domingo, 4 de fevereiro de 2024

O comércio das ocasiões.

 

                                                            Image by Anja from Pixabay.


O comércio das ocasiões.



A arte de negociar está presente no homem desde praticamente sua origem. O escambo, a troca para satisfazer suas necessidades, alguém tinha o que eu queria e eu tenho o que o outro desejava, vamos trocar? Então, assim se desenvolveu a atividade comercial. Com o tempo uma unidade monetária que agregasse valor relativo foi desenvolvida, um padrão, para facilitar a atividade e assim temos até hoje o dinheiro a moeda. Dentro desse universo de possibilidades, também se desenvolveu a astúcia e um procedimento essencial para o sucesso desse ramo, a contabilidade, no princípio partidas dobradas, registro de entrada e saída de valores, e com o tempo mais sofisticações para controle e distribuição de recursos e obrigações. Assim satisfazemos e organizamos nossos desejos no mundo moderno e diversificado onde em ocasiões oportunas se permite negociar qualquer coisa, de uma compra em supermercado até a uma vaga em cargo político como executivo de uma grande cidade, basta que haja interesse e disposição para se vender em acordos submissos a devassidão política do momento. No fim, o que importa são os valores e favores que surgirão do negócio. Não há escrúpulos, muito menos constrangimento, faz parte da natureza de muitos homens estar aberto a qualquer tipo de negócio que abasteça contas numeradas em algum paraíso fiscal. Estes paraísos existem justamente para isso, para abrigar valores que fugiram da luz e possuem procedência controversa quanto a moralidade e a honestidade. Aqui em Pindorama se troca tudo, e a honra, a moralidade estão no balcão também, talvez seja um resquício genético adquirido da população indígena que existia aqui, que em alguns casos negociava até suas mulheres com o visitante por um bom acordo. Bom, em alguns casos eles comiam também o agraciado com o favor, depois de um período de engorda e maturação da carne. Negócios são negócios. E assim, tangenciando os bons costumes, prosseguimos sistematicamente nessa geleia de conceitos e atitudes saltitantes na margem mais obscura de qualquer conceito tangível da realidade objetiva. Hoje na política, temos condutores de rebanhos estabelecidos e definidos para regozijo pessoal de novos senhores feudais da opinião, essa que deveria ser pública mas foi condicionada em estábulos específicos para manipulação e manejo de acordo com o interesse do dono dos quadrúpedes. Andar em duas pernas virou uma alegoria quando o comportamento mental é de um boi. Dentro desse contexto animalesco e desprezível, não há espaço para opções, alternativas e oportunidades. O que entristece nesse cotidiano é que muita gente boa, qualificada, com inteligência acima da média, ainda se prenda nessas falácias proporcionando um desperdício de qualidade se aliando a um jogo manjado e viciado para arregimentar público que se sujeite a ser enganado sistematicamente. A ilusão encanta! Dança na magnitude dos desejos inconfessos da alma para aliciar o espírito desprevenido e incauto. A armadilha populista e despretensiosa sempre oculta a tragédia no seu íntimo para apenas a deixar escapar com o fato consumado. Afinal, o mundo é dos espertos, e todos gostam de levar vantagem. Da letargia gelatinosa ao abraço definitivo dominante que se aplica ao desprevenido para assim o consumir lentamente em seus recursos específicos para no fim descartar o resto imprestável em alguma viela imunda ou quem sabe, reciclagem para fazer adubo. Política é isso, uma organização com fins lucrativos onde o insumo básico é você eleitor. Repulsivo, não? Mas a maioria escolhe um lado nessa pantomima e o defende com a paixão dos celerados, com a determinação da insânia abrangente, porque migalhas são arremessadas ao chão, e a disputa por esse ato de misericórdia é grande.


