Na periferia do axioma.
Então amigos, nesse período contraditório da existência, cá estamos para fazer parte dessa realidade que tenta sempre ser e não ser apenas para se tornar a tormenta cognitiva que constrói imagens para que exercitemos a nossa particular iconoclastia contra qualquer artifício. Eu sei, não é fácil, o trajeto tortuoso da nossa realidade foi oferecido como um gigantesco quebra cabeças para ser solucionado. São tantas frentes de combate, e tanta coisa para ser compreendida que as necessidades muitas vezes suplantam os recursos, mas é assim, há necessidade de escalonar, organizar e criar prioridades dentro da confusão de solicitações. Não se deixem ludibriar pelos oximoros do cotidiano, eles são criados justamente para isso, confundir e fragilizar o propósito. Seja furtivo em relação ao paradoxo, o use a seu favor, não se preocupe, o lado de lá não entende muito bem dessas sutilezas da narrativa, são constituídos de brutalidade o que os atrapalha navegar no contexto subliminar da circunstância. É preciso amar para adquirir flexibilidade abrangente a respeito das coisas que nos cercam. Se você não veio a este mundo com esse pacote de benefícios e ou o adquiriu no trajeto, terá dificuldade em se impor e desviar das armadilhas de uma realidade artificial preparada para seu tropeço. Estamos aqui para adquirir abrangência e não para um passeio prazeroso no parque, Teu roteiro vai te conduzir para o que você necessita, gostando ou não. Por mais irrelevante que possa parecer a sua participação o hoje não aconteceria sem você, não se subestime, seu peso específico no tecido foi previamente calculado para alguma reação que está fora da sua compreensão. Uma coisa é certa, apenas seus caprichos não cabem nessa bagagem, e se os tiver, eles serão contrariados. Aquele bucólico dia, ao sentir no rosto o frescor da brisa do mar e a repercussão do ruido das ondas se ajeitando nas pedras da praia calmamente pode ser apenas um evento aleatório da existência humana, que pode se repetir ou não. Hoje, homens que não são da área filosófica e psicológica se emaranharam na relativamente nova descoberta, a física quântica, e nela, a nossa realidade derrete e não faz mais o mínimo sentido. E qualquer possibilidade absurda anteriormente passa a ser plausível. Uma partícula, ou várias podem estar em vários lugares simultaneamente e serem apenas uma, embora sejam múltiplas, se estiverem entrelaçadas quanticamente. Coisas estranhas, que se comportam de um jeito quando você olha, e de outra forma se você não olha, mas no fim, o resultado é o mesmo. Niels Bohr citou: “Através do métodos da mecânica quântica foi possível explicar um enorme volume de dados experimentais sobre as propriedades físicas e químicas das substâncias. Não só a ligação dos elétrons nos átomos e moléculas foi pormenorizadamente esclarecida, como também se obteve um profundo discernimento da constituição e das reações dos núcleos atômicos”. Então, aquilo que você acha que vê e sabe, não é exatamente aquilo que você percebe. Relaxe, nesse universo de átomos dos quais você é constituído existe outras regras ditando sua forma e sua percepção. Notou a periferia do axioma? O que não está exatamente dentro das regras, mas também não está fora? Transportando para a linguística, somos uma metáfora, nós e tudo o que nos cerca. E assim entrando nessa área complexa que se mistura com a filosofia e a psicologia temos a linguagem, o instrumento, a característica que possuímos para exercer o que estamos fazendo agora, comunicação. Irracionais também possuem seus códigos de comunicação rudimentares, afinal, em algum nível têm de interagir com seus semelhantes, mas apenas nós os humanos transformamos esse recurso em arte. A teoria evolucionista nos coloca como descendentes de macacos, ou um ancestral muito semelhante, onde como passar de milênios, uma mutação genética aleatória provavelmente nos ofereceu essa ferramenta de comunicação que de certa forma possui a capacidade de expor nossos pensamentos, criarmos relacionamentos complexos, e com ela demonstrarmos efetivamente nossa capacidade pessoal de inteligência no cenário, pois quanto mais se domina essa ferramenta, mais preponderância se adquire no contexto onde se vive. Nossos textos, nossa música, nossa ciência, literatura, e nenhum outro ser vivente pode como nós criar uma biblioteca com um acervo de conhecimento descomunal como nós. Somos o que sai da nossa boca para registro do tempo, e como acessório indispensável veio a escrita, a possibilidade de registrar o que se fala e o que se pensa para as próximas gerações. E tudo começou com um bater de boca meio sem sentido , mas que na jornada do tempo foi criando significado para sons em relação a objetos e atitudes para nossas facilidades em comunidade.
