quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Um problema entre conceitos.

 

                                                         Image by Chil Vera from Pixabay. 



Um problema entre conceitos.



Assim, em meio as cinzas de uma democracia incinerada na fúria ideológica e da metodologia implementada que se tornou abrangente a ponto de paralisar o pensamento lúcido da sociedade, convivemos no conflito do rescaldo vulgar das ocasiões que se consumiram nesse intervalo de ruína. Não sobrou muita coisa, um destroço de ética aqui, uma honra esturricada e contorcida lá, um pouco de vergonha na cara deformada mais adiante, misturada entre os escombros da estrutura que um dia foi uma sociedade com relativa ordem. Nessa desordem defumada, começam a surgir protótipos de organização, de agrupamentos aleatórios enrijecidos pelo calor do desastre. E claro, se tornam um ambiente propício para o surgimento da intolerância. E na luta pela sobrevivência, uma vez que se encontram em estado frágil de existência, após um período de domínio e poder, o velho sentimento tribal estimulado se faz presente ao atacar qualquer desvio de foco no objetivo traçado, mesmo que este desvio seja apenas um alerta de rumo errado quanto a ação planejada. O tempo da atitude já passou, quando existia representatividade popular e poder, se deu prioridade ao abraço com inimigos, com pessoas de procedência duvidosa quanto a honra e a honestidade. Mas já naquele período o “inteligente” núcleo duro de estratégia desse grupo já hostilizava quem aconselhava por prudência. O desempenho delineou o desastre, e ele se consumou, apesar de todo aviso descartado como palavras de traição. Hoje, todo ponderado que reconhece que o momento já passou, o regime político mudou, garantias da lei não existem mais para todos, mas apenas para alguns que se aliam inteiramente ao corpo da nova política, são chamados de traidores e perseguidos por opinião. O que é um claro sinal de degeneração moral por desespero. Afinal, essa gente que hoje faz isso, até bem pouco tempo defendia a democracia, e na real democracia não se persegue ninguém por opinião. O direito de possuir sua interpretação da realidade e viver por ela é livre e não deve ser tolhida em hipótese nenhuma, então, se lutam por cancelamento e perseguição a quem pensa diferente, não lutam por democracia, e não diferem de quem está comandando o país hoje. A intolerância não é admitida em regime de plena liberdade. Sacrifique-se por uma causa, pelo país, pela honra, pela família, pela democracia, mas nunca por um político, ainda mais quando este político fracassou em cumprir sua missão, acordada em compromissos eleitorais de campanha e de início de governo. Aqueles mesmos compromissos que foram descartados, sabe-se lá por quais motivos. O momento já passou, o pior aconteceu e o que precisamos é de organização e não de propagação de ódio e ressentimentos entre os poucos que ainda pensam neste país. Se o político não teve habilidade de gestão em seu período, que pague por isso, a consequência é a resposta produto da ação, Se existiu coerência e competência não há o que temer, mas como deixou espaço para que o poder fosse alcançado por gente sem princípios, azar o dele e nosso também, que sofremos também com a nova situação. Formamos uma sociedade complexa e diversificada, muitos países dentro de um só, realidades completamente distintas de hábitos, tradições e forma de vida, quem já viajou por este país sabe disso. Unidos por uma única língua, que varia tanto em pronúncia e palavras locais que muitas vezes fica difícil entender o que se fala. Sendo assim, o que soa bem em matéria de discurso para uma região, pode até ser ofensivo em outra, ou no mínimo uma idiotice. Hoje, nas redes sociais, a comunicação ficou mais efetiva, pois letras não têm sotaque, e os termos regionais não são tão presentes na parte social mais culta que frequenta esses ambientes de conversação. Do meu chiado carioca, ao melodioso sotaque sergipano do interior até ao paulista que fala com a boca cheia, e ainda o gaúcho áspero e ritmado.


