sexta-feira, 11 de outubro de 2024

O mergulho no espelho.

                                                Image by Anselmo Rodrigues from Pixabay.



O mergulho no espelho.



Então, já se sentiu estranho, não fazendo parte dessa realidade? Como numa obra literária e depois transportada e adaptada para o cinema? O que é real? Impulsos elétricos interpretados por nossos neurônios? Se é apenas isso, não precisamos ser biológicos, onde a evidente precariedade e durabilidade do nosso corpo nos restringe a revestimentos com prazos de validade definidos. Vamos abordar as possibilidades materializáveis da ocasião, hoje o primeiro robô doméstico foi colocado à venda, quem puder comprar, terá um companheiro e auxiliar em casa para o cotidiano. Bom amigos, eu sempre fui um tanto fora da caixinha e meu raciocínio sempre extrapolou um pouco o lugar-comum. Comecei a trabalhar muito cedo, ainda criança, e assim que percebi que para um salário melhor precisava qualificar minha mão de obra fui fazer curso técnico, escolhi aquilo que apreciava por natureza, eletrônica. Mas logo descobri que no Brasil, um técnico no mercado de trabalho recebe como salário o mesmo que um trabalhador braçal sem qualificação. O que muda são as condições de trabalho, não exige mais esforço físico, se trabalha acomodado numa bancada. Mas a vida é feita primordialmente por retorno financeiro, do dinheiro se consegue qualidade de vida e portanto, ele é o que interessa. Ciente dessa peculiaridade brasileira, fiz concurso para uma estatal para garantir além de um bom salário que permitisse viver com dignidade, uma carreira profissional para seguir. Uma vez dentro dela, a empresa, procurei aproveitar toda oportunidade que me foi oferecida para mais conhecimento técnico, está na minha natureza mergulho profundo em conhecimento. E assim também adquiri formação em química, eletricidade, mecânica, automação industrial e estabilidade de embarcações. A vida me direcionou para gerenciamento, embora no íntimo desejasse ser engenheiro de eletricidade ou eletrônico, na verdade de mecatrônica. Sempre gostei de desafios que parecem intransponíveis. E assim, mergulhado em responsabilidades me formei em Administração, era necessário. Por que cito tudo isso? É indispensável para não parecer totalmente um leigo falando do que desconhece, vivi essas realidades intensamente e com afinco. Então, entre corpos condutores não condutores e corpos semicondutores e o silício e o germânio fomos parar no transistor. Como está explicitado no livro de Isidro H. Cabrera: “O nome transistor foi indicado pelos laboratórios Bell, já que uma das suas características é a resistência de transferência, expressão essa que em inglês corresponde a transference resistor, ficando assim a sigla transistor. Composto por três elementos com suas ligações para o circuito externo, é considerado um triodo semicondutor”. Esta é a base do que teremos daqui para frente, considere-o como um neurônio de certa forma. De liga, de comutação, de potência, foram miniaturizados ao extremo ao ponto de em algo minúsculo existirem milhões deles, essa é a raiz da inteligência artificial. Claro, existem os amigos que auxiliam no plano funcional, os resistores, os capacitores etc. Todos utilizando eletricidade e se alimentando dela, como nossos neurônios. Esse salto tecnológico possibilitou o que se vê hoje em termos inteligência além de nossa restrita capacidade. E não se enganem, ela vai nos superar em breve em todos os sentidos. A tendência clara deverá ser a absorção, a princípio a integração de nós por ela, e mais para frente a substituição total, a evolução que subliminarmente procuramos, ou este sempre terá sido o objetivo de tudo? Não adianta espernear, lutar contra, se radicalizar na abordagem do passado, é inevitável. Junte essa capacidade cibernética de raciocínio a mecatrônica e temos algo muito similar hoje a um ser humano. Que anda, gesticula, pode realizar tarefas domésticas de forma geral, e ainda bater um papo com você a respeito do seu assunto preferido, como eles estarão em vinte anos? Como as janelas das produções de ficção científica já mostraram, serão indistinguíveis de nós. Já assistiram aquela série de TV Westworld? Então, considere bem plausível. Eu particularmente considero a ficção científica como uma premonição literária. Desde os contos de Júlio Verne até aos mais modernos, não se deve desprezar essas abordagens futuristas, muitas delas se confirmaram através do tempo. Essa nova realidade vai alterar fundamentalmente o que somos e como nos percebemos dentro da estrutura do agora. Não podemos negar que acompanhando toda essa evolução tecnológica existe uma clara degeneração social em curso, onde parte da sociedade se arvora dona do destino dos outros e uma parte insiste em se entregar a corrupção comportamental e de atitudes. Desejar viver apenas por prazer dos sentidos carnais é um processo degenerativo clássico. Querer alterar a realidade para satisfação de caprichos pessoais subvertendo o que é real se trata de desvio grave de conduta psicológica, hoje aceita e imposta por lei.



Estamos, por assim dizer em algo análogo ao dilúvio e aos momentos que o precederam. Desordem e desorganização social intensa e algo sendo preparado para escapar de tudo isso. Diversos fanatismos estão em curso: religiosos, políticos, comportamentais, judiciais, e todos eles colaboram para a desestruturação social. Hoje existe um convencimento de que o errado é certo e deve ser implementado de forma autoritária sobre todo ser vivente, ele querendo ou não. O espelho se tonou fluido, a circunstância procura um parâmetro onde se apegar de forma consistente e não acabar se perdendo no fluxo turbulento da insanidade que hoje se torna preponderante. A sociedade se comporta como se seu circuito cerebral estivesse no fim do prazo de validade, oscilando a frequência e a impedância de carga está sem capacidade de resposta, seus doadores e aceitadores onde se atinge a difusão impura e provocando aquecimento e inoperância do elemento processador. Tudo indica que estamos de forma geral um tanto defeituosos, como um circuito de processamento exaurido nos seus parâmetros e características. Se é assim, o resultado obvio será a clara necessidade de substituição completa de tudo. Claro, a transição gera medo, o momento do parto é doloroso para a mãe e deve ser aflitivo para a criança também, nós só não lembramos desse momento. A lagarta já começa a sentir o enrijecimento da sua pele e procura algo para se pendurar, talvez sejamos algo similar a ela, uma forma grotesca que irá se transformar em algo diferente. E toda a carga emocional da transformação nos invade na ânsia de percorrer esse tempo que parece não ter fim. Eu sou bem intuitivo, e essa abordagem sempre me foi viável, e provavelmente vai se confirmar, até porque nesses sessenta e sete anos de vida, registrando o que acontece e aconteceu, muita coisa se confirmou na minha vida. Eu considero que cada um pode acreditar no que entender como confortável para sua mente, mas sempre tive a nítida impressão que os acontecimentos são pré estabelecidos, nada é aleatório, tudo cumpre um roteiro, e quando esse roteiro acabar, você vai embora. Tudo depende de propósito, quem terá nos oferecido esse significado? Somos o que somos ou apenas um algoritmo sofisticado que vai migrar para outra forma por necessidade evolutiva? Cuidado! A frase de Descartes: “penso logo existo” pode oferecer a convicção conveniente para te enganar. Não percam o sono por causa disso crianças! Aproveitem o que resta ainda dessa realidade.






Gerson Ferreira Filho.



Citação:


O transitor. Isidro H. Cabreira Electra Editora técnica. 1973.

 

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