De posse dessa capacidade ímpar, manipulamos a realidade e dela também tiramos o poder de influência social que nos permite ajustar a vida com o discurso, vendendo nossas propostas para modificar a realidade do grupo onde estamos inseridos. Como citou Noam Chomsky: “A linguagem humana pode ser usada para informar ou enganar, para esclarecer nossos próprios pensamentos ou exibir nossa esperteza ou simplesmente para diversão”. E assim sendo, a utilizamos, para ajustar nossa realidade conforme nossos interesses, e de acordo com a capacidade de domínio do instrumento, mais sucesso poderemos obter, um amplo e diversificado vocabulário se torna muito útil para navegar na realidade que se impõe no cotidiano volátil da nossa existência, e sim, torna-se um parâmetro de avaliar a capacidade intelectual da pessoa com maior volume de recursos nessa área. Assim, temos a linguística, invadindo de certa forma a área da psicologia comportamental e da filosofia, porque ela dita parâmetros inconfundíveis nessas duas áreas fundadamente ligadas ao que é ser um humano funcional. Dificuldades nessa área seriam fatores limitantes de progresso e de acomodação pessoal na base de relacionamento social. Se faz necessário competência e desempenho amplo nessa área e mais uma vez citando o especialista nesse ramo Noam Chomsky: “No nível mais rudimentar de descrição, podemos dizer que uma língua associa som e significado de um modo particular; ter o domínio de uma língua é ser capaz, em princípio, de entender o que é dito e produzir um sinal com uma interpretação semântica desejada. Mas, além de muita obscuridade, há também uma séria ambiguidade nessa caracterização rudimentar do domínio da língua. É bastante óbvio que as sentenças têm um significado intrínseco determinado pela regra linguística e que uma pessoa com domínio de uma certa língua de certa forma interiorizou o sistema de regras que determinando a forma fonética da sentença quanto o seu conteúdo semântico intrínseco – que ela desenvolveu o que chamaremos uma específica competência linguística”. Já devem ter notado que, hoje com as redes sociais e o uso do texto como forma de comunicação rápida, há dificuldade evidente de interpretação do que se escreve. Basta usar um português mais aprimorado e um monte viaja no significado, criando muitas vezes problemas e ofensas por não terem entendido o que se disse. Sem uma boa formação na língua usual do país onde se vive, a possibilidade de interpretar erroneamente o que se diz e o que se lê é enorme, e isso cria um diferencial desabonador para quem se situa nessa faixa de compreensão. Não se enganem, muitos, inclusive com nível superior, estão nesse grupo, o descuido com o aprendizado da língua pode ser fatal no entendimento da realidade, e levar a decisões equivocadas. Presumir que se está em plenitude com o axioma mas na verdade se habita a periferia pode ser fatal quanto ao desempenho profissional e de relacionamento, você não está entrelaçado quanticamente para estar aqui e lá, simultaneamente.
Gerson Ferreira Filho.
Citações:
Física atômica e conhecimento humano. Niels Bohr. Editora Contraponto.
Linguagem e mente. Noam Chomsky. Editora UNESP.
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