quarta-feira, 24 de julho de 2024

O apanágio de não ser.

 

                                                      Image by Gerd Altmann from Pixabay.



O apanágio de não ser.



Se não somos, seríamos exatamente o quê? Um intervalo de estupidez forrado de platitudes onde as obviedades flutuam esperando uma vítima? Acredito que apenas estamos em um atalho psicológico criado para heuristicamente resolver problemas com estrutura apodíctica formal. Não há o que refutar na plenitude existencial desse agora. Estamos onde deveríamos por somatório de negações e de negligências através do tempo. Construções mentais se fazem por passividade ou por ação concreta. De qualquer forma algo será construído, e no passado recente escolhemos não ser. E consideramos isso um privilégio de uma geração indisciplinada e arrogante, onde a cretinice foi incentivada em amplo espectro social para ser exatamente o que hoje é, uma sopa fétida de conceitos deformados e atitudes incompreensíveis com o bom termo civilizatório. Onde especialistas de todo tipo produzem objeções a qualquer bom propósito na estrutura social que hoje nos abraça. Integralizados no desvio do padrão, estruturamos objeções narcisistas em relação ao próximo, desqualificando a qualidade que não reside em nós. A sociopatia virou a norma oficial de uma época. Em plena atmosfera de hospício já há os que se alimentam de excrementos e acham isso completamente normal. Com uma trivialidade comportamental abaixo de animais irracionais saudáveis, aceitamos hoje o bizarro como socialmente permitido e ainda chamamos isso de evolução. Nossa realidade hoje produz surrealidades escatológicas em profusão catastrófica sem serem aparentemente agressivas ao cotidiano onde a alienação já se impregnou até aos ossos da população. Adaptamo-nos de tal forma ao excêntrico onde o mal ficou benigno e até aceitável dentro da nossa realidade. O que deveria escandalizar ficou afetuoso. Nesse retrocesso existencial temos os medíocres que ensinam e propagam seus delírios subjacentes, ocultos em camadas apócrifas da sua particular estrutura mental afetada e direcionada apenas a infâmia como padrão. Este tipo de “profeta” Da nova era, circula com desenvoltura e grande público nas redes sociais e mídia de forma geral. A boçalidade faz um sucesso estrondoso! É uma força avassaladora da natureza, onde toda lógica e bom parâmetro de conduta perece no confronto com forças dessa escuridão. Assim, arregimentados, compactados no bloco multidão acéfala, respondem ao estímulo do conjunto, do grupo onde o amalgamar da estrutura base, já não permite o raciocínio para si e por si. Tudo se torna coletivo, massa disforme para uso e finalidade específica a qual o controlador define. Segundo a psicóloga Ewa Drozda-Senkrowska citando Jacques Lacan: “A ignorância é uma ausência de conhecimento (sobre o que é conhecimento e sobre si mesmo). Se a ignorância é um vazio, uma ausência capaz de ser contornada, em especial pela educação, a estupidez é o contrário: é uma suficiência intelectual que não precisa ser preenchida, pois já é plena por natureza”. Então, poderíamos chamar essa nossa época da época da estupidez, totalmente preenchida de certezas cultivadas e aprimoradas nas bancas escolares. Assim totalmente bem preenchido de certezas intransponíveis e inegociáveis, o estúpido rege a realidade, convicto de ser o máximo, o ápice civilizatório e histórico da humanidade. Seria melhor que tivéssemos ignorantes, gente passível de aprendizado, o estúpido já vem cheio até o gargalo com os desvios que recebeu, teríamos que primeiro esvaziá-los, desinfetar o recipiente e assim preenchê-lo com novos valores, a tarefa nesse ponto fica muito mais complicada. Convencer um estúpido que ele não tem razão equivale a domar um cavalo selvagem, coices serão dados para todos os lados possíveis. Entre estúpidos e cretinos vivemos nosso cotidiano, sempre aguardando o próximo disparate que vai nos envolver em mais uma propositura infame e deselegante para nos atormentar na lida com o dia a dia. Poderíamos até dizer que seria estimulante esse jogo de obscenidades pernósticas, que se abrigam na presunção da infâmia. Mas eu particularmente prefiro a mansidão de tempos onde a calmaria bucólica da estrutura do tempo se unia a uma realidade saudável e sem feridas psicológicas expostas na textura da realidade. Nesse purulento cotidiano criado nas ancas da desonra, recolho-me ao raciocínio monástico onde o silêncio me abraçava entre tantas páginas bem escritas de um passado que se faz presente no meu perfil.


E assim, temos a convulsão das massas ignaras, absorvidas no oceano de incultura sendo novamente utilizadas para um propósito que não representa mais o indivíduo. Esteticamente preparada para ser convincente e forte para adquirir preponderância na estrutura da realidade e assim proporcionar a vitória de quem a conduz, e não necessariamente uma vitória do grupo. Essas estruturas coletivas possuem um propósito definido, criar volume numa reivindicação ou na implementação de alguma política que normalmente possui apenas um disfarce de interesse de grupo, mas na realidade está sendo conduzida por uma elite e seus interesses. Essas estruturas são formadas por estímulos como cita Gustave Le Bon: “Não é fácil descrever a alma das multidões, pois usa organização variada não somente segundo a raça e a composição das coletividades, mas também segundo a natureza e o grau de estímulos a que são submetidas”. O estimulador incita e o grupo ataca, não há raciocínio no procedimento, confinados em jaula mental limitante e armazenados psicologicamente para um devido fim e uso, obedecerão o comando instintivamente, pois apenas isso lhes restou, a ação em bloco dos rebanhos. Conduzidos por estúpidos, dotados de muita astúcia para defender seu interesses pessoais, a massa não percebe sua condição de objeto útil na trama do tecido que se desenrola para um fim específico. Nunca se permita passar pelo processo de desumanização. Ou será apenas substância de um conjunto que não pensa por si mesmo. Mais um punhado de reboco no muro, uma pasta disforme sem consciência de si mesmo. Este não ser deve ser evitado, seja propósito pessoal e intransferível, mesmo na margem mais distante da realidade. Muitos trabalharam para aviltar a sua vida e de muita gente. Gustave Le Bon cita ainda: “Os filósofos do século passado dedicaram-se fervorosamente a destruir as ilusões religiosas, políticas e sociais de que nossos pais tinham vivido por longos séculos. Ao destruí-las secaram as fontes de esperança e da resignação. Por trás das quimeras imoladas, encontraram as forças cegas da natureza, inexoráveis para com a fraqueza e que não conhece piedade”. Sem valores edificantes, sobra apenas a animalidade brutal da natureza, a força bruta do grupo, o efeito manada que se desloca para destruir, matar tudo o que estiver pela frente. Menosprezar o animal que existe ainda em nós não é um bom procedimento. Pegue esse privilégio particular que você possui e pense, utilize o raciocínio e não seja conduzido por políticas que roubam sua individualidade, ela é sagrada, não a torne disponível para feiticeiros sociais que nem banho tomam.



Gerson Ferreira Filho.





Citações:


A psicologia da estupidez. Jean-François Marmion. Editora Avis Rara.


Psicologia das multidões. Gustave Le Bon. Editora Martins Fontes.  



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Um comentário:

  1. Amigo, coloque espaços entre os parágrafos, deixando um espaço em branco, a leitura vai ficar muito mais agradável. É apenas uma dica!

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