terça-feira, 29 de outubro de 2024

Ilusões no atacado e no varejo.

 

                                                             Image by Stefan from Pixabay. 




Ilusões no atacado e no varejo.




E assim cá estamos, no após eleições, dentro desse circuito viciado onde as possibilidades não são confiáveis, mas e ainda assim, a turma se dá ao trabalho de encorpar o procedimento, afinal, uma ilusão sempre amortece o efeito da realidade, gera penumbra, o artifício tem essa finalidade, ser o que não é. E não sendo o que parece possui uma única finalidade moderna, perpetuação do poder do mesmo grupo que se mantém predominante no cenário político. Não existe elite tão versátil no mundo como a nossa, eles nunca perdem. Na minha crônica Um problema entre conceitos, hoje presente no meu livro O murmúrio do tempo, eu coloquei uma citação longa de Darcy Ribeiro a respeito desse nosso problema crônico que perpetua a miséria nesse país. “é o modo de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população” . Este é um pequeno fragmento da citação presente no livro O povo brasileiro. Essa gente, viscosa e de alma pegajosa conduz os seus próprios interesses não se importando nem um pouco com o real interesse do país. Não há pátria, apenas o grupo de interesse e seus negócios, o resto que se dane. Aceitam qualquer tipo de acordo, com qualquer um que lhes ofereça benefícios e manutenção do seu estilo de vida. Hoje se atrelaram ao Fórum Econômico Mundial, que deve regar com recursos extravagantes essa gente para que se mantenham leais, dóceis, submissos e apliquem no povo uma agenda invasiva e redutora de liberdades individuais e desrespeitosas com as tradições locais. Foi essa turma que venceu a atual eleição em praticamente todos os municípios do país. Conservadorismo? Ora, globalistas odeiam essa agenda. Preferem a submissão confortável, para eles, de todos e de tudo. Por falar em Darcy Ribeiro, vou colocar aqui mais um pouco dele, era um especialista em povo brasileiro, sim, de esquerda, porém inteligente. Vamos lá: “Nossa tipologia das classes sociais vê na cúpula dois corpos conflitantes, mas mutuamente complementares. O patronato de empresários, cujo poder vem da riqueza através da exploração econômica; e o patriarcado, cujo mando decorre do desempenho de cargos, tal como o general, o deputado, o bispo, o líder sindical e tantíssimos outros. Naturalmente, cada patrício enriquecido quer ser patrão e cada patrão aspira às glorias de um mandato que lhes dê, além de riqueza, o poder de determinar o destino alheio”. Vejam, aqui em Pindorama, qualquer pé inchado que ocasionalmente alcance relevância e poder sonha em ser um tirano que decide a vida de todo mundo, acho um cenário hoje em aplicação, não? Eu sei! Você teve aquela sensação de déjà vu desconfortável por reparar que estamos agora nessa situação. Gente assim não hesita em aproveitar a oportunidade de se tornar um Napoleão. Bom, vamos prosseguir com Darcy Ribeiro, mesmo que esse texto fique longo, se faz necessário para entender onde estamos enfiados: “Abaixo dessa cúpula ficam as classes intermediárias, feitas de pequenos oficiais, profissionais liberais, policiais, professores, o baixo clero e similares. Todos eles propensos a prestar homenagem às classes dominantes, procurando tirar disso alguma vantagem”. Ah essa tal vantagem, tão sedutora nessas terras, aqui um benefício compra sem dificuldades muita gente, e isso faz muita diferença na trajetória de desenvolvimento social. Vamos a mais informação: "Seguem-se as classes subalternas, formadas por um bolsão da aristocracia operária, que tem empregos estáveis , sobretudo os trabalhadores especializados, e por outro bolsão que é formado por pequenos proprietários, arrendatários, gerentes de grandes propriedades rurais etc.”. Esse nicho social se constitui de funcionários públicos e de estatais majoritariamente, os subalternos que pensam pertencer a uma elite, mas são o que são, subordinados do sistema. São as engrenagens da máquina, e sua importância não vai além disso embora possuam uma arrogância peculiar de quem emite flatos coloridos e perfumados. Normalmente se aliam ao sindicalismo mais troglodita de esquerda pois imaginam ser proletários, proletários com uma caminhonete Hilux cabine dupla ou similar na garagem, muitos deles. Algo está completamente disfuncional nessa turma. Então vamos prosseguir com Darcy Ribeiro: “Abaixo desses bolsões, formando a linha mais ampla do losango das classes sociais brasileiras, fica a grande massa das classes oprimidas. Dos chamados marginais, principalmente negros e mulatos, moradores de favelas e periferias das cidade. São os enxadeiros, os boias frias, os empregados na limpeza, as empregadas domésticas, as pequenas prostitutas, quase todos analfabetos e incapazes de organizar-se para reivindicar”. Aqui está majoritariamente o povo, não se enganem com avenidas cheias de automóveis, cidades com muitos prédios sofisticados, essa realidade fica oculta, não aparece, mas está presente sempre. A grande maioria vive em penúria para manter a boa vida de uma elite que já usa um discurso socializante de igualdade com a consistência vagabunda de quem a criou, só se trata de discurso.



Ação real? Zero! Ou estaríamos numa condição social maravilhosa hoje, uma vez que gente alinhada com essa doutrina, o socialismo, aparelhou todos os órgãos públicos e universidades. Deveríamos ser um paraíso na terra, mas as evidências geradas em outros países que adotam essa ideologia testemunha a respeito do fracasso administrativo que criam. Nossos socialistas de araque se amasiaram com a oligarquia para participar do banquete. Essa união imoral de sicários ideológicos com a fina flor da oligarquia de Pindorama faria um canibal Tupinambá se sentir envergonhado. Vamos a mais um pouco de Darcy Ribeiro: “Essa estrutura de classes engloba e organiza todo o povo, operando como um sistema autoperpetuado da ordem social vigente. Seu comando natural são as classes dominantes. Seus setores mais dinâmicos São as classes intermédias. Seu núcleo mais combativo, as classes subalternas. E seu componente majoritário são as classes oprimidas, só capazes de explosões catárticas ou de expressão indireta de sua revolta. Geralmente estão resignadas com seu destino, apesar da miserabilidade em que vivem e por sua incapacidade de organizar-se e enfrentar os donos do poder”. Bom aqui está o panorama desse povo brasileiro, onde pouquíssimos vivem como reis, com sua proteção realizada por seus representantes políticos no congresso e no judiciário. Para que a estrutura seja preservada eternamente para seus descendentes e famílias. Foi necessário mostrar para vocês mais um pouco de quem entendia muito bem de nossas origens, nossa particular maldição, e o motivo de permanecermos esquecidos num canto de mundo apenas produzindo insumos básicos e não tecnologia de ponta. Somos apenas um porto seguro para o mundo comprar seu sustento à custa da nossa escravidão, e onde os senhores do engenho se perpetuam na sua vida de nababos dos novos tempos. Não há a mínima preocupação com o conjunto país e sim com particularidades familiares que possam ser atendidas por toda fortuna amealhada pelo grupo. E não se enganem, a elite política de esquerda já se agregou a esse grupo tem tempo, hoje, todos bailam agarradinhos rindo e fazendo pouco-caso do povo. A fortuna é um a delicia companheiros!




Gerson Ferreira Filho.



Citação:


O povo brasileiro. Darcy Ribeiro. A formação e o sentido do Brasil. Companhia das Letras Editora.



A maioria dessas crônicas estão em áudio no meu canal do Telegram. Que se chama também Entretanto e pode ser acessado no link abaixo. Uma abordagem mais personalizada do texto na voz do autor.

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