quinta-feira, 30 de maio de 2024

Nuances performáticas.

 

                                                          Image by Ralph from Pixabay. 



 Nuances performáticas.



E assim, aqui acomodado nessas reentrâncias do tempo, aguardo a conclusão do meu período de estágio nesse plano controverso, onde a razão já evaporou no calor das inconsequências cotidianas que nos acossam com suas mordidas de contumaz vontade na obstinação que a insanidade lhe proporciona para fazer de mim apenas uma sobra sistematizada do mesmo, e assim dentro do possível, me acomodar na minha decrepitude para apesar de tudo isso causar desconforto no tempo que se sujeita a esse incômodo, de não se livrar de mim, por enquanto. Quase sem conteúdo tangível, mas vívido em essência, prossigo nessas esquinas e cruzamentos existenciais para ser o detalhe que escapou, a anomalia que pretende ser desconfortável para a norma culta atual, que insiste em ser abrangente, mas não possui conteúdo para definir a realidade. Claro, já passei por momentos melhores, mesmo que depauperado de bens, vivi intensamente e prazerosamente vários momentos a mim oferecidos na ocasionalidade gentil do período, não sou ingrato, saboreei as sensações que a circunstância me deu. Fui feliz, me entristeci, amei, me apaixonei, rejeitei e fui rejeitado, fui jogado fora como lixo, mas ainda assim sobrevivi e armazenei todos os gritos que marcaram minha alma em todas as ocorrências, no fim, acumular é o propósito. Dos momentos e madrugadas frias, ao aconchego de um mar aplicado, até ao acesso estranho dos espaços urbanos, delimitados e perfilados como uma cantoneira fria e calculada para estabelecer um abrigo desestimulante para a vida, ainda assim minha alma se ajeitou e dilacerou seus medos para se incluir nessa realidade monocromática de paredes nuas infindáveis e geometricamente perfeitas para aprisionar. Não temo a monotonia, sou extremamente adaptável, percebo o infinito dentro de quatro paredes, onde, se não possuir espaço, arregaço a realidade com afiada imaginação para possuir o agora dentro de mim, no inatingível subconsciente que está além de qualquer limite alcançável por terceiros. A vida pertence a quem se apossa dela, viver como se deseja é um direito inalienável de estar de posse completa de si mesmo e transformar seus particulares sonhos no pavimento do seu caminho. Onde nenhuma usura atrapalhará seus passos, Minhas urgências se adaptaram à vida para garantir sobrevida e no final vencer com a classe do inesperado que se faz de surpresa para um possível destino programado, que foi ludibriado na ultima curva do espaço que não se ateve ao tempo e a característica da oportunidade. Um aviso: não cochile, sou determinado, persuasivo, persistente, se quiser me machucar, saiba, o argumento deve ser perfeito ou escapo em qualquer intervalo proporcionado por alguma coisa como uma pausa fortuita. Está na minha construção; ser controverso, questionador, desconfortável para a regra, um embaraço circunstancial do destino para a rigidez litúrgica das ações. Contudo, no arbítrio das ocasiões que delimitaram todos os meus dias ainda assim crio por instinto a margem intencional de desejos que circundam a ocasião poética de existir para ser útil e apesar de tudo ser lembrança para qualquer desavisado que por acidente tenha compartilhado comigo algum momento de existência. Sim, deixamos vestígios de nós nos outros, queiramos ou não, mesmo em encontros fortuitos, dissimulados em evasivas e de período curto, algo de nós sempre fica, permanece no outro. E se assim procede , também transportamos um tanto dos outros em nós, a nossa construção não padece com a solidão psicológica de um vazio eterno. O contatos, as relações permanecem em nós também, para que assim tenhamos companhia em todos os momentos da jornada, e assim, para que saibamos o que fazer e o que não fazer no que for nos oferecido como oportunidade no trajeto ainda não percorrido. Até porque a saudade também é alimento, energia de momentos distantes, que energiza circunstâncias aleatórias onde a solidão pode de forma oportunista aparecer para tentar provocar uma sensação de falta de objetivo onde na verdade já existe um estoque de sensações guardadas para consumo nos piores momentos. O futuro tem tanto de passado que não existiria sem ele. O hoje se trata da percepção do tempo, aquilo que resulta em construção e planejamento, eu estou aqui, construindo esse texto, que habitará o passado, e talvez, repercutirá no futuro. Interligados estamos todos nós na estrutura, ao passarmos nela passamos para ser passado e na pretensão de alguma forma de ser futuro, para que assim vivamos o trajeto apaixonadamente como se fosse o fim da estória que se construirá como história real de momentos e intervalos, olhares e da fugaz sensação de um coração que se aquece no detalhe de um interesse inesperado de alguém que se tornou indispensável. Aquela coisa, no germinar de um prazer incontido onde a alma flui inesperadamente para a matéria com a brevidade insuportável de um curto momento que deveria ser eterno.



Então, não se trata de apenas momento, mas de eternidade, de impulso primordial, na gestação de uma relação que talvez, e provavelmente não vá se consumar, mas que marcou um momento sublime para se eternizar como lembrança e recordação quando possivelmente nada mais existir de bom para o proveito do espírito. Vejam, trago aqui detalhes particulares, coisas que aconteceram e estão guardadas na profundidade absurda do tempo. Mas ainda assim e apesar de tudo, é capaz de provocar aquele calor. Imagine você, um garoto de nove anos, sem a mínima noção do que seria sexo ou relacionamento, ser olhado por uma menina que lhe chamou a atenção e retribuiu com um encantador sorriso? Fomos cada um para seu lado, acabávamos de sair de uma aula particular de matemática na rua Major Ávila na Tijuca, Este breve e curto momento e a sensação me marcou, não sei se nela teve o mesmo efeito, mas como almas que se identificaram no tempo, eu procuro acreditar que de alguma forma tenha sido marcante para ela também, éramos crianças, mergulhadas nesse plano onde a crueldade é preponderante, mas nessa janela de oportunidade, ao menos para mim se construiu algo inusitado, uma sensação nunca sentida, e que agora, nesse hoje que habito, me diz que ser eterno pode estar contido em apenas um momento, na imprevisibilidade do que é breve, porém, ter tudo dentro de si e não precisar de mais nada para ser o que é. Essas magníficas coisas e suas nuances performáticas que dão razão e motivo para viver.




Gerson Ferreira Filho.

ADM 20 – 91992 CRA – RJ


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