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Salsicha genérica.
Que fique para registro de uma época, vai parecer até um conto do saudoso Stanislaw Ponte Preta pseudônimo de Sérgio Porto, nossa política hoje virou algo indefinido e de corpo esguio, apenas possível ser consumido porque recebe uma roupa agradável e temperos estimulantes, sem contar a quantidade estratosférica de sódio para que resista ao apodrecimento de uma mistura tão inusitada. O ano é dois mil e vinte e quatro o mês Outubro e o local é o Brasil, primavera nesse quadrante de mundo, o recanto do malandro inzoneiro, brejeiro e versátil, que possui uma flexibilidade moral nata, se ajeita bem em qualquer circunstância. Não há o que não aceite por uma vantagem, afinal, ser esperto está estipulado no seu destino. Aqui sombra, tomba e leva pernada e dão nó em fumaça tranquilamente como uma jurisprudência rompida em algum beco imundo. É pela democracia, dirão. Com esse recato de lupanar prosseguimos na composição do conteúdo ao agrupar os ingredientes da salsicha genérica de mercado popular: item básico e indispensável, falta de vergonha na cara. Some mais um punhado de deslealdade com o próprio país, arrume um punhado de jornalistas venais, não é muito difícil de arrumar, qualquer redação hoje tem, acrescente também uma pasta de militância de aluguel, tenha a essência de um político populista, se tiver mais de um político vigarista serve, aumenta a viscosidade do conteúdo. Eles hoje se disfarçam de conservadores, bom; como Thomas Sowell definiu, conservador é quem conserva alguma coisa, qualquer coisa, então sendo assim nossos políticos são realmente conservadores, conservam o esquema. Conservam a repartição de atitudes deploráveis como um interlúdio entre as estrofes. Acrescente à massa também uma boa quantidade de oportunistas e não esqueça do estrato de influencers ambiciosos e de podcasts pilantras e interesseiros que visam apenas monetização , trafego e visibilidade para gerar dinheiro. Estamos com a pasta base quase pronta, falta apenas um pouco de lágrimas de um político mentiroso e safado, e uma boa dose de regras jurídicas violadas, essa é a parte da nossa justiça, não poderia faltar na nossa salsicha ocasional. Pronto, podem entubar, colocar na tripa de revestimento, ou seja lá o tipo de embalagem preferida, triture tudo e empurre na máquina. Ela vai fazer o que vocês mais gostam, encher linguiça. Com o produto pronto, salsicha ou linguiça sirva para o povo com bom molho e sorria para o otário. Afinal, o brasileiro pede para ser enganado, sabem, tem muito malandro e portanto, muito otário também, um depende do outro. Os malandros hoje vestem conservadorismo de direita, os otários acreditam e o jogo está feito, tudo volta ao normal nesse canto de mundo, os mesmos de sempre continuam se revezando no poder, o povo levando tiro de bandido nas ruas, o preço de tudo disparando, energia elétrica em grandes centros virou uma incerteza, crianças recebendo aulas de sexo, a saúde pública quase não existe e apesar de tudo isso o patrocinador do descalabro se elege no primeiro turno com grande maioria. Eu sei! É difícil de entender essa lógica, Não espere muita coisa de uma população débil em inteligência, a capacidade intelectual aqui não está em bom nível, e isso colabora com o império dos espertos, aqueles que colocam toda a família para viver à custa do Estado, dos impostos pagos pelo povo, e não produzem absolutamente nada de relevante. Portanto, a oligarquia recebe novos membros, se ajeita aqui e ali por manutenção do status quo que já vem desde as Capitanias hereditárias. Prosseguimos no estilo casa grande e senzala. Senhores vivem em seus palácios enquanto o povo sobrevive dentro de limites estoicos e ainda riem de tudo isso, outro efeito de limite cognitivo, rir da própria desgraça. Não há indignação, revolta ou sublevação social. O embotamento é a principal característica de populações onde o coeficiente de inteligência não tem certo nível de normalidade. Essa característica cria o perfil rebanho, muito apropriado para manejo por capatazia de grupos de animais de corte. Não há esperança no inferno disse Dante Alighieri na sua obra literária. Estamos exatamente nesse ponto, dominados subjugados e controlados completamente e nada indica uma melhoria no cenário, ao contrário a perspectiva é piorar mais ainda, pois com a certeza de que nada existe no horizonte que os deterá , foi criado o parque de diversões para o descalabro total. Algo como quem viveu os anos de Nero ou Calígula, simplesmente estar vivo pode ser uma punição.
Quando a reduzida parte de uma sociedade, aquela que ainda pensa procura associação com o erro, aceita uma parceria por sobrevivência momentânea com gente suja, está na verdade pagando uma fatura de cartão de crédito com outro cartão de crédito. Não preciso detalhar que isso dará problema. Valores morais de ética de real civilização e conduta moral são flexionadas para obter “governabilidade” e claro, sempre nessas ocasiões, dinheiro. O tal do procedimento do inferno conhecido como “a politica do possível”. Tem depoimentos públicos na internet revelando o quanto ganham senadores e deputados. É uma festa com o dinheiro público, imagine se alguém que ganhe tanto vai brigar por você? Eu já disse em outras oportunidades, ser político é o melhor emprego do mundo, uma vez dentro, ninguém quer sair nunca mais. E não vai se desgastar defendendo o que é justo e correto. Que se dane a ética, dirão: ela não paga as contas e os boletos. E isso causa o efeito absorção. As pessoas que trafegam no entorno de políticos começam assim a serem cooptados para fazer parte do esquema, afinal, necessidades financeiras todos têm. Aqueles que realmente precisam eu nem recrimino tanto, é uma questão de sobrevivência, mas tem muita gente que não precisaria participar e vai mesmo assim. Afinal, participar da “sociedade” tem suas vantagens. O problema está no futuro. Onde vai parar uma sociedade assim? Que tipo de país restará para nossos filhos e netos? Por isso se faz necessário a uma sociedade sadia conter a corrupção e privilegiar a liberdade e a democracia. Não por nós, mas por aqueles que ainda virão e encontrarão apenas destroços de uma sociedade, ou nem isso. Estas coisas nunca acabarão, são como insetos, baratas, você dedetiza mas elas sempre surgem de volta, mas o controle deve ser feito. Se você não se vermifugar uma vez por ano ao menos, provavelmente terá problemas, o corpo social também precisa de vermifugação periódica. Agora coma sua salsicha genérica recheada de antagonismo e como suas escolhas políticas diga que está gostoso, que nunca comeu tal iguaria, afinal você é versátil e se adapta a qualquer circunstância. Sem nojinho hein? Assuma suas escolhas e boa refeição.
Gerson Ferreira Filho.
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