São tantas realidades que precisam ser atendidas, e não compreender isso pode ser fatal. Não é apenas língua a convivência com o idioma cria vínculos locais e necessidades específicas, tradições são passadas verbalmente, e apesar da massificação da comunicação moderna, características psicológicas subliminares são transportadas por conversação através do tempo. A palavra é vida e a língua portuguesa com suas características melodiosas de estruturação poética proporcionam um peso significativo na construção da realidade e da personalidade regional. O candidato a governar tudo isso tem de entender essa complexidade, tanto regional e social, porque temos também um desnivelamento social absurdo na nossa sociedade, que criam mundos completamente diferentes. Até dentro de cidades existem núcleos sociais tão distintos como se trocássemos um bairro na Dinamarca por outro em Mumbai, ou Colombo em Sri Lanka. Se o candidato apenas discursar e trabalhar pela Dinamarca o restante o derrotará, de qualquer forma. Eu citei aqui em crônicas passadas, muito antes da eleição, estão apenas atendendo uma parte da sociedade, a menor parte. Enquanto isso a esquerda está dentro das comunidades prestando assistência social e conquistando colaboradores fiéis e que irão assim votar e garimpar votos para a causa deles. Em país de predominante pele parda, apenas se vê brancos nas recepções ao ex presidente, antes de ser eleito durante e depois. O que indica para qualquer observador atento e com inteligência relativa, que algo está errado. Me sinto repetitivo, mas eu já escrevi a respeito disso, e não foi apenas uma vez. Existiu um governo que representou apenas uma camada social, e durante o percurso da governança, sempre esteve apenas conectado a essa parcela social. Pobre mesmo, só conhece aeroporto se trabalhar na administração da unidade, pobre de verdade não tem moto para motociata e muito menos tempo para queimar combustível andando atrás de político populista. Pobre quando pode ter uma moto, trabalha com ela fazendo entregas. Claro, os arquitetos do regime que nos governa hoje perceberam tudo isso, a incapacidade intelectual de um governo soberbo por natureza e burro por origem. Colocaram um mestre para gerir a economia e uma parelha de asnos no restante dos ministérios e secretarias. Subestimam a esquerda, mas em toda aquela loucura ideológica existe sim, preparo intelectual, e a estrutura deles já está instalada tem muitos anos em qualquer lugar. Mas o centro estratégico do governo passado se concentrou em culto à personalidade e memes de internet, para parecer moderno. Foram jantados politicamente com farofa. E assim como na época que as coisas já mostravam um descompasso com a boa gestão e agora quando os precavidos tentam avisar de procedimentos errados, é acionada a patrulha pessoal para perseguir quem critica chamando de traição mostrar erros que se evidenciam na condução da realidade. Ou seja, não aprenderam nada! Amadorismo concentrado e falta de respeito com gente que seria importante na condução de situações de risco, a soberba é fatal. Gerido por playboys em sua área de propaganda, marketing e informação, não perceberam o tamanho do que assumiram ao vencer as eleições. Não vou nem me prolongar muito em comentário ao setor militar, porque é um desperdício de argumento perder tempo com essa turma, acomodados, vivendo de vantagens num mundo exclusivo onde se consideram superiores ao paisano comum. Se transformaram em alegoria, muito frágeis em armas e equipamentos, mal treinados em ação de fato, em maioria mal remunerada, não o topo de comando. Este, principalmente no governo passado deitou e rolou em regalias, cargos muito bem remunerados, além do soldo tradicional, influência etc. A decadência cabe apenas a eles. Como imagem positiva, não existem mais.


Na nossa brasilidade cabocla em maioria cantada em prosa e verso como mulato inzoneiro somos uma distribuição complexa de vontades e necessidades. E espertezas ancestrais também, aqui não é um lugar de anjos. Essa característica vem de longe como explica Darcy Ribeiro: “Fala-se muito, também da preguiça brasileira, atribuída tanto ao índio indolente, como ao negro fujão e até as classes dominantes viciosas. Tudo isto é duvidoso demais, frente ao fato do que aqui se fez. E se fez muito, como a construção de toda uma civilização urbana nos séculos de vida colonial, incomparavelmente mais pujante e mais brilhante do que aquilo que se verificou na América do Norte, por exemplo. A questão que se põe é entender por que eles, tão pobres e atrasados, rezando em suas igrejas de tábuas, sem destaque em qualquer área de criatividade cultural, ascenderam plenamente à civilização industrial enquanto nós mergulhávamos no atraso. As causas desse descompasso devem ser buscadas em outras áreas. O ruim aqui, e efetivo fator causal do atraso, é o modo de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde sempre sangrada para servir a desígnios alheios e opostos aos seus. Não há, nunca houve aqui um povo livre, regendo seu destino na busca de sua própria prosperidade. O que houve e o que há é uma massa de trabalhadores explorada, humilhada e ofendida por uma minoria dominante, espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma da ordem social vigente”. Essa elite hoje se travestiu de esquerda e nos governa novamente, vejam, as alianças, estão junto com os mesmos oligarcas de sempre, os mesmos políticos que possuem curral eleitoral e se elegem eternamente para um congresso viciado, sem povo, possui apenas, principalmente em cargo de comando, fazendeiros, usineiros, milionários de famílias tradicionais em manter no cabresto seu povo. Essa elite a qual a esquerda se aliou convenientemente e usufrui de todas as delícias da fortuna, prossegue ditando a miséria que o povo em maioria vive, melhor seria dizer sobrevive. Não se enganem, aqui em Pindorama, a esquerda, principalmente seus líderes e comandantes já jogaram no lixo tem muito tempo a ideologia para abraçar a oligarquia e passar a fazer parte dela. Ser rico é muito bom. A análise de Darcy Ribeiro é precisa em diagnosticar nosso problema, e foi contra tudo isso que o governo passado trombou, ousou ameaçar toda essa estrutura mais do que centenária, ela vem desde o período de colônia. Algo tão poderoso e complexo precisa de alguém muito especial e inteligente para ser demolido, não seria um bando de idiotas vaidosos que conseguiria. Prossigamos então sob o domínio da oligarquia, hoje com alguns proletários incorporados por necessidade e política, afinal de vez em quando no passar do tempo é preciso sujar as mãos de esterco para adequar a rotina dos novos tempos. Não se preocupem com os efeitos da Nova Ordem Mundial, eles, os oligarcas estão completamente comprometidos com as metas estabelecidas, eles não perdem nunca!




Gerson Ferreira Filho

ADM 20 – 91002 CRA – RJ.



Citação: Darcy Ribeiro O povo brasileiro A formação e o sentido do Brasil. Companhia da Letras.


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