quarta-feira, 31 de julho de 2024

Estratégia celibatária.

 

                                                    Image by Syaibatul Hamdi from Pexabay. 




Estratégia celibatária.



E assim amigos, vamos falar de amenidades, ou não. O que a princípio pode parecer para a maioria apena um desvio de comportamento, para alguns se transformou na armadura medieval, como um exoesqueleto mental, que protege do outro, que exclui de suas vidas o relacionamento, como se isso fosse um cruel desafio uma tortura insuportável que irá lhes tirar da zona de conforto criada como proteção do perímetro cognitivo. Afinal, a relação merece o risco? A tranquilidade das águas abrigadas ou a fúria do mar aberto? Claro, nesse meio sempre existem os simulacros, os que dizer ser, mas verdadeiramente não são. Neste jogo comportamental existe muita aplicação de um determinado charme pessoal para se parecer carente, o cachorro sem dono parece mais amigável. Muito comum na juventude hoje e até entre pessoas de meia idade, o medo de dividir espaço com um parceiro se faz presente. Só tenho algumas coisas para dizer, sim, você perde individualidade, sim, abre mão de manias pessoais e passa a viver dentro de uma negociação, com alguém que muitas vezes não vai concordar com você e nem aceitar seus chiliques existenciais. Este átrio psicológico as vezes parecerá apertado, Porém existirão momentos ótimos, alguns podem ser até inesquecíveis de compartilhamento ritualístico das melhores sensações. Serão breves, algumas até muito raros, mas a vida e feita disso, experiências, não há somente alegria, a dor tem de ter presença em qualquer vida para marcar o momento para o bem ou para o mal, esse é o nosso propósito, aprendizado. Entender como podemos ser metade do outro, ainda que seja em péssimos momentos. Alguém que se isola de relacionamentos, não coleciona realidades, não se dispõe a dança do destino, não experimenta o teor da vida em todos os seus detalhes. Ao se tornar disponível para a solidão, hoje atenuada por contatos virtuais por redes sociais, se estabelece um estilo depauperado de viver onde se recusa a sensação da variedade para apenas obter a regularidade cotidiana aparentemente estável de ser só. Praticando os melhores critérios de escolha, pois existe gente tóxica e perigosa por ai, em uma seleção razoável pode impedir uma relação destrutiva. Nós vemos isso todo dia, relacionamentos que terminam em violência e ate morte, mas, quando se olha o perfil do agressor a gente pergunta: Qual foi o motivo mesmo do inicio da relação? O estilo cafajeste? O bandidão charmoso que era estimulante na cama? E para os homens, aquela moça insinuante com roupa super provocante e sorriso de serpente? Entenda, seu relacionamento terá o conteúdo que você realmente procurou, ao não observar os evidentes “gatilhos” que a vida lhe dá, a coisa pode dar muito errado. Claro, mesmo fazendo a melhor escolha, usando todos os filtros possíveis, ainda pode desandar e provocar um acontecimento desagradável. A vida não é simples, e na verdade só se conhece verdadeiramente o outro, quando se vive debaixo do mesmo teto, se compartilha a mesma cama e se permanece a maior parte das horas estabelecendo a rotina do cotidiano. E até a rotina é perigosa, porque uma vida a dois tem de ter propósito também, comprar uma casa, ter filhos e cuidar deles, viajar quando possível, ver um filme juntos, criar aquela fotografia do momento feliz. Hoje o trabalho do casal cria transtornos nessa área. Cada um com sua atividade, com sua profissão, passa a ter menos tempo de convivência, situações de intenso estresse são absorvidas no trabalho, e acabam refletindo dentro de casa, inevitável hoje. O melhor antídoto passa a ser o diálogo franco, a conversação, a terapia da intimidade revelada na palavra extenuada do momento de angústia que solapa a realidade estável com seus solavancos peculiares de quem deseja o pior. Todos nós existimos na finitude das ocasiões, não há eternidade nos relacionamentos, uns duram mais outros duram menos, há os que terão o presente da longa relação e os que infelizmente terão relações fugazes, de estrutura intempestiva, onde o inesperado rompe a realidade com a imprevisível textura de um desatino que assim destrói o relacionamento, Vejam, a quantidade de ocasiões que se perde ao optar pela posição conhecida hoje como “Incel”, uma estrutura psicológica moderna para abrigar aqueles que temem realmente viver. Mas a vida é um desafio constante, não é para os fracos, ela se apresenta diariamente para ser possuída nos termos que de toda e qualquer sensação se ocupe de nós, é uma contínua invasão de privacidade, ela olha para nós e diz: e aí? Você vem, ou vai ficar no casulo?


Não temam, eu sobrevivi a tudo isso, confesso; existiram momentos sublimes e momentos terríveis. Mas hoje sou construído com o rescaldo de todos esses incêndios na estrutura sensível do meu ser. Amado, desprezado, rejeitado e até jogado fora inexoravelmente, fortes emoções me envolveram, e hoje sou um construto mental elaborado como um algoritmo que obteve muito mais informações e onde se sintetizaram minha realidade existencial para prosseguir mais forte e muito mais versátil nessa estrada longa do existir. Vivi um relacionamento de trinta anos, e posso afirmar, nada nesse contexto é pacífico como uma lagoa, é oceano aberto, existiram antes muitos relacionamentos de juventude, rápidos, que são prazerosos mas com prazo de validade curto. Onde o ímpeto da hora se satisfaz na fluidez temporal de ser explicitamente rápida e marcante. Não pense que não me lembro da namoradinha com a qual dançava no clube América na rua Campos Sales na Tijuca um Show me the way de Peter Frampton, ela foi a que melhor me conheceu, dizia que eu tinha olhos intimidadores, arrogantes, e realmente lutei a vida toda contra essa particularidade. Sempre gostei de ser discreto e passar sem ser percebido. Mas foi assim e hoje sim, prefiro o celibato, afinal, estou velho e destruído pela doença, não há muita flexibilidade para relações além da boa amizade e da boa conversa intelectual de muitos momentos. Já cumpri meu papel, o que posso fazer é dedicar o tempo que me resta a repassar conhecimento e experiência para as novas gerações, mas para vocês que ainda possuem juventude e energia vital em dia e pronta para uso, não desperdice tempo, viva intensamente as ocasiões que se apresentarem, construam uma descendência, tenham filhos. Eles prosseguirão o seu caminho, dê a eles o mapa, o roteiro da realidade, e se eles quiserem, prosseguirão a partir desse ponto, criando as variações personalizadas que assim forem melhores para eles dentro de cada situação que se apresentar. Derrotas na vida são ensinamentos, aprenda e use tudo a favor de você nas próximas experiências, não se entregue a monotonia da passividade e do medo de viver.


Gerson Ferreira Filho.

ADM 20 – 91992 CRA – RJ


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