quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Um meio para um fim.

 

                                                  Image by congender design from Pixabay. 




Um meio para um fim.



Entre tergiversações e evasivas modernas estamos de forma abrangente no limiar do retrocesso estimulado, graças a implementação sistemática da decadência comportamental, como um contrafluxo paradoxal de hipóteses indolentes com relação a realidade. Nós, humanos, nos construímos através de milhares de anos até atingir esse ponto no espaço tempo onde referenciamos nítido progresso a partir do tempo no qual saímos das cavernas em busca de um animal para se tornar nossa principal refeição e com a pele dele confeccionar nossas roupas. Lascamos pedras, nos reuníamos em torno de fogueiras, pintávamos cenas que víamos no cotidiano nas paredes e de forma bem precária sepultávamos nossos mortos. Precisou que fosse cumprida a passagem de milhares de anos para enfim, percebermos algo muito simples, é possível plantar gramíneas, que nos darão o sustento adicional, sem precisar ficar percorrendo o planeta caçando e coletando. Um meio para um fim. Não quer dizer, que a princípio a caça tenha terminado, mas uma coisa leva a outra, e se é possível domesticar o trigo, a cevada, o centeio, etc. Alguns animais podem também passar a pertencer ao círculo familiar, para serviço e consumo. Das gramíneas aos tubérculos, até cabras, carneiros e bois fomos nos capacitando para uma longa jornada nesse tecido que chamamos de tempo. Nos tornamos mais complexos e diversificados quanto ao raciocínio, a aparência, ao comportamento e também quanto as tradições de grupo, onde a estruturação de vieses culturais começaram a se formar para estabelecer uma tradição. Hayek menciona: “Na realidade, todavia, em grande medida, a civilização de tornou possível subjugando os instintos animais inatos aos costumes não racionais que permitiram a formação de grupos ordenados maiores e, crescimento progressivo”. A criação de códigos de conduta específicos na organização social, permitiu a migração do estado animal para o estado de humanidade no real parâmetro de ser. Organização para seguir em frente com aprendizado constante e enriquecimento cultural. Antes, sem essa capacidade mental com linearidade sequencial de acumulo de conhecimento, não era possível passar de pequenos grupos, quase famílias únicas, nas antigas pradarias do planeta. Com uma possível e até viável agregação de vários grupos com o tempo se constrói uma comunidade maior e se torna possível atividades mais complexas e com distribuição de tarefas e com organização representativa para um grupo social mais complexo e diversificado. Lideranças surgirão naturalmente no contexto e a viabilidade como sociedade se estabelece para a natural expansão. Já é perceptível neste ponto da nossa história que não há um retrocesso substancial de atitudes, talvez uma crise aqui e ali, por confronto entre grupos muito diferentes, doenças, e questões climáticas graves. Há uma constante aquisição de conhecimento na trajetória do tempo, que leva a formações cada vez mais complexas e sofisticadas sociedades. Civilizações, cada qual em seu canto de mundo, se estabelecem com seu padrão cultural, seus ritos religiosos e sua tecnologia particular. Como uma experiência planetária, nos desenvolvemos de forma diferenciada, uns são muito bons em cálculos e organização, outros nas artes, e tantos outros na filosofia e na compreensão de nós mesmos. Claro, no percurso também há os tantos problemas na organização social, o preconceito, a violência a guerra. Quanto maior for a aleatoriedade caleidoscópica das ações intelectuais, maior a possibilidade de desvios e problemas no processo. Dentro de tudo isso será preciso disciplina, para que de alguma forma todos nós alcancemos a liberdade, novamente, um meio para um fim, com esclarece Hayek: “O homem não se desenvolveu em liberdade. O membro do pequeno bando ao qual ele tinha de aderir para sobreviver não era livre. A liberdade é um produto da civilização que libertou o homem dos grilhões do pequeno grupo, cujo estado de ânimo momentâneo até o chefe tinha que obedecer. A liberdade se tornou possível pela evolução gradual da disciplina da civilização que é, ao mesmo tempo, a disciplina da liberdade. Ela protege o homem por meio de normas abstratas impessoais contra a violência arbitrária dos outros e permite que cada indivíduo procure construir para si um domínio protegido no qual ninguém mais pode interferir, e dentro do qual ele pode usar o próprio conhecimento em busca dos próprios propósitos. Devemos a nossa liberdade às restrições da liberdade. Pois quem poderia ser livre se o capricho de qualquer outro homem pudesse tiranizá-lo?”.



Então, o que você que lê esse texto vê aqui? A liberdade é produto da civilização, estabelecida por regras, e a perda de alguma liberdade, oferece todo restante de liberdade, o que leva a conclusão óbvia que se estamos perdendo liberdade, estamos perdendo civilização. O que vemos ser criado hoje, essa política invasiva que não respeita mais os parâmetros civilizatórios normais é uma perigosa anomalia que pode demolir implacavelmente todo o processo civilizatório, criando algo extremado de controle total que sufocará a liberdade conquistada através de milênios de evolução social. Essa deformação comportamental cria seres de interior extremamente materialista, sem piedade e sem misericórdia, pois esse sistema elimina um processo muito importante na estabilização da sociedade, a religião, essa que proporciona parâmetro de freio para os impulsos animalescos de vingança fria quando não se obtém o que se deseja dento do contexto específico ao qual se possui o poder. Quanto mais vazio de valores filosóficos mais cruel é o indivíduo, e nesse ponto qualquer crueldade passa a ser uma possibilidade real de ser aplicada contra seus semelhantes. A ausência de limites construídos na metafísica religiosa que estabelece padrões de conduta amigável com seu semelhante, sobra apenas o animal irracional, que dilacera a garganta da presa sem constrangimento, afinal, ele está apenas saciando seus desejos e necessidades carnais. Assim, por milhares de anos procuramos um meio para um fim, e conseguimos entre diversos tropeços estabelecer uma civilização, não perfeita mas com alguma qualidade para muitos. Onde a participação política se manteve razoavelmente estável para garantir os termos de convivência grupal com poucos atritos, aqui e ali, apenas interrompidos por guerras em larga escala ocasionais. Tudo indica que essa anomalia brutal, a guerra pode fazer parte do processo de correção de rumo dos agrupamentos sociais. Ensinar o verdadeiro valor da vida, e da paz que seria possível dentro da lei. Poderíamos considerar como um ajuste natural e específico para que haja entendimento que a necessidade de poucos elitizados não vencem no final, que a relação de civilização e liberdade não aceita falsos deuses no contexto humano, e que essa gente sempre perde no final. Uma causa e efeito estilizada para um contexto maior, que foi explicada de forma sutil no tradicional aforismo: “cada um colhe o que semeia”. Resta agora a quem está nessa realidade procurar conhecimento para diluir o problema em curso, mais cultura de qualidade seria muito bom, a compreensão exata do que realmente acontece proporciona a oportunidade real de uma proposta mais humana de realidade. Ou se abandone e se entregue a destruição e ao sofrimento, portanto, encerrando com Hayek: “O homem não é e nunca será o senhor do seu destino: a sua própria razão sempre avança levando-o ao desconhecido e ao imprevisto onde ele aprende coisas novas”.




Gerson Ferreira Filho.



Citação:


Direito, Legislação e Liberdade. Friedrich A. Hayek. Editora Avis Rara.



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