Dentro dessa realidade inconcebível, não há espaço para diferenciação. Qualquer um que não tenha o perfil viscoso para o agrado do público, viciado em platitudes não serve, não sobrevive. Em nenhuma hipótese o dependente do açucarado discurso padronizado e coberto de falsidades aceitará algo muito diferente disso, e assim sendo, o futuro vai sendo produzido dentro dos padrões que temos hoje. O que arruína o momento é a sensibilidade, é a tendência de querer ser angelical sem ter a mínima possibilidade disso, o discurso populista e inclusivo se vale muito disso. Desse cacoete de anjo, onde ser “bom” é uma meta a ser perseguida. Seja apenas justo e isso basta. Se aliar a objetivos aparentemente nobres, mas que já se provaram um verdadeiro fracasso no bem estar da coletividade vai lhe aproximar mais do demônio do que dos anjos do céu. Ao se achar e se considerar anjo, a maioria trilha uma rota certa para o inferno. O bem do teu próximo está em você deixá-lo em paz, para que ele prossiga com sua vida e seu destino dentro das suas capacidades e assim aproveite as oportunidades que a vida lhe dará sem interferência de qualquer política castrante de ocasião que venha a ser do seu agrado e atenda aos seus desejos particulares. Porém, todavia o político tem origem no povo, e se a moral da população é quase nenhuma, não poderemos ter bons políticos. Aqui, no país dos espertos, todos querem se dar bem, e qual ambiente mais propício para o sucesso de quem tem mora duvidosa? A política. Presos neste caldo cultural que contém de alucinados pretendendo construir uma carreira de anjos, ao malandro malemolente que quer empregar toda sua família na folha de pagamento do governo, estamos assim submissos e dominados pela desordem total. Onde a favelização é vista como progresso e inclusão social, eu pensava que o objetivo deveria ser aumentar o nível cultural, aumentar a escolaridade e a profissionalização, elevar a qualidade cultural e de vida, e não perpetuar populações carentes presas em ritos tribais sexualizados e animalescos pela eternidade, e vender isso como solução. Deve ser a adaptação do pão e circo. Mantenha o entretenimento de baixa qualidade mas que manipule a libido do rebanho, gaste pouco com o restante e tenha a fidelidade do grupo. E afinal, a favela é o parque de diversões do jovem de classe média, cheio de culpa por ter nascido com posses, e manipulado por socialismo que quer redenção angelical ao supostamente se entregar a causa de proporcionar uma vida melhor a toda aquela gente comprando o produto do principal empresário dessas áreas carentes, o entorpecente. Então, temos o cenário da catástrofe, o jovem bem nascido que irá se tornar um promotor, juiz ou advogado e portanto, com poder de moldar a sociedade, e o pobre; bom , esse no final vira estatística para ser mostrada por estes mesmos jovens futuros líderes e alimentar o futuro do sistema, da máquina de moer carne humana, solução mesmo, nunca vem. Neste cenário desolador, o palco está preparado para o duelo entre os rufiões políticos e seus grupos, semeando desavenças, estimulando ressentimentos e apalpando uma nádega aqui e ali de alguma autoridade conivente e conveniente, se caminha portanto, para o de sempre, ou um ou outro, nada diferente. O velho jogo político eternizado no procedimento.


Um venceu apesar do seu currículo e de suas atitudes passadas, ele tem uma afinidade insuperável com o povo, malandro toda vida, mentiroso, venal, imoral, incorreto, preconceituoso, o cidadão brasileiro em maioria se vê nele, se sente como ele, um trapaceiro nato que chegou no topo da montanha graças a sua astúcia insuperável e sua capacidade de envolver sentimentos com política. Em terra onde a maioria se identifica com malandragem, ele, é o personagem perfeito. Do outro lado temos a antítese supostamente, de tudo isso, alguém que deveria ser certinho, cordial, honesto , abrangente quanto aos bons propósitos, mas se revelou com o tempo não ser nada disso. O bom moço justificou seu desempenho no congresso durante duas décadas, uma nulidade, um deputado de baixo clero, representando interesses de seus antigos companheiros de farda, fazendo um acordo aqui e ali do interesse dessa área. Limitado, foi engolido pela máquina política que nunca teve capacidade de enfrentar. Apenas estimulou ódios e fortaleceu a pauta que dizia combater, se livrou dos melhores que começaram com ele, e se entregou aos velhos políticos de sempre, que o ignoravam como um irrelevante nos tempos de deputado. No fim acossado pelas ocasiões desgastantes que criou, não se recolheu ao raciocínio e adotou uma postura de conciliação. Ele era governo, tinha a máquina do Estado na mão. Prosseguiu incentivando e açodando o povo, e com uma popularidade colossal não agiu, entendo, não poderia. As bases para agir nunca existiram era tudo fanfarronice, mas prosseguiu mesmo assim. Foi humilhado, teve de se fazer de desentendido e pediu cartinha de reconciliação para político influente. Quem age assim já é um nada político, lamento por vocês que o adoram, é a realidade dolorosa. Investiram numa furada, num pangaré. Ruim de negociação, péssimo comerciante de vantagens e oportunidades, hoje se vê acossado pelo poder que fortaleceu. Neste jogo ele é apenas um amador, o adversário deve rir todo dia da cara dele. E assim amedrontado, hoje participa de eventos para mostrar uma popularidade ineficaz, contraproducente, que não gera poder de fato. Aguardando apenas quando, provavelmente, será preso por qualquer deslize irrelevante, apenas por justiçamento político.

Gerson Ferreira Filho.

ADM 20 – 91992 CRA – RJ.


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