipóteses aleatórias e não foi por descuido ou indiferença. Somos a replicação de algo que ainda não entendemos dentro de uma liturgia quântica que abriga toda necessidade e todo amor que se possa compreender na ausência plena de espaço para tudo isso ocupar. Está além de nós mas se tornou o nosso destino, a trajetória desenhada para que prossigamos envoltos nessa tábua de maré, entre fluxos e refluxos a ocupar nosso destino neste conflito de ser e estar aqui. A anomalia que não se ajusta perece e volta, não há início e muito menos fim. Cuidado com as armadilhas cognitivas que aprisionam em realidades paralelas onde o errado se apresenta com certo apenas para retardar sua evolução pessoal em toda essa estrutura complexa que chamamos realidade.



Gerson Ferreira Filho.



Citações:


Filosofia concreta de Mário Ferreira dos Santos. Editora Filocalia.


Física atômica e conhecimento humano de Niels Bohr. Contraponto Editora.



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